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Miro afirma que ministro participou de esquema
Gabriel Paiva/Agência O Globo
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O deputado Miro Teixeira, que confirmou ontem as denúncias |
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado federal Miro Teixeira (PT-RJ) confirma os relatos feitos por Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de mesadas a deputados federais, mas
afirma que o petebista foi mais generoso nas descrições quando esteve em sua sala, no final de 2003.
"O relato do Roberto Jefferson
foi mais amplo. Não posso relatar
em detalhes, pois não tenho elementos de prova. Mas ele descreveu uma cena de corrupção em
um ambiente ministerial a que ele
assistiu", afirma Miro.
Segundo Miro diz ter ouvido de
Jefferson, na "cena de corrupção"
estavam presentes "o ministro,
representantes de três partidos e
um diretor de departamento".
Esse relato de Jefferson a Miro
ocorreu quando o hoje deputado
pelo PT ainda era ministro das
Comunicações e filiado ao PDT.
Já era público que Miro estava de
saída de seu partido.
Já de volta à Câmara, no início
de 2004, Miro procurou Jefferson.
Sugeriu que ambos discursassem
sobre as suspeitas de corrupção
da tribuna da Casa. "Aí transformaremos o Lula num Lech Walesa", teria respondido Jefferson,
numa referência ao sindicalista
polonês que fracassou como presidente. O petebista recusou-se
novamente a divulgar o assunto.
Folha - Os dois trechos em que o
sr. é citado na entrevista de Jefferson à Folha são verdadeiros?
Miro Teixeira - Sim, porém estão
incompletos. Quando ele esteve
comigo no Ministério das Comunicações, ele me contou tudo. Eu
disse: "Vamos agora ao presidente da República". E ele se recusou.
Folha - O sr. não poderia ter falado ao presidente?
Miro - Claro que não, porque a
minha prova seria ele [Jefferson].
Folha - Sim, mas era um caso grave. O sr. era ministro. Não deveria
relatar reservadamente ao seu superior, o presidente?
Miro - Eu seria irresponsável.
Folha - Por quê?
Miro - Porque não teria como
provar. Mas depois que eu voltei
ao Parlamento, eu voltei a tentar
obter informações. E aí vem a segunda história.
Folha - Como foi?
Miro - Eu encontrei Jefferson no
corredor que sai do plenário e vai
na direção das salas das comissões. Puxei-o para um canto e disse: "Vamos denunciar essa história aqui da tribuna". Ele se recusou, e aí omitiu novamente na entrevista, que respondeu algo assim: "Aí transformaremos o Lula
num Lech Walesa". Talvez ele tenha omitido essa frase por considerá-la irrelevante. Eu disse que
era o contrário, que o Lula sairia
fortalecido porque ele desconhece isso e aí estaria explicado também o volume de dificuldades por
aqui na Câmara.
Folha - E Jefferson?
Miro - Ele não topou. A conversa
foi muito rápida. Durou uns 30
segundos.
Não houve, no meu caso, essa
história de ouvir quieto. Aqui, teve duas vezes. Teve essa: "Vamos
agora ao presidente". E, depois,
no Congresso: "Vamos fazer um
discurso aqui denunciando".
Folha - Por que, na sua opinião,
ele não quis falar em público sobre
o que dizia saber?
Miro - Eu não sei. Porque, talvez,
as pessoas fiquem constrangidas
de falar do corpo da Casa.
Folha - Qual foi o outro fato relatado por Roberto Jefferson?
Miro - Como eu já disse, o relato
do Roberto Jefferson foi mais amplo. Não posso relatar em detalhes, pois não tenho elementos de
prova. Mas ele descreveu uma cena de corrupção em um ambiente
ministerial a que ele assistiu. Foi
quando eu o exortei a ir ao presidente da República.
Folha - Quando foi isso?
Miro - Final de 2003. E eu volto à
Câmara no final de fevereiro.
Folha - O sr. não poderia elaborar
mais sobre qual foi esse ambiente
ministerial onde teria se dado a cena de corrupção?
Miro - Foi em torno de uma mesa ministerial.
Folha - O sr. não poderia dizer
qual foi o ministério?
Miro - Não, porque eu entraria
em um processo. Num crime contra a honra, quem reproduzir responde pelas mesmas penas.
Folha - Quem estava com Roberto
Jefferson nessa cena de corrupção?
Miro - Ele descreveu que estavam o ministro, representantes de
três partidos e um diretor de departamento. Eu estranho que ele
tenha omitido esse relato na entrevista à Folha. Das duas, uma.
Ou era mentira e agora ele não a
mencionou ou era verdade e ele
quer se valer da influência dessas
pessoas para protegê-lo -as pessoas que teriam participado dessa
tal cena de corrupção que ele diz
ter presenciado.
Folha - Na sua sala no ministério,
quando relatou esse fato, com
quem estava Roberto Jefferson?
Estava também o deputado João
Lyra (PTB-AL) e quem mais?
Miro - Mais uma outra pessoa.
Folha - Foi o deputado José Múcio
Monteiro (PE), líder do PTB na Câmara dos Deputados?
Miro - Não, não foi o Zé Múcio.
Não me recordo da terceira pessoa. Não importa, porque ficou
mudo, assim como o Lyra.
Folha - Qual a sua avaliação desse
episódio todo?
Miro - Tendo ele se recusado a ir
ao presidente da República diante
de um episódio tão grave -mais
grave até do que o que ele está
descrevendo hoje-, tenho dúvidas de que ele tenha de fato relatado ao presidente o caso das mesadas aos deputados.
Folha - Como assim?
Miro - Ele diz [na entrevista] que
foi ao presidente para relatar um
fato que seria estranho ao Poder
Executivo. Mas não para relatar o
outro... Que era mais direto, na
veia...
Folha - Porque era dentro de um
ministério, com uma pessoa de um
partido dando dinheiro para outra
de outro partido...
Miro - É isso. Numa repartição
pública. Por isso não tenho tanta
certeza de que o Roberto tenha falado com o presidente.
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