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CONFLITO AGRÁRIO
Líderes sem-terra pedem R$ 260 mil para concluir projeto cooperativo; Rossetto é convidado para evento
MST quer verba federal para obra no Pontal
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Além das cobranças por investimentos em assentamentos e novas desapropriações, o MST do
Pontal do Paranapanema (SP)
tem um assunto mais prático para
tratar com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto: R$ 260 mil para concluir as
obras da Cocamp (cooperativa
dos sem-terra no Pontal), paralisadas desde outubro de 2000.
O ministro e o presidente do Incra, Marcelo Resende, foram convidados a participar da comemoração dos 13 anos de ações do
MST no Pontal, no próximo dia
13, em Teodoro Sampaio (SP),
quando os líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) na região do Pontal
cobrarão verbas para a Cocamp.
"O governo anterior não teve
interesse em concluir as obras da
Cocamp. A suspensão fazia parte
da estratégia [do governo Fernando Henrique Cardoso] de criminalizar o movimento", disse Gilmar Mauro, 35, da direção estadual do MST.
No dia 14, o presidente do PT,
José Genoino (SP), João Pedro
Stedile e João Paulo Rodrigues,
ambos da direção nacional do
MST, deverão debater "conjuntura política e alternativas" do governo Lula, com uma platéia estimada em mil pessoas, entre militantes do MST e do PT e representantes da Igreja Católica.
Líderes do MST afirmam que o
evento estava agendado antes do
encontro que tiveram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
na última quarta-feira, em Brasília. A assessoria do ministro em
Brasília informou ontem que ele
recebeu o convite, mas ainda não
decidiu se irá. A assessoria de Genoino informou que o compromisso ainda não está agendado
pelo ex-deputado.
As obras da cooperativa receberam entre R$ 3,5 milhões e R$ 4
milhões em empréstimos federais, mas foram paralisadas após
denúncias de má administração
dos recursos.
Auditores da Secretaria Federal
de Controle do Ministério da Fazenda apontaram indícios de descompasso entre os gastos aprovados e os efetivamente executados.
Em outubro de 2000, por causa
das investigações, o governo bloqueou uma parcela de R$ 262 mil.
Em fevereiro de 2001, o líder do
MST José Rainha Júnior deixou a
direção da cooperativa, onde estava desde 1998. "Queremos sair
um pouco do tema ocupação e ir
para o tema produção", disse João
Paulo Rodrigues, 23.
Com os recursos que faltam, o
MST pretende colocar em funcionamento um silo para armazenagem de grãos e uma fábrica de laticínios. A intenção, segundo Gilmar Mauro, é centralizar a produção de aproximadamente 5.000
famílias de trabalhadores rurais
assentados na região do Pontal
nos últimos 13 anos. A cooperativa tem 2.800 sócios.
Mauro afirma, citando uma
pesquisa do Itesp (Instituto de
Terras do Estado de São Paulo)
que os assentados da reforma
agrária produzem 6% do leite, 5%
do feijão e 7% da mandioca de todo o Estado de São Paulo.
No debate sobre a "conjuntura
nacional", marcado para o dia 14,
os líderes do MST dirão que uma
das principais preocupações hoje
é o alastramento das milícias armadas pelos fazendeiros em diversos pontos do país, incluindo o
Pontal. "Se há guerra no campo, é
do lado de lá [dos fazendeiros],
não do nosso", disse Mauro.
O líder do governo na Câmara,
deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse ontem que o país está
"confortável" na "administração
dos movimentos sociais", em referência às negociações do governo com o MST, e que a melhor estratégia é "integrá-los", para que
não se tornem grupos clandestinos. No Brasil, argumenta Rebelo,
"a sociedade conhece quem são
os seus líderes [dos movimentos
sociais], pode negociar com eles e
acho que isso é um trunfo da vida
democrática do país".
Rebelo defendeu a estratégia do
MST de recrutar militantes no
meio urbano: "Evita que uma
parcela dessas pessoas se dedique
a atividades criminosas".
Matéria publicada ontem na Folha mostra que o total de acampados no país cresceu 147,5% nos
seis primeiros meses do governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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