São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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CAMPO MINADO

Rodrigues vê recentes ações de sem-terra como uma ameaça à propriedade privada; Rossetto evita críticas

Governo bate cabeça sobre invasão de terra

DA REPORTAGEM LOCAL
DO ENVIADO A RIO BRANCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANUEL URBANO (AC)

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, criticou ontem, em evento em São Paulo, a onda de invasões a propriedades rurais por integrantes de movimentos de sem-terra, afirmando que as ações representam ameaça ao direito à propriedade privada. Já seu colega Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) disse acreditar que as invasões "devem ser acompanhadas num ambiente de normalidade democrática".
As invasões, realizadas por movimentos, entre eles, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), começaram em março e devem seguir até o dia 17, data em que 19 trabalhadores rurais foram mortos em 1996 em confronto com a Polícia Militar em Eldorado do Carajás (PA).
A ameaça à propriedade seria, disse Rodrigues, um dos três gargalos que atrapalham a agricultura. Os outros seriam a abertura de novos mercados e estradas.
"Isso preocupa os agricultores profissionais", disse Rodrigues, que chegou a usar os termos "azucrinar" e "infernizar", em alusão ao coordenador do MST João Pedro Stedile, que afirmou na semana passada que o movimento iria "infernizar" o governo, mas depois recuou e alegou que a palavra "azucrinar" seria mais correta.
"Os agricultores já são azucrinados por questões de portos, armazenagem, estradas. E não há mais razão para ações diferentes que perturbem o setor. Lula tem clareza de que o Brasil precisa fazer a reforma agrária dentro do império da lei. Não podemos aceitar passivamente que o agricultor seja infernizado", disse Rodrigues.
Rossetto, porém, evitou críticas duras às invasões. "Estamos trabalhando em ritmo acelerado, portanto as manifestações [invasões e marchas] devem ser acompanhadas num ambiente de normalidade democrática, o direito à manifestação e às opiniões", disse, enquanto acompanhava Luiz Inácio Lula da Silva no Acre. Segundo ele, toda a ação dos sem-terra que "ultrapassar o limite democrático", sem especificar se isso já teria ocorrido nas últimas semanas, ficará a cargo das "leis".
Lula defendeu ontem, durante visita a Manuel Urbano (AC), o assentamento de famílias sem terra na Amazônia Legal (Estados do Norte, além de Mato Grosso e Maranhão), prática utilizada pelo governo Fernando Henrique Cardoso e criticada pelo PT por causa da falta de infra-estrutura.
Mas, segundo Lula, não será um reforma agrária como "aquela dos anos 70, que jogava pobres no mato para disputar espaço com onça e malária. Tampouco o modelo dos anos 90, cheio de números gordos e resultados muito magros". Disse que "será um programa de assentamento florestal que valoriza as potencialidades regionais e cria bases de um futuro sustentável" na região.
O governador do Acre, Jorge Viana (PT), defendeu a política de reforma agrária do governo e criticou indiretamente Stedile. "Não tem sentido, a não ser por oportunismo, pode ser da esquerda ou da direita, forçar a reforma agrária. Não tem o que acelerar, está saindo como tem que ser feita."


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