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RETÓRICA OFICIAL
Presidente cita carnavalesco e diz "que intelectual gosta de miséria"
Lula ataca FHC e admite que pode não cumprir promessas
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO
JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A CRUZEIRO DO SUL (AC)
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva fez ontem, em Rio Branco e
depois em Cruzeiro do Sul (AC),
um discurso recheado de ataques
indiretos ao governo Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) e
a outros antecessores. Admitiu
também que pode não conseguir
cumprir todas as promessas feitas
na campanha eleitoral.
"Eu me lembro dos comícios
que fiz em Xapuri [AC], no tempo
em que a gente não tinha nem ilusão de que chegaria à Presidência
da República. E eu sou capaz de
ter cada palavra guardada na minha cabeça e de dizer que nós vamos cumprir todas elas. E aquelas
que não cumprirmos não será por
falta de vontade, mas por falta de
tempo ou por falta de recursos para fazermos aquilo que a gente
precisa", disse, durante a inauguração de um hospital do idoso.
Ontem, Lula disse, entre outras
coisas, que: pegou o país com
uma "dívida praticamente impagável"; seus antecessores formam
um grupo que governa o Brasil
"há 500 anos"; no primeiro ano de
sua gestão o governo "comeu o
pão que o diabo amassou" e existem pessoas no Senado, "preocupadas com as eleições", que votam para prejudicar o Planalto.
Mesmo assim, contradizendo-se, disse que só olha para a frente.
"Todo mundo sabe que tomamos
a decisão de não ficar falando dos
governos anteriores."
Lula disse que no Brasil existe a
"mania" de se inaugurar obras
não finalizadas, principalmente
em ano eleitoral. E citou Joãosinho Trinta, no que pode ser entendido como uma crítica a Fernando Henrique: "Eu aprendi
com Joãosinho Trinta: quem gosta de miséria é intelectual. O povo
gosta é de coisa boa, o povo gosta
de ser bem tratado".
Mais tarde, em inauguração do
porto da cidade, na margem do
rio Juruá, em Cruzeiro do Sul, a
cerca de 600 km de Rio Branco,
ele aproveitou o discurso para fazer uma promessa: a conclusão da
BR-364, que une essas duas cidades, as principais do Estado.
"Seria leviano de minha parte
dizer que, ao fazer, vou terminar e
inaugurar. Vocês sabem que durante oito anos as estradas brasileiras foram abandonadas", disse
Lula, referindo-se aos dois mandatos de Fernando Henrique.
Últimos 30 anos
No discurso que proferiu em
Rio Branco, Lula fez referências às
críticas que têm recebido da oposição: "Só queria lembrar uma
coisa: tem gente que governou este país nos últimos 30 anos, e a
grande maioria está no poder ainda (...) E agora cobram de nós como se pudéssemos fazer, em 500
dias, o que eles não fizeram em
500 anos. Não dá".
Afirmou, em seguida, que sua
eleição não ocorreu à toa. "Nós só
ganhamos porque o povo brasileiro falou: "espera aí". Essa gente
governa o Brasil desde que [Pedro
Álvares] Cabral chegou aqui."
Para citar a possibilidade de
crescimento do país, afirmou: "O
ano passado foi um ano em que
nós comemos o pão que o diabo
amassou, plantando, tirando as
ervas daninhas que estavam espalhadas pela nossa lavoura. Deixamos o roçado pronto, plantamos
e neste ano começamos a colher".
Também criticou os governadores que não divulgam as obras
federais em seus Estados, acolhendo, segundo ele, os investimentos da União como se fossem
oriundos dos cofres de suas administrações. "Ninguém quer fazer
propaganda, o que queremos é
que a informação seja dada corretamente para o povo saber quem
está fazendo as coisas neste país. É
uma questão de honestidade."
No momento em que busca
desvencilhar o governo do caso
Waldomiro Diniz, que gerou a
pior crise política de sua gestão,
disse que quanto maior o número
de "dificuldades" mais ele gosta.
Lula relatou ainda as "dificuldades" para aprovar matérias de interesse do governo no Senado.
"Tem gente que pensa: "Por que
votar nas coisas que o governo
manda para cá, se isso vai favorecer o governo?" Para ele, alguns
senadores só estão preocupados
com as "próximas eleições".
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