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CAMPO MINADO
Rodrigues vê recentes ações de sem-terra como uma ameaça à propriedade privada; Rossetto evita críticas
Governo bate cabeça sobre invasão de terra
DA REPORTAGEM LOCAL
DO ENVIADO A RIO BRANCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANUEL URBANO (AC)
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, criticou ontem,
em evento em São Paulo, a onda
de invasões a propriedades rurais
por integrantes de movimentos
de sem-terra, afirmando que as
ações representam ameaça ao direito à propriedade privada. Já
seu colega Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) disse
acreditar que as invasões "devem
ser acompanhadas num ambiente de normalidade democrática".
As invasões, realizadas por movimentos, entre eles, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), começaram em
março e devem seguir até o dia 17,
data em que 19 trabalhadores rurais foram mortos em 1996 em
confronto com a Polícia Militar
em Eldorado do Carajás (PA).
A ameaça à propriedade seria,
disse Rodrigues, um dos três gargalos que atrapalham a agricultura. Os outros seriam a abertura de
novos mercados e estradas.
"Isso preocupa os agricultores
profissionais", disse Rodrigues,
que chegou a usar os termos "azucrinar" e "infernizar", em alusão
ao coordenador do MST João Pedro Stedile, que afirmou na semana passada que o movimento iria
"infernizar" o governo, mas depois recuou e alegou que a palavra
"azucrinar" seria mais correta.
"Os agricultores já são azucrinados por questões de portos, armazenagem, estradas. E não há mais
razão para ações diferentes que
perturbem o setor. Lula tem clareza de que o Brasil precisa fazer a
reforma agrária dentro do império da lei. Não podemos aceitar
passivamente que o agricultor seja infernizado", disse Rodrigues.
Rossetto, porém, evitou críticas
duras às invasões. "Estamos trabalhando em ritmo acelerado,
portanto as manifestações [invasões e marchas] devem ser acompanhadas num ambiente de normalidade democrática, o direito à
manifestação e às opiniões", disse, enquanto acompanhava Luiz
Inácio Lula da Silva no Acre. Segundo ele, toda a ação dos sem-terra que "ultrapassar o limite democrático", sem especificar se isso já teria ocorrido nas últimas semanas, ficará a cargo das "leis".
Lula defendeu ontem, durante
visita a Manuel Urbano (AC), o
assentamento de famílias sem terra na Amazônia Legal (Estados do
Norte, além de Mato Grosso e
Maranhão), prática utilizada pelo
governo Fernando Henrique Cardoso e criticada pelo PT por causa
da falta de infra-estrutura.
Mas, segundo Lula, não será um
reforma agrária como "aquela
dos anos 70, que jogava pobres no
mato para disputar espaço com
onça e malária. Tampouco o modelo dos anos 90, cheio de números gordos e resultados muito
magros". Disse que "será um programa de assentamento florestal
que valoriza as potencialidades
regionais e cria bases de um futuro sustentável" na região.
O governador do Acre, Jorge
Viana (PT), defendeu a política de
reforma agrária do governo e criticou indiretamente Stedile. "Não
tem sentido, a não ser por oportunismo, pode ser da esquerda ou
da direita, forçar a reforma agrária. Não tem o que acelerar, está
saindo como tem que ser feita."
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