São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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Lula prepara reação contra o desgaste de sua autoridade

KENNEDY ALENCAR
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Preocupado com o desgaste de sua autoridade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara uma reação em resposta às invasões do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), à greve da Polícia Federal que já dura quase um mês e aos recentes protestos de militares por reajuste.
Lula vai cobrar os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), que lhe diziam até anteontem que as tradicionais invasões de abril do MST estavam razoavelmente sob controle. Vai ameaçar cortar o ponto dos agentes da PF que estão em greve desde o dia 9 de março. E já iniciou negociações com os militares para evitar que a insatisfação cresça numa área vista como delicada.
A Folha apurou que Lula reagiu ontem com muita contrariedade ao saber da invasão de uma fazenda de empresa multinacional Veracel Celulose anteontem, na Bahia. Em maio do ano passado, a direção da empresa esteve com o presidente para anunciar um investimento de US$ 1,25 bilhão. Esse é um dos maiores investimentos em execução no país.
Produtiva, a fazenda, que emprega na sede 2.000 pessoas, teve quatro hectares de eucaliptos derrubados por integrantes do MST. A auxiliares, Lula desabafou, declarando-se "preocupado" com a repercussão da invasão.
De acordo com o jornal britânico "Financial Times", o presidente da Veracel, Vitor Costa, afirmou que a invasão "era um sinal muito ruim pra investidores" e que "o governo não poderia perder o controle dessa maneira".
Na semana passada, o coordenador nacional do MST João Pedro Stedile afirmou que os sem-terra iriam "infernizar" durante o mês de abril. Dulci e Rossetto, encarregados por Lula de negociar com o movimento, entraram em campo. Depois, Stedile acabou recuando em seu discurso.
Até anteontem, os dois ministros traçavam para o presidente um cenário róseo, no qual a radicalização do MST em abril seria mais retórica do que prática. Não é o que tem acontecido, e Lula está insatisfeito com Dulci e Rossetto. Até ontem, havia cerca de 40 invasões de terra em todo o país.
Evitando fazer comentário específico sobre a invasão da fazenda na Bahia, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que, em "um Estado de Direito, ninguém pode transgredir as barreiras da lei". Afirmou ainda que "a Polícia Federal não está brincando e que tem trabalhado no monitoramento de inteligência sobre invasões de terra".
A Folha apurou que o governo está preocupado com a junção de péssimas notícias em abril na seqüência de dois meses de desgaste provocado pelo surgimento do caso Waldomiro Diniz. Teme que o recrudescimento das invasões do MST, a longa greve da PF e as recentes manifestações militares criem um caldo de cultura que propicie o questionamento da autoridade do governo.
É nesse contexto que o Ministério do Planejamento já estuda cortar o ponto dos grevistas da Polícia Federal, algo que não fez no mês passado. Essa preocupação também explica negociações de bastidores entre o ministro da Defesa, José Viegas, e a área econômica para tentar dar aos militares um reajuste salarial melhor do que o que se pretende conceder aos servidores civis.

PF
A cúpula da Polícia Federal avalia que a greve dos agentes federais prejudica o monitoramento de inteligência sobre a questão agrária, embora não haja, até o momento, registro de choque entre ruralistas e sem-terra.
Por enquanto, o maior estrago político foi a invasão da fazenda da multinacional Veracel. A cúpula da PF, que acompanha a questão agrária a pedido do governo, ainda não pediu reforço de pessoal para o monitoramento dos movimentos sociais.
A Polícia Federal monitora permanentemente a ação de grupos como o MST e a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura).


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