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Lula prepara reação
contra o desgaste
de sua autoridade
KENNEDY ALENCAR
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Preocupado com o desgaste de
sua autoridade, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva prepara uma
reação em resposta às invasões do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), à greve
da Polícia Federal que já dura
quase um mês e aos recentes protestos de militares por reajuste.
Lula vai cobrar os ministros
Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento
Agrário), que lhe diziam até anteontem que as tradicionais invasões de abril do MST estavam razoavelmente sob controle. Vai
ameaçar cortar o ponto dos agentes da PF que estão em greve desde o dia 9 de março. E já iniciou
negociações com os militares para
evitar que a insatisfação cresça
numa área vista como delicada.
A Folha apurou que Lula reagiu
ontem com muita contrariedade
ao saber da invasão de uma fazenda de empresa multinacional Veracel Celulose anteontem, na Bahia. Em maio do ano passado, a
direção da empresa esteve com o
presidente para anunciar um investimento de US$ 1,25 bilhão. Esse é um dos maiores investimentos em execução no país.
Produtiva, a fazenda, que emprega na sede 2.000 pessoas, teve
quatro hectares de eucaliptos derrubados por integrantes do MST.
A auxiliares, Lula desabafou, declarando-se "preocupado" com a
repercussão da invasão.
De acordo com o jornal britânico "Financial Times", o presidente da Veracel, Vitor Costa, afirmou que a invasão "era um sinal
muito ruim pra investidores" e
que "o governo não poderia perder o controle dessa maneira".
Na semana passada, o coordenador nacional do MST João Pedro Stedile afirmou que os sem-terra iriam "infernizar" durante o
mês de abril. Dulci e Rossetto, encarregados por Lula de negociar
com o movimento, entraram em
campo. Depois, Stedile acabou recuando em seu discurso.
Até anteontem, os dois ministros traçavam para o presidente
um cenário róseo, no qual a radicalização do MST em abril seria
mais retórica do que prática. Não
é o que tem acontecido, e Lula está
insatisfeito com Dulci e Rossetto.
Até ontem, havia cerca de 40 invasões de terra em todo o país.
Evitando fazer comentário específico sobre a invasão da fazenda na Bahia, o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, disse que,
em "um Estado de Direito, ninguém pode transgredir as barreiras da lei". Afirmou ainda que "a
Polícia Federal não está brincando e que tem trabalhado no monitoramento de inteligência sobre
invasões de terra".
A Folha apurou que o governo
está preocupado com a junção de
péssimas notícias em abril na seqüência de dois meses de desgaste
provocado pelo surgimento do
caso Waldomiro Diniz. Teme que
o recrudescimento das invasões
do MST, a longa greve da PF e as
recentes manifestações militares
criem um caldo de cultura que
propicie o questionamento da autoridade do governo.
É nesse contexto que o Ministério do Planejamento já estuda
cortar o ponto dos grevistas da
Polícia Federal, algo que não fez
no mês passado. Essa preocupação também explica negociações
de bastidores entre o ministro da
Defesa, José Viegas, e a área econômica para tentar dar aos militares um reajuste salarial melhor do
que o que se pretende conceder
aos servidores civis.
PF
A cúpula da Polícia Federal avalia que a greve dos agentes federais prejudica o monitoramento
de inteligência sobre a questão
agrária, embora não haja, até o
momento, registro de choque entre ruralistas e sem-terra.
Por enquanto, o maior estrago
político foi a invasão da fazenda
da multinacional Veracel. A cúpula da PF, que acompanha a
questão agrária a pedido do governo, ainda não pediu reforço de
pessoal para o monitoramento
dos movimentos sociais.
A Polícia Federal monitora permanentemente a ação de grupos
como o MST e a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura).
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