São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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Aliados acham que mínimo não vai ser dobrado

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Líderes do governo na Câmara dos Deputados praticamente descartaram a possibilidade de o Palácio do Planalto cumprir a promessa de campanha de dobrar o valor real do salário mínimo nos quatro anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Neste ritmo, não se vislumbra a possibilidade de dobrar o valor real do salário mínimo em quatro anos, como o presidente gostaria de fazer", afirmou o deputado Arlindo Chinaglia (SP), líder da bancada do PT. "Em que pese o aumento real que será dado, que levará a uma maior distribuição de renda, não consigo vislumbrar [o aumento real até 2006]."
O novo líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), que assumiu ontem a função, se contradisse sobre o tema durante o dia. À tarde, na Câmara, afirmou que havia a possibilidade de o aumento do salário mínimo ser retroativo ao dia 1º deste mês. Depois de desmentido do Ministério do Planejamento, voltou atrás e disse que o novo mínimo valerá a partir de 1º de maio.
Até o ministro do Planejamento, Guido Mantega, deu uma entrevista para desmentir o que dissera Luizinho. "Não se pensa em fazer nenhum reajuste retroativo, e o governo não tem definição sobre o salário mínimo", afirmou.

Mais confusão
Luizinho, nas primeiras conversas sobre o tema, também tentou sustentar a tese de que Lula nunca prometeu o aumento real (descontada a inflação) de 100%, dizendo que a promessa era dobrar o valor nominal, ou seja, sem descontar a inflação nos quatro anos.
"O "real" aí é por sua conta. De onde você tirou isso, quando o presidente falou em dobrar o valor real do mínimo? É aumento nominal", afirmou o líder do governo, acrescentando que mesmo o aumento nominal de 100% não está garantido. "Vamos esperar, estamos tentando", disse.
No seu pronunciamento à nação na ocasião dos cem dias de governo, o presidente Lula repetiu aquilo que consta em seu programa de governo: "Quero repetir a vocês o que disse durante toda a campanha: até o final do meu governo, vamos dobrar o poder de compra do salário mínimo", afirmou o presidente à época.
À noite, Luizinho retificou mais uma vez o que disse, assumindo o compromisso pelo aumento real, mas adotou um parâmetro em dólar ao afirmar que a promessa será cumprida. "Recebemos o governo com o mínimo em US$ 56, podemos chegar a US$ 112." Na cotação de fechamento de ontem, este valor representaria R$ 322.
Cálculos hoje que circulam no Congresso dão conta de que o mínimo deveria ser -mantidas as atuais perspectivas de inflação- superior a R$ 520, em 2006, para que a promessa fosse cumprida.
Lula assumiu com um salário mínimo de R$ 200. Em abril de 2003, houve um aumento real (descontada a inflação) de menos de 2%, passando o valor do mínimo de R$ 200 para R$ 240.
Na proposta de orçamento enviada pelo Executivo ao Congresso em agosto do ano passado há a previsão de um aumento para R$ 259, sem ganho real, ou seja, só haveria a reposição da inflação prevista entre abril de 2003 e abril de 2004, que era de 7,92%.


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