São Paulo, domingo, 7 de junho de 1998

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RELIGIÃO
Universal planeja ter atuação constante no Nordeste; projetos incluem até uma "reforma agrária" evangélica
Igreja quer substituir Estado contra a seca

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Moradores do sertão cearense carregam cestas básicas de 17 kg recebidas da Igreja Universal; alguns percorrem até 6 km com os alimentos na cabeça


da enviada especial


A distribuição de alimentos é a primeira etapa do projeto da Igreja Universal do Reino de Deus de combate à seca, que inclui a perfuração de poços artesianos e a distribuição de ferramentas aos agricultores do Nordeste.
A proposta da igreja é agir diretamente, sem qualquer interferência do poder público. Na prática, isso significa uma quase substituição do Estado na tentativa de combater os efeitos da seca.
Até o discurso da igreja é semelhante ao de um político. "A ABC prometeu conseguir dois poços ao município e disse que vai trazer picareta, pá e roçadeira para os agricultores", relata Maria Aparecida da Silva, presidente da Associação dos Carentes de Marizópolis (PB).
A Universal já faz campanha de arrecadação de recursos para perfuração dos poços artesianos. A "Folha Universal", órgão de divulgação da igreja, de 17 de maio trouxe o número de uma conta bancária para doações.
O bispo Carlos Rodrigues, coordenador político da Universal, afirma que os planos da igreja incluem ainda uma espécie de "reforma agrária evangélica".
A idéia é comprar grandes extensões de terras e criar comunidades que desenvolvam projetos agrícolas que deram certo no Nordeste.
A igreja seria responsável pela criação de infraestrutura e pela orientação aos agricultores.
Mas essa etapa vai demorar a ser implementada Äse chegar a sê-lo. "Vamos estudar experiências bem-sucedidas na seca e ver o que pode ser adotado", diz Rodrigues.
Segundo ele, a igreja vai se concentrar por enquanto na distribuição de alimentos às vítimas da seca no Nordeste.
A ABC (Associação Beneficente Cristã) foi criada em setembro de 94 pela Universal para atuar como entidade assistencial.
Atualmente, está implantada em 22 Estados. Sua principal atividade é a doação de alimentos, mesmo em regiões não atingidas pela seca.
Em São Paulo, por exemplo, a ABC entrega regularmente cestas básicas a entidades assistenciais e moradores da periferia. A grande maioria dos alimentos é arrecadada entre os fiéis nas centenas de templos que a igreja tem no país.
A ABC é dirigida por um bispo diferente em cada Estado. Nacionalmente, o comando é do bispo Vanderval, sediado em São Paulo.
A viagem das primeiras carretas com alimentos que seguiram para o Nordeste teve ampla cobertura da TV Record, pertencente à Igreja Universal.
Em alguns lugares, a Universal não se limitou à distribuição de comida. Em Irauçuba, também foram entregues roupas. O presidente da ABC-SP, pastor Milton Vieira, diz que para Soledade (PB) foram levados dois caminhões de água comprados pela igreja.
Fiéis
Rodrigues afirma que a distribuição de cestas básicas no Nordeste não tem o objetivo de aumentar o número de fiéis da Universal na região.
O bispo diz que a maior parte dos alimentos está sendo entregue em cidades com menos de 50 mil habitantes, onde a igreja não tem planos para abrir templos nos próximos cinco anos. "Não há pastores para tantos lugares."
Mas Rodrigues admite que a campanha pode aumentar a "simpatia" pela Universal e reduzir resistências à igreja.
O vereador de Fortaleza Almeida de Jesus (PMDB), na igreja há 11 anos, afirma que a distribuição de alimentos pode ajudar no crescimento da Universal, "embora esse não seja o seu objetivo".
CLÁUDIA TREVISAN


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