São Paulo, quarta, 7 de maio de 1997.



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No começo, CSN queria se associar à Votorantim

da enviada especial ao Rio

O comandante do Consórcio Brasil, Benjamin Steinbruch, entrou na briga pela Vale para ganhar. O empresário não aceitou entrar apenas para criar a impressão de concorrência.
Sugestão nesse sentido teria sido feita pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), quando percebeu a disposição do empresário de participar.
"Não entraria se não fosse para valer", disse à Folha Steinbruch. E foi com esse apetite que, ontem, saiu de São Paulo pouco depois das 6h, rumo ao banco FonteCindam, no centro da cidade.
Steinbruch estava a postos desde as 7h, aguardando o momento de fazer suas ofertas pela estatal.
"Minha aposta é na importância estratégica que a Vale tem para a nova etapa do desenvolvimento industrial do país no próximo século", disse Steinbruch.
Mas até chegar à posição de dar os lances pela estatal, Steinbruch amargou cinco semanas de correria para fechar seu consórcio.
Rasteira
Até o final de fevereiro, Steinbruch achava que compraria a Vale não com o Consórcio Brasil, mas junto com o empresário Antonio Ermírio de Moraes.
Steinbruch acompanhava as negociações à distância a pedido do filho de Ermírio, Carlos, que é seu amigo de infância, que fazia a ponte entre os dois empresários.
O combinado era que o grupo Votorantim, de Ermírio, e a CSN, cujo Conselho de Administração é presidido por Steinbruch, comandariam o consórcio e dividiriam o controle da Vale privatizada.
Mas a proposta de Ermírio não foi a que Steinbruch esperava. A multinacional sul-africana de mineração Anglo American seria a principal parceira do Votorantim no Consórcio Valecom.
À CSN ficaria reservada uma participação minoritária.
Steinbruch saiu. A amigos, classificou o episódio de "uma rasteira de Antonio Ermírio".
O BNDES teria incentivado, então, que o empresário participasse do leilão com um consórcio próprio, ainda que não fosse para ganhar. O duelo dissiparia a impressão de que a Vale estaria sendo "entregue" a um só grupo.
O comandante da CSN resolveu buscar parceiros com fôlego para fazer frente aos pesos-pesados Votorantim e Anglo American. Foi para os EUA, e começou a negociar em um jantar com o presidente do Nations Bank um empréstimo bilionário.
O Nations é o quarto maior banco de varejo dos EUA. Paralelamente, começou a negociar com os maiores fundos de pensão de empresas estatais do país -os únicos com dinheiro suficiente para encarar a parada.
Antes que a Previ (fundo do Banco do Brasil) confirmasse sua participação, o Nations ofereceu à CSN um financiamento de R$ 1,2 bilhão. Steinbruch aceitou.
Fundos
Dias depois, respirou um pouco mais aliviado. Ouvia de Jair Bilachi, presidente da Previ, que seu fundo estava pronto a formar um consórcio com a CSN.
A Previ -o maior fundo de pensão brasileiro- tem R$ 20 bilhões de patrimônio e R$ 5 bilhões em caixa. Outros fundos de peso seguiram a decisão da Previ: Petros (da Petrobrás), Funcef (da Caixa Econômica Federal), Fundação Cesp (das Centrais Elétricas de São Paulo), Fapes (do BNDES) e Sistel (do sistema Telebrás).
Especialistas em investimentos também se ouriçaram. O banco Opportunity, do economista Daniel Dantas, formou o Sweet River Fund (Fundo Rio Doce) para atrair cotistas no exterior.
O Nations Bank, que está chegando no Brasil agora, também criou um fundo de ações. Coincidência ou não, batizou o grupo de Sweet River Investiment.
Reação
Ermírio não gostou quando viu os principais fundos junto a Steinbruch no Consórcio Brasil.
O comandante da Votorantim teria ido ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que por sua vez teria pedido ao BNDES para intervir em nome de uma participação estatal mais equilibrada.
O BNDES, então, reuniu os dois empresários e informou que os fundos não poderiam participar com mais de 15% do capital.
Steinbruch reclamou e conseguiu fazer o percentual subir para 25%. Mas perdeu dois grandes fundos para o rival: Centrus (do Banco Central) e Sistel migraram para o grupo de Ermírio.
Enquanto o leilão foi sendo adiado, Steinbruch negociou adesões e ajustou detalhes da formação do seu consórcio.
Para Ermírio, o consórcio de Steinbruch era desorganizado, com gente saindo e entrando na última hora.
Steinbruch afirma que sua proposta era menos centralizadora do que a de Ermírio.
(SQ)



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