São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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RACHA NA BASE

João Paulo havia dito que Lula era a favor

Presidente afirma que reeleição no Congresso não é assunto do governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em reunião com os presidentes de partidos da base aliada do governo, que não vai se intrometer na tramitação do projeto que permite a reeleição dos presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
"Não é problema nosso. Já chega os problemas que tenho, não sou nem sim, nem não. É assunto das bancadas e do Congresso. O governo não vai se intrometer", afirmou Lula, segundo relato de presidentes de partidos, depois da reunião. O ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) disse a mesma coisa no Planalto.
"Quem falou que me apóia foi o presidente", reagiu João Paulo, que no fim de semana havia afirmado que Lula dissera a ele que gostaria da continuidade nas presidências de Senado e Câmara.
"Não estamos discutindo nomes, a discussão é sobre o instituto da reeleição. Não estou brigando para ser o próximo presidente, é que eu acho justo isso [a reeleição]", afirmou João Paulo.
Segundo presentes ao encontro, Lula procurou deixar bem claro que não tomará posição na questão da emenda que permite a reeleição nas Mesas do Congresso.
A afirmação do presidente é boa para o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que cobrou a isenção do Planalto, e ruim para Sarney e João Paulo.
Os dois trabalham nos bastidores para aprovar a emenda. João Paulo acredita que tem maioria para aprovar o projeto na Câmara, apesar de Renan ter conseguido uma decisão da Executiva do PMDB contrária à emenda.

Cálculos
Se a emenda for aprovada na Câmara, Sarney acha que tem condições de aprová-la no Senado, embora Renan seja francamente majoritário na bancada do PMDB. Nos cálculos de Sarney, ao menos sete dos 23 peemedebistas já o apoiariam. Ele trabalha ainda pela adesão de PSDB e PFL.
Sarney conta, no Senado, com uma rede de apoios que transcende o PMDB. Mas vai precisar de 49 votos para assegurar a aprovação da emenda, o que não é fácil diante da resistência de Renan.
O deputado Michel Temer, presidente da sigla, e o ex-governador Orestes Quércia sondaram Sarney e Renan para ver se era possível uma reconciliação. Recuaram e vão esperar "a poeira assentar" para nova tentativa.
"O presidente declarou que o governo não vai se envolver na questão da reeleição, que ele não vai se intrometer. A emenda é uma questão para ser resolvida exclusivamente pelo Congresso", afirmou o presidente do PC do B, Renato Rabelo. "Nessa hora, alguém brincou e disse que seria bom os ministros também não se intrometerem", contou o presidente do PPS, Roberto Freire.
O apoio de Lula tem sido disputado pelos dois lados nas últimas semanas como fator decisivo para a aprovação ou não da emenda.
Após a declaração de João Paulo de que o presidente simpatizaria com sua reeleição e a de Sarney, Renan disse ter recebido telefonema do ministro da Coordenação Política desmentindo isso.


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