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RELIGIÃO
Igreja arrecada e distribui 2.161 toneladas de alimentos às vítimas da estiagem em dez Estados da região
Seca ajuda Universal a crescer no Nordeste
CLÁUDIA TREVISAN
enviada especial ao Ceará e à Paraíba
A seca está servindo para a Igreja
Universal do Reino de Deus ampliar sua influência no Nordeste,
região dominada pelo catolicismo
e o culto a personagens como Frei
Damião e Padre Cícero.
Desde o dia 6 de maio, a Universal promove uma "cruzada evangélica", com a entrega de cestas
básicas às vítimas da estiagem.
A distribuição de alimentos ajuda a difundir o nome da Universal
e é uma poderosa arma na ferrenha disputa por fiéis que a instituição trava com a Igreja Católica.
A Bahia é o Estado do Nordeste
onde a Universal tem maior presença, com cerca de 200 igrejas,
enquanto São Paulo tem 600 e o
Rio, 700. Em seguida, aparecem
Ceará e Pernambuco, com pouco
mais de cem templos cada. Nos
demais Estados nordestinos a presença da igreja é insignificante.
Igreja Católica
A campanha no Nordeste foi o
principal tema do jornal "Folha
Universal", publicação oficial da
igreja, que circulou no dia 17 de
maio. "Enquanto alguns dirigentes da Igreja Católica incentivam o
saque aos armazéns da região, a
ABC leva comida e procura dar
dignidade a essas pessoas", dizia
texto na primeira página.
A ABC (Associação Beneficente
Cristã) é o braço assistencial da
igreja e a responsável pela distribuição dos alimentos nos Estados.
Com o apoio da TV Record, a
igreja conseguiu arrecadar, até o
dia 20 de maio, 2.161 toneladas de
alimentos, que equivalem a
120.822 cestas básicas.
Entre os dias 6 e 20 de maio, a
igreja entregou alimentos em 170
cidades de dez Estados nordestinos. Até o dia 20, haviam sido distribuídas 1.211 das 2.161 toneladas
arrecadadas. A distribuição continua, mas a igreja não tem números globais atualizados.
Os alimentos são levados em
carretas alugadas pela Universal.
Por enquanto, foram enviados ao
Nordeste 53 caminhões. O transporte de São Paulo ao Piauí, por
exemplo, custa cerca de R$ 3.600.
"A Universal já foi muito criticada aqui, mas hoje o Nordeste vê
que a Universal está vindo e prestando assistência", diz Maria
Aparecida da Silva, 38, presidente
da Associação dos Carentes de
Marizópolis (PB), onde foram entregues 600 cestas.
Católica e filha de devotos de
Frei Damião, Maria Aparecida já
pensa em se converter à Universal.
No dia 27, a Folha acompanhou
a entrega de alimentos em duas localidades de Itatira, cidade de 15
mil habitantes localizada a 200
quilômetros de Fortaleza (CE).
Quando o caminhão carregado
com 1.500 cestas chegou ao distrito de Lagoa da Mata, às 15h, já havia uma fila imensa à espera.
Uma equipe precursora da Universal havia percorrido as casas
pela manhã e entregue senhas
-pedaços de papel nos quais estão inscritos os nomes da Universal, da TV Record e da ABC.
Antes do início da distribuição,
obreiros da igreja abriram três faixas ao lado do caminhão: "Disse
Jesus: "Tive fome e não me deste
de comer'", "IURD e ABC ajudam os carentes do Nordeste" e
"ABC SOS Nordeste". IURD é a
abreviação do nome da Universal.
Em Itatira, a distribuição é feita
em frente à Igreja Católica. "Não é
afronta, não. É porque era o melhor lugar", afirma Ilton Carneiro
de Freitas, 47, um ex-católico que
está na Universal há 12 anos.
Quando o caminhão estaciona
em frente à Igreja Católica, o pastor Heriberto Farias, presidente da
ABC-CE, anda pela fila e informa
que as cestas foram trazidas pela
Universal e pela ABC. Em seguida,
ele e outros membros da igreja se
dividem e começam a rezar. No
fim, são aplaudidos pelos moradores.
Curas
Não faltam cenas típicas dos cultos da Universal, como as tentativas de cura. Algumas pessoas que
se dizem doentes são levadas ao
pastor, que coloca as mãos sobre
suas cabeças, reza e grita "sai, em
nome de Jesus".
Entre os que receberam alimentos está Maria Imaculada, 60, que
trabalha na Igreja Católica e comandava o ensaio do coral local
no momento da distribuição.
"Chorei quando recebi a cesta."
O impacto da distribuição de alimentos em um local pobre, onde a
presença do Estado é mínima, pode ser medido pelas palavras de
Carmelina Barroso Amorim, 54,
separada, seis filhos: "A gente tem
fé em quem ajuda a gente".
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