São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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BINGO DA DISCÓRDIA

Para ministro, projeto que proíbe caça-níqueis mostra arrependimento de oposicionistas por terem barrado MP

Em mea-culpa, oposição age contra jogo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de 24 horas após derrubar no Senado a medida provisória que proibia o funcionamento de bingos e caça-níqueis no país, a oposição apresentou ontem projeto de lei proibindo a exploração de jogos em máquinas eletrônicas e pela internet. Loterias e bingos de cartela ficam autorizados, desde que sejam regulamentados.
O gesto foi considerado por governistas como uma espécie de mea-culpa. Líderes do PFL e do PSDB admitiram "insatisfação" e até "frustração" com a derrubada da MP, mas responsabilizaram o governo. Na véspera da derrota, o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) vetou acordo que estava em curso entre oposição e governistas para alterar o texto da MP, garantindo a aprovação. Em conseqüência, os senadores não a consideraram "urgente e relevante", o que levou ao arquivamento.
As mudanças que estavam sendo negociadas eram a liberação dos bingos de cartela e a concessão de salvaguardas para as loterias estaduais, conteúdo semelhante ao do projeto da oposição. Aldo assumiu a responsabilidade pelo veto ao acordo. "Não aceitei porque a oposição queria mutilar a medida provisória, separando coisas que a gente não admitia."
Para ele, a apresentação do projeto da oposição demonstra arrependimento por ter barrado a MP. O ministro acha que a questão dos bingos seria resolvida com a medida provisória. "A responsabilidade do PSDB e do PFL pela decisão é intransferível."
O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), disse que houve má vontade do governo. "Percebi nos líderes da base vontade de negociar. Mas faltou chão [abertura para a negociação] no Planalto. Ficou clara a má vontade do governo. Por isso, perdeu. Não ficamos satisfeitos com o resultado."
"Estamos frustrados. Queríamos era colocar o governo no pelourinho, levar a discussão do mérito até a madrugada, para explorar o caso Waldomiro. Se tivesse acordo, iríamos votar e tentar convencer alguns senadores a mudar de voto. Mas, ao vetar o acordo, o governo não nos deu chance de recuar", afirmou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Aldo reafirmou que o governo estuda "todas as medidas de caráter legal, sem nenhuma exceção", para proibir os bingos no país.
Da tribuna, a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), fez um desabafo sobre as dificuldades do governo no Senado. Queixou-se das brigas no PMDB pela presidência da Casa, dos aliados do PL que se ausentaram e da divisão da base. Chegou a atribuir as críticas que recebeu ao preconceito por ser mulher.
Apesar das tentativas de governo e oposição apontarem responsáveis pela derrubada da MP, a decisão ocorreu por causa de uma "conjugação de fatores", segundo senadores ligados ao Planalto.
Alguns governistas admitiram ter votado contra por insatisfação com o tratamento político dado pelo Planalto. O governo também subestimou a oposição, apesar dos alertas feitos à líder do PT.
Além disso, a base no Senado é frágil, do ponto de vista numérico, e com problemas nos partidos que a integram, como no PMDB.

Mato Grosso do Sul
O governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, anunciou ontem que enviará à Assembléia um projeto para regulamentar bingos no Estado, caso o governo federal proíba novamente o jogo no país. (RAQUEL ULHÔA, WILSON SILVEIRA e GABRIELA ATHIAS)


Com a Agência Folha, em Campo Grande

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