São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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CAMPO MINADO

Para dono da Veracel Celulose, ação de Lula tem de ser "enérgica"

Para empresa, invasão pode criar "dúvida" em investidor

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O presidente da Veracel Celulose, Vítor Manoel da Costa, 56, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa tomar uma "ação enérgica" para acabar com as invasões de propriedades particulares, por parte do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"O presidente precisa agir com rigor e rapidez, sob pena de criar dúvida e preocupação para investidores estrangeiros que estão dispostos a fazer alguma coisa no Brasil", disse o empresário.
Anteontem, cerca de 2.500 agricultores do MST invadiram parte de uma fazenda da Veracel, uma das maiores empresas de celulose do país. Nas últimas 24 horas, os sem-terra ampliaram a invasão.
"Eles já ocupam 25 hectares. Para uma empresa que tem 95 mil hectares, a área invadida não significa muita coisa. No entanto, somos produtivos, não vamos aceitar a ação do MST."
Ontem, a Justiça de Porto Seguro (705 km ao sul de Salvador), cidade onde está localizada a fazenda invadida, determinou a imediata saída dos sem-terra da área.
Segundo Costa, 3.000 famílias (cerca de 12 mil pessoas) de agricultores já estão dentro da fazenda da Veracel. "Além de agir com rigor, o presidente Lula precisa criar condições para evitar a proliferação de problemas sociais no Brasil. Eu respeito a ação e a origem do MST. Afinal, o desemprego, a pobreza e a modernização da agricultura eliminaram milhares e milhares de postos de trabalho em todo o país", disse.
De acordo com Costa, os sem-terra e a Veracel sempre tiveram uma "boa convivência". "Eles montaram um acampamento muito próximo à empresa, eles pegavam água em nossas fazendas." Para o executivo, a invasão foi "uma grande jogada de marketing do MST".

Investimento
Maior empreendimento privado lançado durante o governo Lula, a Veracel Celulose está investindo US$ 1,25 bilhão na construção de uma fábrica em Eunápolis, extremo sul da Bahia.
Em plena capacidade de operação, o que deve ocorrer em maio do próximo ano, a fábrica vai processar cerca de 900 mil toneladas por ano de celulose. A empresa anunciou também que o empreendimento deverá gerar 3.000 empregos diretos.
Ontem à tarde, o principal líder do MST baiano, Walmir Assunção, disse que as invasões de terra vão continuar em todo o Estado nos próximos dias.
"Não existe mais a possibilidade de recuo. O que queremos é terra para trabalhar", afirmou o líder do movimento.


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