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BC SOB PRESSÃO
Procurador investiga se houve remessa ilegal de recursos e sonegação
Fonteles pede ao STF quebra
do sigilo fiscal de Meirelles
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, pediu ao
STF (Supremo Tribunal Federal)
a quebra do sigilo fiscal do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a partir de 1996, e a
cópia de processos existentes no
BC e na Receita Federal contra ele
e suas empresas.
Ao solicitar anteontem a abertura de inquérito criminal para
investigá-lo, Fonteles listou oito
"diligências" que a Polícia Federal
deverá cumprir no prazo inicial
de 60 dias. O documento só foi divulgado ontem.
O objetivo é esclarecer se Mei-
relles fez remessa ilegal de dinheiro para o exterior, que é um tipo
de crime contra o sistema financeiro, e praticou sonegação fiscal,
por meio de empresas que seriam
controladas por ele.
Normalmente, o STF acolhe as
sugestões do procurador-geral
nesse tipo de situação. Nesse caso,
antes de apreciar o parecer de
Fonteles, o relator do inquérito,
ministro Marco Aurélio de Mello,
poderá esperar o plenário do STF
decidir se o presidente do BC tem
direito ou não ao foro privilegiado
nesse tribunal. Marco Aurélio não
disse o que fará.
Estão para ser julgadas duas
ações diretas de inconstitucionalidade, do PFL e do PSDB, contra a
medida provisória, hoje convertida em lei, que deu status de ministro a Meirelles e, com isso, lhe assegurou o direito de só ser investigado, processado e julgado pelo
STF, livrando-o de responder a
processos na primeira instância.
A medida é de agosto de 2004,
quando surgiram as primeiras
suspeitas contra o presidente do
BC. As ações de inconstitucionalidade seriam julgadas na última
quinta-feira, mas foram retiradas
de pauta na véspera. O inquérito
só correrá no STF se elas forem
negadas. Caso contrário, a apuração ficará sob a responsabilidade
de procuradores e juízes de primeira instância.
Parecer
No parecer, de duas páginas,
Fonteles não fala em indícios de
crime, apenas diz que são "relevantes as considerações" feitas
pelo procurador da República no
Distrito Federal Lauro Pinto Cardoso Neto em relatório sobre as
atividades de Meirelles.
Ontem, Fonteles não quis dar
detalhes sobre o teor desse documento. Entretanto, afirmou estar
convencido de que Meirelles é o
proprietário das nove empresas
que serão alvo da investigação.
"Na minha ótica, todas são dele."
O procurador-geral antecipou
que quer identificar a origem de
cerca de R$ 1,37 bilhão remetido
para o exterior pela Boston Comercial e Participações, uma das
empresas supostamente controladas por Meirelles, por meio do
Banco de Boston, instituição que
ele próprio presidira.
Essa identificação depende de o
STF requisitar do BC cópia de
processo instaurado pela instituição sobre essas remessas.
Essa empresa também é alvo de
um processo aberto pela Delegacia da Receita Federal no Paraná
por não-recolhimento de Imposto de Renda de operações financeiras. Fonteles pediu cópia completa desse processo, já apreciado
pelo 1º Conselho de Contribuintes. "Quero conhecer as nuances
dos votos", disse ontem.
Outra questão a ser esclarecida
no inquérito é a legalidade das
operações de compra e venda de
dólar feitas a partir de 1996 por
Meirelles e pelas nove empresas
que seriam controladas por ele.
Por isso Fonteles pretende obter
cópia de todos os contratos de
câmbio dos últimos nove anos.
Ele também pediu ao STF que
requisite à Receita "pesquisa
completa" no CPF de Meirelles e
em CNPJs de suas empresas.
Fonteles quer ainda cópia da auditoria fiscal contra Meirelles e as
empresas ligadas a ele e do processo do BC contra três dessas
empresas: as offshore Silvania
One, Silvania Two e Silvania Empreendimentos e Participações.
Se Meirelles continuar com o foro privilegiado no STF, caberá ao
procurador-geral decidir se pede
ou não abertura de processo após
o fim do inquérito. Isso acontecerá se Fonteles -ou seu sucessor- se convencer de que os indícios de crime se confirmaram.
Ele também examinará a suspeita de crime eleitoral, relacionada a declaração falsa de domicílio
em Goiânia para concorrer a deputado federal, em 2002.
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