|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sem fiscalização, bingo chega até às padarias
da Reportagem Local
Desde abril, cerca de 1.200 grandes bingos permanentes do país
estão funcionando com as suas
próprias leis, da forma que bem
entendem, praticamente sem fiscalização de nenhum órgão oficial.
Em São Paulo, os empresários
do jogo alargaram os seus domínios aos bares e padarias, onde
têm instalado o mesmo tipo de
máquina "caça-níquel" que funciona nos bingos. A cada giro na
"maquininha", o freguês deixa de
comprar um pãozinho a mais.
A Lei Pelé, aprovada em abril,
veta esse tipo de máquina, mas a
falta de fiscalização e a tolerância
oficial faz a jogatina correr solta.
Apontados como grandes sonegadores de impostos pela própria
Receita Federal -somente em
São Paulo avalia-se que a sonegação seja de R$ 40 milhões por
mês- , os bingos estão mais livres
do que nunca em todo o país.
A situação foi provocada pela Lei
Pelé, que acabou retirando o poder de fiscalização das secretarias
estaduais da Fazenda e repassando
a atribuição ao governo federal.
No decreto que regulamentou a
lei, assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, ficou
decidido que a fiscalização ficaria
sob a responsabilidade do Indesp
(Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto).
Sem estrutura em nenhum dos
27 Estados, o Indesp só tem uma
saída: tentar fazer convênios com
os governos estaduais. O órgão de
Brasília não encontrará facilidades
em nenhuma região.
Em São Paulo, Estado com o
maior número de bingos legalizados (115 casas), o comando da Secretaria da Fazenda viu como um
alívio o fato de ter ficado livre da
fiscalização.
Para o secretário Yoshiaki Nakano, segundo informou a sua assessoria, fiscalizar não compensa,
pois existem outros setores que
merecem mais atenção e podem
dar mais retorno financeiro.
Além desse raciocínio, a secretaria informou que a maior parte do
dinheiro dos tributos (30% do Imposto de Renda sobre os prêmios
pagos aos jogadores) eram destinados à Receita Federal. O Estado
recebia apenas uma taxa sobre o
número de cartelas impressas.
Depois que a responsabilidade
sobre os bingos passou para o Indesp, somente o Rio e o Paraná
continuaram com algumas ações
de fiscalização nas casas de jogos.
Irregularidades continuam
Levantamento feito pela Folha,
durante o mês de março constatou
uma série de irregularidades nos
principais bingos de São Paulo. A
maioria não cumpria o que determinava a Lei Zico, ainda em vigor
naquele momento.
Os números e valores pesquisados indicaram vários tipos de
fraudes. As principais:
1) contabilidade paralela -o número de cartelas vendidas (que indica o valor arrecadado no bingo)
é adulterado, criando o chamado
"caixa 2" na contabilidade;
2) sonegação de Imposto de
Renda -os bingos deveriam recolher 30% dos prêmios para a Receita Federal, mas recibos obtidos
pela Folha mostraram que essa
não é a prática corriqueira;
3) "laranja" -pessoa paga pelos
bingos aposta com um número
elevado de cartelas, portanto com
mais chances, para que o prêmio
fique com a casa.
(XICO SÁ)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|