CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Com uma bancada de apenas 10% do total de deputados estaduais (7 de 70), a nova governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), assumiu o cargo ontem, na Assembléia Legislativa, fazendo um apelo à governabilidade.
"Queremos somar, cada vez mais somar, diante desse compromisso, que não cabe apenas ao PT. Se falamos de governabilidade, é porque estamos falando da pluralidade", disse em discurso após ler o termo formal de posse.
O presidente da Assembléia, Sérgio Cabral Filho (PMDB), permitiu que Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT e pré-candidato do partido à Presidência, falasse na solenidade. Lula destacou a condição de mulher e negra de Benedita e aconselhou que ela se mirasse no ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, que chegou ao poder após 27 anos de prisão, para manter a serenidade e governar.
A posse de Benedita, primeira mulher negra a assumir um governo estadual no país, também contou com a presença de outras lideranças petistas, como o presidente do partido, deputado federal José Dirceu (SP), e a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.
A participação da militância foi discreta. Palmas e uns poucos vivas de lideranças receberam Benedita quando ela chegou, às 10h30, ao Palácio Tiradentes, sede do legislativo do Estado do Rio. Um jornalista perguntou à prefeita Marta Suplicy: "Cadê o PT?". A resposta foi apenas: "Eu vim".
A discrição da chegada de Benedita à Assembléia contrastou com a ruidosa manifestação que saudou na noite de sexta-feira a chegada ao mesmo local do então governador Anthony Garotinho (PSB). Ele entregou sua carta de renúncia para concorrer à Presidência e preferiu não fazer a passagem do cargo a Benedita, com quem rompeu em 2000.
José Dirceu disse acreditar que as divergências entre o PT e o PSB no Rio não vão impedir que os dois partidos estejam juntos num eventual segundo turno da eleição presidencial. "Nós vamos disputar o segundo turno juntos e vamos governar o país juntos."
Dentro da Assembléia, os petistas, reforçados por cerca de 60 militantes do MTU (Movimento dos Trabalhadores Urbanos), lotaram as acanhadas galerias.
O prefeito do Rio, o pefelista Cesar Maia, afirmou que irá se reunir na segunda-feira com Benedita e que, no encontro, ela "tomará a iniciativa" de aproximar o PT ao PFL, partido que poderia apoiar seu governo. Maia descartou, porém, uma aliança regional entre os dois partidos.

Jejum
Após deixar a Assembléia, Benedita foi ao Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, empossar seus secretários. Lá, ela fez novo discurso, que encerrou cantando, sozinha, um hino religioso. A governadora propôs que a população do Estado do Rio fizesse um "jejum pela paz".
Ao ser questionada se pretendia que fosse fixado um dia específico para o jejum, ela respondeu que não. Benedita sugeriu que cada pessoa fizesse o jejum da maneira que fosse mais conveniente.
Benedita se reuniu ontem com o novo secretário da Segurança, Roberto Aguiar. Após o encontro, ele disse que irá ocupar morros do Rio em casos de violência exagerada, mas essas ações devem ser acompanhadas por programas sociais. O novo chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disse que faria à noite uma operação policial em bairros da cidade com alta criminalidade, como Tijuca e Rio Comprido (zona norte).

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