São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2005

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JANIO DE FREITAS

Caso supremo

O inquérito contra o presidente do Banco Central, proposto ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, é um teste com múltiplas direções e significações, que vão muito além de aquilatar a legalidade de atos pessoais de Henrique Meirelles em relação à Receita Federal, quando ainda presidente do BankBoston, e na Justiça Eleitoral, quando candidato a deputado.
Como preliminar, a reputação do procurador-geral Claudio Fonteles por seus esmeros criteriosos, sobretudo se envolvida a honra alheia, faz admitir que foram encontradas razões fortes de suspeita em documentos relativos a Henrique Meirelles -dos quais pelo menos uma parte está na revista "Carta Capital" e alguns foram há tempos noticiados também na Folha.
Dois testes vão, portanto, anteceder o do presidente do BC. O primeiro é o do Supremo Tribunal Federal, que vem deixando, desde o governo passado, crescente impressão de que injunções políticas, senão pessoais, contribuem para certas decisões do agrado governamental. Não é preciso especular sobre o que Lula, nesse caso, deseja do Supremo. Já está criada, então, a expectativa quanto ao material apresentado pela Procuradoria da República e quanto à apreciação, convincente ou não, que dele façam os ministros julgadores.
Simultâneo ou quase, há o teste do governo, já metido em um embananamento variado como poucos. Para ficar só nos problemas de assuntos éticos/legais, o caso do novo ministro Romero Jucá não promete tranqüilidade ao governo tão cedo, dada a diversidade de linhas complicadoras nas atividades privadas e públicas do hoje condutor da Previdência. Com esse caso o governo já não sabe o que fazer, assim como Lula não quis saber o que ou a quem estava nomeando na sua reforma ministerial de um só ministro novo. Se ao caso Jucá junta-se um incipiente caso Meirelles, mesmo que lá adiante se dissolva em inocentação, o Lula já perplexo e o governo já zonzo vão entrar em parafuso, seja lá o que isso então signifique.
E há ainda o teste de Henrique Meirelles, caso o inquérito se desenvolva. O atingido será o todo-poderoso do governo, o possuidor de carta-branca, o detentor de autonomia em relação até ao presidente da República, o avalizado pelo FMI e pelo governo Bush, o homem que decide quanto emagrece cada real suado pelo nosso trabalho e quanto crescem os bilhões recordistas dos lucros bancários. Um eventual caso Meirelles poria em xeque até acordos pretensamente secretos, feitos antes da eleição e outros antes da posse.
Aguardemos os magistrados do Supremo.


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