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JANIO DE FREITAS
Caso supremo
O inquérito contra o presidente do Banco Central,
proposto ao Supremo Tribunal
Federal pelo procurador-geral
da República, é um teste com
múltiplas direções e significações, que vão muito além de
aquilatar a legalidade de atos
pessoais de Henrique Meirelles
em relação à Receita Federal,
quando ainda presidente do
BankBoston, e na Justiça
Eleitoral, quando candidato a
deputado.
Como preliminar, a reputação
do procurador-geral Claudio
Fonteles por seus esmeros criteriosos, sobretudo se envolvida a
honra alheia, faz admitir que foram encontradas razões fortes
de suspeita em documentos relativos a Henrique Meirelles
-dos quais pelo menos uma
parte está na revista "Carta Capital" e alguns foram há tempos
noticiados também na Folha.
Dois testes vão, portanto, anteceder o do presidente do BC. O
primeiro é o do Supremo Tribunal Federal, que vem deixando,
desde o governo passado, crescente impressão de que injunções políticas, senão pessoais,
contribuem para certas decisões
do agrado governamental. Não
é preciso especular sobre o que
Lula, nesse caso, deseja do Supremo. Já está criada, então, a
expectativa quanto ao material
apresentado pela Procuradoria
da República e quanto à apreciação, convincente ou não, que
dele façam os ministros
julgadores.
Simultâneo ou quase, há o teste do governo, já metido em um
embananamento variado como
poucos. Para ficar só nos problemas de assuntos éticos/legais, o
caso do novo ministro Romero
Jucá não promete tranqüilidade
ao governo tão cedo, dada a diversidade de linhas complicadoras nas atividades privadas e
públicas do hoje condutor da
Previdência. Com esse caso o governo já não sabe o que fazer,
assim como Lula não quis saber
o que ou a quem estava nomeando na sua reforma ministerial de um só ministro novo. Se
ao caso Jucá junta-se um incipiente caso Meirelles, mesmo
que lá adiante se dissolva em
inocentação, o Lula já perplexo
e o governo já zonzo vão entrar
em parafuso, seja lá o que isso
então signifique.
E há ainda o teste de Henrique
Meirelles, caso o inquérito se desenvolva. O atingido será o todo-poderoso do governo, o possuidor de carta-branca, o detentor
de autonomia em relação até ao
presidente da República, o avalizado pelo FMI e pelo governo
Bush, o homem que decide
quanto emagrece cada real suado pelo nosso trabalho e quanto
crescem os bilhões recordistas
dos lucros bancários. Um eventual caso Meirelles poria em xeque até acordos pretensamente
secretos, feitos antes da eleição e
outros antes da posse.
Aguardemos os magistrados
do Supremo.
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