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RETRATO DO BRASIL
Estudo do Bird mostra que país foi da 2ª para a 10ª posição, a melhor colocação em duas décadas e meia
Brasil melhora em ranking da desigualdade
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de ocupar o posto de vice-líder mundial em desigualdade
social, o Brasil aparece em décimo
lugar na lista dos países com
maior concentração de renda citada em estudo do Bird (Banco
Mundial). Embora não seja exatamente um motivo de comemorações, é a melhor classificação em
pelo menos duas décadas e meia.
"Ascensão e Queda da Desigualdade Brasileira" é o título do
trabalho, publicado neste mês para tratar da evolução da concentração de renda no país desde os
anos 80. Sua conclusão é: "Embora ainda muito alta pelos padrões
internacionais, a desigualdade
brasileira não é imutável".
O estudo aponta que a concentração da renda nacional cresceu
até chegar a seu ponto máximo
em 1989, no ensaio de hiperinflação do final do governo José Sarney (1985-1990). Depois de um
período de oscilação, segundo o
Bird, vem caindo de forma quase
contínua desde 1993, assim como
os níveis de pobreza.
A desigualdade é medida pelo
índice de Gini, que varia entre
dois extremos hipotéticos: de zero, uma situação em que todos os
habitantes teriam a mesma renda,
a 1, o que significaria toda a renda
do país com uma única pessoa.
De 1981 a 1989, o índice de Gini
brasileiro subiu de 0,574 a 0,625,
deixando o país praticamente empatado com a então campeã mundial da desigualdade -Serra Leoa
e seu 0,629.
Em 2004, depois de 11 anos em
tendência de queda, o índice chegou a 0,564, atrás de nove países,
segundo os dados mais recentes à
disposição do Bird. Nessa relação
só há países africanos e latino-americanos, e apenas a África do
Sul tem uma economia razoavelmente desenvolvida.
O próprio trabalho faz ressalvas
ao ranking e aponta as dificuldades de comparação entre as economias: metodologias e anos de
coleta dos dados variam de país
para país -Serra Leoa, por exemplo, está fora da lista pela ausência
de estatísticas recentes.
Mas a melhora da colocação
brasileira ajuda a mostrar, como
argumenta o texto, que a "desigualdade [do país] tem sido menos estável do que às vezes se diz".
Trata-se de uma referência, explicitada em nota de rodapé, a trabalhos como "A Estabilidade Inaceitável: Desigualdade e Pobreza no
Brasil", dos pesquisadores Ricardo Paes de Barros, Rosane Mendonça e Ricardo Henriques -este, um dos idealizadores do programa Bolsa-Família.
Causas e méritos
Mais complicado é estabelecer
as causas da queda da desigualdade e da pobreza, cujos méritos são
disputados pelo governo Luiz
Inácio Lula da Silva e seus antecessores tucanos da gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), com os habituais exageros
dos embates políticos.
A partir dos dados disponíveis,
avalia-se que é razoável admitir a
influência do controle da inflação
pelo Plano Real, principal marca
dos anos FHC, e dos programas
oficiais de transferência de renda,
ampliados pelos petistas.
Conforme a Folha noticiou anteontem, dados indicam que o
mercado de trabalho respondeu
por cerca de três quartos da melhoria, enquanto os programas de
transferência de renda fizeram o
restante do trabalho.
O documento do Bird aponta
quatro outras hipóteses para estudo: a menor desigualdade de rendimentos entre pessoas de diferentes escolaridades; entre áreas
rurais e urbanas; entre diferentes
raças; e maior foco das políticas
sociais nos mais pobres.
A primeira possibilidade recebeu mais atenção, uma vez que,
segundo o estudo, as disparidades
entre os grupos mais e menos escolarizados explicam pelo menos
um terço da concentração de renda no país. Aponta-se que, de
1993 a 2004, caiu a vantagem dos
mais escolarizados no mercado
de trabalho. E, sem concluir, o
texto pergunta se isso caracteriza
um sucesso -maior oferta de trabalhadores qualificados- ou um
fracasso -a demanda insuficiente por inovação tecnológica.
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