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São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

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CONFLITO AGRÁRIO

Líderes sem-terra pedem R$ 260 mil para concluir projeto cooperativo; Rossetto é convidado para evento

MST quer verba federal para obra no Pontal

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Além das cobranças por investimentos em assentamentos e novas desapropriações, o MST do Pontal do Paranapanema (SP) tem um assunto mais prático para tratar com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto: R$ 260 mil para concluir as obras da Cocamp (cooperativa dos sem-terra no Pontal), paralisadas desde outubro de 2000.
O ministro e o presidente do Incra, Marcelo Resende, foram convidados a participar da comemoração dos 13 anos de ações do MST no Pontal, no próximo dia 13, em Teodoro Sampaio (SP), quando os líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na região do Pontal cobrarão verbas para a Cocamp.
"O governo anterior não teve interesse em concluir as obras da Cocamp. A suspensão fazia parte da estratégia [do governo Fernando Henrique Cardoso] de criminalizar o movimento", disse Gilmar Mauro, 35, da direção estadual do MST.
No dia 14, o presidente do PT, José Genoino (SP), João Pedro Stedile e João Paulo Rodrigues, ambos da direção nacional do MST, deverão debater "conjuntura política e alternativas" do governo Lula, com uma platéia estimada em mil pessoas, entre militantes do MST e do PT e representantes da Igreja Católica.
Líderes do MST afirmam que o evento estava agendado antes do encontro que tiveram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última quarta-feira, em Brasília. A assessoria do ministro em Brasília informou ontem que ele recebeu o convite, mas ainda não decidiu se irá. A assessoria de Genoino informou que o compromisso ainda não está agendado pelo ex-deputado.
As obras da cooperativa receberam entre R$ 3,5 milhões e R$ 4 milhões em empréstimos federais, mas foram paralisadas após denúncias de má administração dos recursos.
Auditores da Secretaria Federal de Controle do Ministério da Fazenda apontaram indícios de descompasso entre os gastos aprovados e os efetivamente executados.
Em outubro de 2000, por causa das investigações, o governo bloqueou uma parcela de R$ 262 mil. Em fevereiro de 2001, o líder do MST José Rainha Júnior deixou a direção da cooperativa, onde estava desde 1998. "Queremos sair um pouco do tema ocupação e ir para o tema produção", disse João Paulo Rodrigues, 23.
Com os recursos que faltam, o MST pretende colocar em funcionamento um silo para armazenagem de grãos e uma fábrica de laticínios. A intenção, segundo Gilmar Mauro, é centralizar a produção de aproximadamente 5.000 famílias de trabalhadores rurais assentados na região do Pontal nos últimos 13 anos. A cooperativa tem 2.800 sócios.
Mauro afirma, citando uma pesquisa do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) que os assentados da reforma agrária produzem 6% do leite, 5% do feijão e 7% da mandioca de todo o Estado de São Paulo.
No debate sobre a "conjuntura nacional", marcado para o dia 14, os líderes do MST dirão que uma das principais preocupações hoje é o alastramento das milícias armadas pelos fazendeiros em diversos pontos do país, incluindo o Pontal. "Se há guerra no campo, é do lado de lá [dos fazendeiros], não do nosso", disse Mauro.
O líder do governo na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse ontem que o país está "confortável" na "administração dos movimentos sociais", em referência às negociações do governo com o MST, e que a melhor estratégia é "integrá-los", para que não se tornem grupos clandestinos. No Brasil, argumenta Rebelo, "a sociedade conhece quem são os seus líderes [dos movimentos sociais], pode negociar com eles e acho que isso é um trunfo da vida democrática do país".
Rebelo defendeu a estratégia do MST de recrutar militantes no meio urbano: "Evita que uma parcela dessas pessoas se dedique a atividades criminosas".
Matéria publicada ontem na Folha mostra que o total de acampados no país cresceu 147,5% nos seis primeiros meses do governo Luiz Inácio Lula da Silva.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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