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BINGO DA DISCÓRDIA
Para ministro, projeto que proíbe caça-níqueis mostra arrependimento de oposicionistas por terem barrado MP
Em mea-culpa, oposição age contra jogo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Menos de 24 horas após derrubar no Senado a medida provisória que proibia o funcionamento
de bingos e caça-níqueis no país, a
oposição apresentou ontem projeto de lei proibindo a exploração
de jogos em máquinas eletrônicas
e pela internet. Loterias e bingos
de cartela ficam autorizados, desde que sejam regulamentados.
O gesto foi considerado por governistas como uma espécie de
mea-culpa. Líderes do PFL e do
PSDB admitiram "insatisfação" e
até "frustração" com a derrubada
da MP, mas responsabilizaram o
governo. Na véspera da derrota, o
ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) vetou acordo que estava em curso entre oposição e
governistas para alterar o texto da
MP, garantindo a aprovação. Em
conseqüência, os senadores não a
consideraram "urgente e relevante", o que levou ao arquivamento.
As mudanças que estavam sendo negociadas eram a liberação
dos bingos de cartela e a concessão de salvaguardas para as loterias estaduais, conteúdo semelhante ao do projeto da oposição.
Aldo assumiu a responsabilidade
pelo veto ao acordo. "Não aceitei
porque a oposição queria mutilar
a medida provisória, separando
coisas que a gente não admitia."
Para ele, a apresentação do projeto da oposição demonstra arrependimento por ter barrado a
MP. O ministro acha que a questão dos bingos seria resolvida
com a medida provisória. "A responsabilidade do PSDB e do PFL
pela decisão é intransferível."
O líder do PFL no Senado, José
Agripino (RN), disse que houve
má vontade do governo. "Percebi
nos líderes da base vontade de negociar. Mas faltou chão [abertura
para a negociação] no Planalto.
Ficou clara a má vontade do governo. Por isso, perdeu. Não ficamos satisfeitos com o resultado."
"Estamos frustrados. Queríamos era colocar o governo no pelourinho, levar a discussão do mérito até a madrugada, para explorar o caso Waldomiro. Se tivesse
acordo, iríamos votar e tentar
convencer alguns senadores a
mudar de voto. Mas, ao vetar o
acordo, o governo não nos deu
chance de recuar", afirmou o líder
do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Aldo reafirmou que o governo
estuda "todas as medidas de caráter legal, sem nenhuma exceção",
para proibir os bingos no país.
Da tribuna, a líder do PT, Ideli
Salvatti (SC), fez um desabafo sobre as dificuldades do governo no
Senado. Queixou-se das brigas no
PMDB pela presidência da Casa,
dos aliados do PL que se ausentaram e da divisão da base. Chegou
a atribuir as críticas que recebeu
ao preconceito por ser mulher.
Apesar das tentativas de governo e oposição apontarem responsáveis pela derrubada da MP, a
decisão ocorreu por causa de uma
"conjugação de fatores", segundo
senadores ligados ao Planalto.
Alguns governistas admitiram
ter votado contra por insatisfação
com o tratamento político dado
pelo Planalto. O governo também
subestimou a oposição, apesar
dos alertas feitos à líder do PT.
Além disso, a base no Senado é
frágil, do ponto de vista numérico, e com problemas nos partidos
que a integram, como no PMDB.
Mato Grosso do Sul
O governador de Mato Grosso
do Sul, José Orcírio Miranda dos
Santos, o Zeca do PT, anunciou
ontem que enviará à Assembléia
um projeto para regulamentar
bingos no Estado, caso o governo
federal proíba novamente o jogo
no país.
(RAQUEL ULHÔA, WILSON SILVEIRA e GABRIELA ATHIAS)
Com a Agência Folha, em Campo Grande
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