São Paulo, segunda, 7 de abril de 1997.

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OUTRO LADO
`Não temos como coibir'

do enviado especial

Jairo Reis, 53, diretor-superintendente da Ebesa, afirma que a empresa não tem como coibir o trabalho infantil no garimpo do Bom Futuro.
``A Ebesa não tem poder de polícia aqui dentro. São as famílias que exploram as crianças'', diz.
Segundo ele, não há crianças na área explorada pela Ebesa. A empresa lavra 20% da área; o restante fica com os garimpeiros.
Na prática, não dá para saber onde termina a área controlada pela Ebesa e começa a dos garimpeiros.
Segundo Reis, a Ebesa não compra minério das crianças, mas só de garimpeiros adultos. Mas a empresa, diz, não tem como evitar que adultos comprem cassiterita das crianças e a revenda para a empresa.
``Acredito que a produção infantil é contrabandeada para fora do garimpo'', afirma.
Reis diz que a Ebesa nunca cogitou em criar um contrato com as cooperativas proibindo que elas comprem minérios de crianças.
As montadoras de automóveis no Brasil têm uma cláusula social nos contratos com seus fornecedores proibindo o trabalho infantil em qualquer elo da cadeia produtiva.
É assim que elas esperam acabar com o trabalho de crianças em carvoarias.
``A condição do garimpo aqui é sub-humana. Uma vez fui conversar com uma família para ver se as crianças paravam de trabalhar. Mas o pai era aleijado, tinha lepra. O homem me disse: `Quem vai sustentar minha família?' É deprimente.''
Segundo Reis, a empresa investe na área social sustentando uma escola, um posto de saúde e cuidando das estradas da região.
Gastou com isso R$ 200 mil em 1996 -o equivalente a 0,66% do faturamento bruto de R$ 30 milhões da empresa.
José Pierre Matias, 42, gerente da Ebesa, diz que ``o caos social que se estabelece com o garimpo é óbvio'', mas não dá para acabar com esse tipo de atividade simplesmente. ``Poderia haver um caos ainda maior. Bom Futuro precisa de um programa social amplo.''

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