São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2005

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"Contei a Lula sobre bônus", diz Perillo

NEY HAYASHI DA CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), disse ontem que aliados do governo federal procuraram dois deputados federais tucanos e ofereceram uma "mesada" de R$ 40 mil para que eles trocassem de partido. Perillo afirmou ter contado isso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo o governador, desconhecia o assunto.
"Foi um assédio", disse Perillo. "Era para trocar de partido, sair do PSDB e ir para a base do governo, por uma mesada de R$ 40 mil por mês e R$ 1 milhão por ano de bônus", declarou. Perillo alegou uma "questão ética" para não citar os nomes dos deputados que teriam recebido a proposta nem dos representantes do governo que estariam envolvidos no caso.
Em entrevista publicada ontem pela Folha, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, afirmou que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava um "mensalão" de R$ 30 mil para parlamentares em troca de apoio ao governo no Congresso. Ainda de acordo com Jefferson, a prática foi interrompida no começo deste ano, depois que ele informou Lula sobre o esquema.
Jefferson é suspeito de envolvimento em um esquema de corrupção nos Correios e no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), estatais que contam com dirigentes que foram indicados aos cargos por seu partido. Segundo a revista "Veja", o presidente do PTB cobrava uma mesada de R$ 400 mil ao ex-presidente do IRB, Lídio Duarte, que havia sido indicado pelo partido para ocupar o cargo. Jefferson nega envolvimento com essas denúncias.
O governador participou do lançamento do "Programa Goiano de Qualificação do Trabalhador" e, a uma platéia de empresários, discursou: "O que foi revelado hoje [ontem] pela Folha de S. Paulo foi dito por mim, pessoalmente, ao presidente da República um ano e meio [sic] atrás".
A jornalistas, Perillo disse que em maio de 2004, numa visita de Lula a Rio Verde (230 km de Goiânia), conversou com o presidente sobre o "assédio" aos deputados tucanos. A resposta de Lula teria sido: "Isso foi algo que o Sérgio Motta introduziu" -ex-ministro das Comunicações de Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Motta suspeito de envolvimento num esquema de compra de votos de parlamentares para a aprovação, em 1997, da emenda constitucional que permitiu a reeleição de presidentes.
"Mas no seu governo está acontecendo isso", teria respondido Perillo. A secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás e deputada federal licenciada, Raquel Teixeira (PSDB), disse que tinha conhecimento da proposta de "mesada", mas não quis citar nomes.


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