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PAÍS DO JOGO
No total são 11 bancas, que fazem as três extrações diárias nas dependências da loteria do Estado, a Lotep
Bicho tem apoio oficial do governo da PB
da enviada especial a João Pessoa
Onze senhores da sociedade paraibana ostentam publicamente o
título de banqueiros do jogo do bicho em João Pessoa, atividade não
só permitida, mas até apoiada pelo
governo do Estado.
O jogo do bicho é oficialmente
proibido em todo o país. Segundo
o Código de Contravenções Penais, o infrator deve ser punido
com prisão de três meses a um
ano, além de multa. Na Paraíba,
porém, está liberado desde a gestão do ex-governador João Agripino Maia (1966-71).
Instado pelo governo federal a
reprimir os contraventores, Maia
disse que acabaria com o jogo se a
União lhe arrumasse 4.000 empregos para os cambistas.
Como os empregos não apareceram, o governo estadual organizou o jogo e fixou as regras para
seu funcionamento.
As três extrações diárias são feitas nas dependências da loteria estadual, a Lotep, e os resultados dos
sorteios são anunciados pela Rádio Tabajara, emissora oficial do
governo paraibano.
O relacionamento Estado/jogo
do bicho é tão explícito que os
contraventores têm uma espécie
de concessão informal da Lotep
para explorar a atividade, sem serem importunados pela polícia.
Cada banca de jogo do bicho
contribui com uma taxa mensal
para a Lotep.
Os bicheiros da capital depositam R$ 4.000 por mês para a loteria estadual e o pagamento é feito
no Banco do Brasil.
Cúpula
Na última terça-feira, a reportagem da Folha fez entrevista inédita com a cúpula do jogo do bicho
de João Pessoa que, em seguida,
posou para fotos na sede da Lotep.
As 11 bancas de jogo de João Pessoa ÄMonte de Ouro, Bandeirante, Milionária, Federal, Casa da
Fortuna, Monark, Tesouro da
Sorte, Sempre Viva, Soberana,
Primavera e FavoritaÄ formam
uma associação chamada Paratodos, que centraliza a arrecadação e
garante o pagamento dos prêmios.
No final do mês, a associação
distribui o lucro apurado entre os
banqueiros. O presidente e os diretores da Paratodos cumprem expediente comercial e são remunerados pelo trabalho na entidade.
Entre os bicheiros estão fazendeiros, comerciantes e até um vereador: João Gonçalves, do PPB.
Exemplo
Criada em 1987, a Paratodos é
presidida pelo advogado Geraldo
Gomes de Lima, dono da banca
Federal. Ele diz que os banqueiros
do bicho da Paraíba formam
"uma grande família unida" e poderiam servir de exemplo para os
demais Estados.
"Aqui vivemos em paz. Como o
jogo é liberado, não há repressão
policial nem pagamento de propina à polícia. Não nos envolvemos
com droga e não existe briga por
pontos de bicho. Temos um código rígido. Se um banqueiro não
honra seu compromisso, o expulsamos. Não chegamos a ser um
Rotary Clube, mas estamos perto
disso", afirma Geraldo Lima.
O presidente da associação Paratodos diz que as bancas de bicho
empregam 5.000 cambistas (anotadores de apostas) em João Pessoa, trabalhando na condição de
autônomos.
"Eles não têm carteira assinada
porque o governo não reconhece a
atividade do banqueiro nem a do
cambista", afirma.
INSS
Um dos mais antigos banqueiros
de bicho de João Pessoa, Rubens
Falcão, dono da Milionária, diz
que para recolher a contribuição
para o INSS, a maioria das mulheres cambistas tiram registro de autônomas como manicure, enquanto a maior parte dos homens
se registra como pedreiro ou auxiliar de pedreiro.
O cambista recebe 10% do valor
das apostas que captar.
O relacionamento do Estado
com o jogo do bicho é feito pela
loteria estadual. Paulo Barreto, diretor-superintendente da Lotep,
diz que o jogo é praticado sem
qualquer repressão nos 143 municípios do Estado.
(ELVIRA LOBATO)
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