|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Juiz decide
sorte do jogo
da Tele Sena
XICO SÁ
da Reportagem Local
A sorte de Silvio Santos, que
conseguiu aprovar junto ao governo federal uma loteria como se
fosse um plano de capitalização,
pode estar com os dias contados.
O processo contra o funcionamento da Tele Sena, o jogo que
tem faturado R$ 500 milhões por
ano, em média, deve ser julgado
ainda neste semestre pelo TRF
(Tribunal Regional Federal).
Segundo a "CPI da Jogatina",
aberta na Assembléia Legislativa
de São Paulo para investigar jogos
de azar, esse faturamento da Liderança Capitalização, firma de Santos que administra a Tele Sena, é
obtido com o emprego de apenas
150 pessoas.
Uma empresa com faturamento
equivalente possui, em média, entre 2.000 e 2.500 funcionários.
"Esse dado mostra a disparidade
entre o mercado e a Liderança,
que funciona sob proteção oficial", diz o deputado José Carlos
Tonin (PMDB), presidente da CPI.
O dono do SBT já sofreu uma
derrota no caso, em julgamento de
primeira instância ocorrido no
ano passado. Silvio Santos recorreu à Justiça contra a decisão.
Governo Collor
A novela teve início durante o
governo Collor, em 1991, quando
o apresentador conseguiu aprovar
junto a órgãos do Ministério da
Fazenda a sua loteria como se fosse um plano de capitalização.
Ao aplicar o seu dinheiro em um
plano desse tipo, o cliente teria a
garantia, conforme dita a lei, de
retorno total, com juros e correção monetária, ao final de um período de um ano. Independentemente de sorteios.
Não é o que ocorre com Tele Sena. Logo no ato da compra do bilhete, por R$ 3, o cliente-telespectador deixa a metade para a loteria, a pretexto de despesas administrativas com o jogo.
Depois de um ano, os R$ 3 investidos valem, incluindo juros e correção, R$ 1,62 para o comprador
da Tele Sena. Ele pode juntar mais
R$ 1,40 e trocar por um novo bilhete, voltando a engordar o negócio do SBT.
Para sorte de Silvio Santos, um
grande número de clientes simplesmente esquece ou desiste de ir
cobrar o que tem direito (o já citado valor de R$ 1,62).
Nesse caso, o dinheiro volta para
a "banca", a Liderança. Segundo
o presidente da CPI, a empresa já
amealhou cerca de R$ 300 milhões
com os tais clientes "esquecidos".
"Descapitalização"
A "descapitalização" de 50% do
dinheiro "investido" pelo cliente
foi permitida oficialmente pela
Susep (Superintendência de Seguros Privados), órgão vinculado ao
Ministério da Fazenda.
Diretores de planos de capitalização do Banco do Brasil, Itaú e
Bradesco, todos ouvidos pela CPI,
informaram que são obrigados a
devolver, com juros e correção
monetária, todas as aplicações feitas pelos clientes.
Esses planos mantidos pelos
bancos também promovem sorteios. A diferença é que a chance
de ganhar, segundo documentos
da CPI, é também maior do que na
loteria da Tele Sena.
A possibilidade de ser premiado
com os bancos é de uma a cada
99.999. Não é fácil. Mas, no jogo
do SBT, a chance de receber sozinho o badalado "bolão" de R$
300 mil é ainda muito mais remota: uma em cada 3.365.855.
A sentença
No julgamento em primeira instância, o juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Federal de São Paulo não poupou a Tele Sena:
"Desafia a lógica do razoável
que uma empresa coligada a uma
rede nacional de televisão, através
(sic) de um jogo de loteria que se
apresenta de forma dissimulada,
possa sorver a economia do povo
que se encontra no limite da sobrevivência".
O processo contra a Tele Sena
começou com uma ação popular
encaminhada pelo advogado Luiz
Nogueira, a pedido do presidente
da CPI , em 1991.
A Folha tentou falar com Silvio
Santos e com os diretores da Liderança Capitalização desde sexta-feira da semana passada. Eles
não responderam aos três telefonemas feitos diariamente.
Informaram, por meio de funcionários do grupo, que não iriam
falar sobre o caso. Convocados pela CPI, não compareceram.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|