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Gaúchos pedem emprego a bingos
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Centenas de gaúchos de várias
formações foram ontem às casas
de bingo para pedir emprego.
A estudante de psicologia Lurdete Kreutz, 23, entregou o currículo em três casas. As respostas
foram negativas. "Acho que
uma pessoa com formação em
psicologia e que fala inglês e espanhol pode desempenhar um
papel importante num bingo."
O aposentado Sebastião Chaves, 72, também não teve sucesso. "Sou um conhecedor do bingo, porque freqüento esse ambiente há muitos anos. Preciso
incrementar meu orçamento.
Mas parece que o pessoal que
trabalhava antes vai ser todo recontratado. Então, fica difícil."
De fato, a resposta dos proprietários das casas se deve a que
os funcionários antigos estão
sendo reaproveitados. Os bingos
no RS terão a recuperação de
7.000 empregos, segundo o presidente da associação gaúcha do
setor, Márcio Augusto da Silva,
que não tem uma estimativa das
filas para pedir emprego no Estado. "É difícil mensurar. Mas é
muita gente que recorre a nós."
Em Santos (SP), um casal que
perdeu o emprego em razão do
fechamento das casas em fevereiro voltou ao trabalho. Osvaldo Eduardo Maricato Pitta, 38,
gerente de um bingo na cidade,
disse que estava sem salário e
que teve a ajuda dos filhos em
parte das despesas da família.
"Estou com três meses de aluguel atrasado, meus cartões foram cassados, estou com nome
no Serasa e no SPC." Pitta disse
que tentou, em vão, voltar a trabalhar em outro ramo. O maior
obstáculo, para ele, foi a idade.
Em São Paulo, funcionários de
um bingo falido esperavam pela
reabertura da casa. Ana Cláudia
Rodrigues dos Santos, 22, grávida, está desempregada desde
que o Bingo Legal, na periferia
paulistana, faliu. Junto com os
outros dois ex-colegas, ele foi ao
antigo prédio do empreendimento, na zona sul, onde já foi
afixada uma placa de "aluga-se".
Tinha R$ 1 em casa, afirma.
"Meu nome já está no Serasa."
O ex-dono, Marcion de Lopes
Chaves, 37, acha difícil voltar à
ativa. Calcula prejuízo de R$ 80
mil, está devendo a escola dos filhos e diz acreditar que não conseguirá sócio num negócio que
pode sofrer nova reviravolta a
qualquer momento. Segurou o
imóvel até o fim de março, a espera da queda da MP, mas não
dava mais para pagar o aluguel.
"Senti a tal da dor da pobreza",
diz Chaves, que mudou de Pinheiros, bairro de classe média,
para uma casa perto do antigo
negócio. O ex-dono do bingo,
que levou todo o equipamento
para casa, foi assaltado e perdeu
a maior parte dos terminais. Ele
conta ainda que chegou a ajudar
demitidos por algum tempo.
Com MAURÍCIO EIRÓS, free-lance
para a Agência Folha, em Santos, e
FABIANE LEITE, da Reportagem Local
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