São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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Inserções na TV e no rádio citam IBGE para dizer que preço da gasolina caiu 5,9% sob Lula; órgão diz que subiu 0,49%

Propaganda do PT usa números errados

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Com variações do mote "isso é fato, isso é verdade", o PT vem veiculando dados incorretos nos últimos dias para exaltar os resultados obtidos até aqui pelo governo Lula. O preço da gasolina, por exemplo, não caiu 5,9% com dizia um dos sete comerciais divulgados pelo partido no rádio e na televisão, mas subiu 0,49% entre janeiro de 2003 e março de 2004.
A Folha recorreu ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontado como fonte da propaganda do PT. A coordenação de índices de preços do órgão apresentou números diferentes dos apresentados: os preços aumentaram menos no governo FHC (261,73% em vez dos 288% citados pelo comercial) e não registraram queda no governo Lula.
Os números tampouco batem no caso do gás de cozinha, objeto de outro comercial. A propaganda fala em aumento de 2,2% no 15 primeiros meses de administração Lula. A fonte ainda seria o IBGE, segundo o comercial. O que diz o IBGE: os preços do gás vendido em botijão aumentaram 6,8% desde a posse de Lula. Em vez dos 420% de reajuste nos botijões nos oito anos de FHC divulgados, o IBGE registrou 563,09% .
A empresa do publicitário Duda Mendonça, responsável pela propaganda petista, afirma que recebeu os dados do PT. Em documento à Folha, a assessoria de Duda atribuiu o levantamento ao Ministério das Minas e Energia. Até o fechamento desta edição, a assessoria do ministério não havia esclarecido como chegou aos números que foram ao ar.
Na propaganda, aparece o crédito: "Fonte: IBGE/ Preços médios nas capitais do país". O IBGE informou à Folha que não trabalha com preços médios de produtos nas capitais. A pedido do jornal, o instituto calculou a variação de preços medida pelo IPCA, o mesmo usado para calcular as metas de inflação.
Na variação dos preços da cesta básica em São Paulo, a Folha também verificou divergência entre os dados da propaganda e os do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), citado como fonte. A assessoria do órgão informou que o custo da cesta básica variou 5,2% nos primeiros quinze meses. Para chegar ao resultado, divide-se o custo da cesta de março 2004 (R$ 166,96) pelo de dezembro de 2002 (R$ 158,73). É provável que o PT tenha tomado por base o valor de janeiro de 2002 (R$ 162,79) para chegar à alta de 2,6% de que fala o comercial. Nesse caso, segundo o Dieese, a variação refere-se a 14 e não aos 15 meses sob Lula de que fala a peça.
Há pouco mais de um mês, uma peça publicitária do governo foi tirada do ar depois que a Folha revelou que elas continham imagens enganosas.

"Manipulação"
O aumento de preços da cesta básica consta da lista de erros apontados ontem pelo PSDB, por meio de nota técnica. Em defesa do desempenho do governo FHC, o site tucano insistiu ontem em que o custo da cesta básica em São Paulo aumentou 22,85%, sim, mas isso foi bem menos do que a inflação do período. "O PT dá uma de Josef Stálin e apaga da história registros de seus opositores, como o ditador soviético fazia."


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