|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OUTRO LADO
`Não temos
como coibir'
do enviado especial
Jairo Reis, 53, diretor-superintendente da Ebesa,
afirma que a empresa não
tem como coibir o trabalho
infantil no garimpo do Bom
Futuro.
``A Ebesa não tem poder
de polícia aqui dentro. São
as famílias que exploram as
crianças'', diz.
Segundo ele, não há
crianças na área explorada
pela Ebesa. A empresa lavra
20% da área; o restante fica
com os garimpeiros.
Na prática, não dá para
saber onde termina a área
controlada pela Ebesa e começa a dos garimpeiros.
Segundo Reis, a Ebesa não
compra minério das crianças, mas só de garimpeiros
adultos. Mas a empresa,
diz, não tem como evitar
que adultos comprem cassiterita das crianças e a revenda para a empresa.
``Acredito que a produção infantil é contrabandeada para fora do garimpo'', afirma.
Reis diz que a Ebesa nunca cogitou em criar um contrato com as cooperativas
proibindo que elas comprem minérios de crianças.
As montadoras de automóveis no Brasil têm uma
cláusula social nos contratos com seus fornecedores
proibindo o trabalho infantil em qualquer elo da cadeia produtiva.
É assim que elas esperam
acabar com o trabalho de
crianças em carvoarias.
``A condição do garimpo
aqui é sub-humana. Uma
vez fui conversar com uma
família para ver se as crianças paravam de trabalhar.
Mas o pai era aleijado, tinha
lepra. O homem me disse:
`Quem vai sustentar minha
família?' É deprimente.''
Segundo Reis, a empresa
investe na área social sustentando uma escola, um
posto de saúde e cuidando
das estradas da região.
Gastou com isso R$ 200
mil em 1996 -o equivalente a 0,66% do faturamento
bruto de R$ 30 milhões da
empresa.
José Pierre Matias, 42, gerente da Ebesa, diz que ``o
caos social que se estabelece
com o garimpo é óbvio'',
mas não dá para acabar
com esse tipo de atividade
simplesmente. ``Poderia
haver um caos ainda maior.
Bom Futuro precisa de um
programa social amplo.''
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|