São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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Gaúchos pedem emprego a bingos

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Centenas de gaúchos de várias formações foram ontem às casas de bingo para pedir emprego.
A estudante de psicologia Lurdete Kreutz, 23, entregou o currículo em três casas. As respostas foram negativas. "Acho que uma pessoa com formação em psicologia e que fala inglês e espanhol pode desempenhar um papel importante num bingo."
O aposentado Sebastião Chaves, 72, também não teve sucesso. "Sou um conhecedor do bingo, porque freqüento esse ambiente há muitos anos. Preciso incrementar meu orçamento. Mas parece que o pessoal que trabalhava antes vai ser todo recontratado. Então, fica difícil."
De fato, a resposta dos proprietários das casas se deve a que os funcionários antigos estão sendo reaproveitados. Os bingos no RS terão a recuperação de 7.000 empregos, segundo o presidente da associação gaúcha do setor, Márcio Augusto da Silva, que não tem uma estimativa das filas para pedir emprego no Estado. "É difícil mensurar. Mas é muita gente que recorre a nós."
Em Santos (SP), um casal que perdeu o emprego em razão do fechamento das casas em fevereiro voltou ao trabalho. Osvaldo Eduardo Maricato Pitta, 38, gerente de um bingo na cidade, disse que estava sem salário e que teve a ajuda dos filhos em parte das despesas da família.
"Estou com três meses de aluguel atrasado, meus cartões foram cassados, estou com nome no Serasa e no SPC." Pitta disse que tentou, em vão, voltar a trabalhar em outro ramo. O maior obstáculo, para ele, foi a idade.
Em São Paulo, funcionários de um bingo falido esperavam pela reabertura da casa. Ana Cláudia Rodrigues dos Santos, 22, grávida, está desempregada desde que o Bingo Legal, na periferia paulistana, faliu. Junto com os outros dois ex-colegas, ele foi ao antigo prédio do empreendimento, na zona sul, onde já foi afixada uma placa de "aluga-se". Tinha R$ 1 em casa, afirma. "Meu nome já está no Serasa."
O ex-dono, Marcion de Lopes Chaves, 37, acha difícil voltar à ativa. Calcula prejuízo de R$ 80 mil, está devendo a escola dos filhos e diz acreditar que não conseguirá sócio num negócio que pode sofrer nova reviravolta a qualquer momento. Segurou o imóvel até o fim de março, a espera da queda da MP, mas não dava mais para pagar o aluguel.
"Senti a tal da dor da pobreza", diz Chaves, que mudou de Pinheiros, bairro de classe média, para uma casa perto do antigo negócio. O ex-dono do bingo, que levou todo o equipamento para casa, foi assaltado e perdeu a maior parte dos terminais. Ele conta ainda que chegou a ajudar demitidos por algum tempo.


Com MAURÍCIO EIRÓS, free-lance para a Agência Folha, em Santos, e FABIANE LEITE, da Reportagem Local

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