São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2006

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DIPLOMACIA

Imprensa anuncia visita do presidente com elogios

Jornais britânicos destacam "volta por cima" de Lula após "mensalão"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Que informação instantânea, que nada: só agora parece ter chegado ao Reino Unido ou, ao menos, a seus principais jornais a notícia de que "the boy from Brazil is back", como "The Independent" anuncia a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, que começa oficialmente hoje.
O "menino do Brasil está de volta" porque, segundo o jornal britânico, "sobreviveu a um escândalo de corrupção e a circunstâncias econômicas austeras para surfar alto nas pesquisas".
"The Independent", no noticiário e em editorial, derrama-se em elogios ao presidente, tônica geral também em outras publicações.
"The Times" também dedica editorial a Lula, com todos os elogios que um jornal de direita faz a presidentes supostamente de esquerda mas que adotam políticas de rígida ortodoxia conservadora.
Como é óbvio, o jornal faz todas as críticas a presidentes de esquerda (no caso, Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia) que continuam de esquerda, tal como se deveria esperar nos regimes democráticos: quem ganha faz a política que prometeu, não o inverso.
Para o "Financial Times", Lula desfruta de uma "reviravolta de sua sorte", após o "mensalão", que sugere "intervenção divina".

Potência
As pesquisas que trouxeram de volta o "boy from Brazil" são pré-Carnaval. Pouco depois delas saiu a notícia do anêmico crescimento econômico, mas os jornais britânicos ainda estão tratando o Brasil como futura potência mundial.
"The Independent" acredita no jogo de búzios da Goldman Sachs, que criou a sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) para designar os países que serão potências mundiais lá por 2050.
Já "The Guardian" prefere apostar em outra pajelança, a da PricewaterhouseCoopers, que retoma o tema do Bric. Pena que o gráfico que acompanha o texto não mostra exatamente que o "Brazil", assim como Lula, "is back".
Ao contrário: mostra que o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA, tomando-o como 100 em 2005, continuará 100 em 2050. O do Brasil, ao contrário, passa dos 13 de hoje para o dobro (25) em 2050. Beleza pura? Não, porque o da Índia sobe de 30 para 100 no mesmo período, e o da China explode de 76 para 143, passando a ser o maior do mundo.
O cálculo leva em conta a chamada Paridade do Poder de Compra, ou seja, a riqueza local adaptada para os preços locais.
"The Times" também chega com atraso em seu editorial à realidade latino-americana. Com defasagem de 20 anos, elogia o fato de a região ter deixado de ser "a região de generais autocráticos".
Pena que quando um deles, Ernesto Geisel, esteve em Londres, 30 anos atrás, recebeu exatamente o mesmo tratamento que receberá a partir de hoje "o Senhor da Silva", como Lula é tratado por "The Times".
Páginas adiante do editorial, o jornal chama Lula, no título, de "lame duck" (pato manco, expressão do jargão político anglo-saxão para designar políticos já no ocaso ou sem poder). Só no texto se fica sabendo que Lula "parecia um pato manco por meses", mas agora "seu famoso bom humor está de novo em forma".


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