UOL

São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lavradores que voltaram a engenho anunciam resistência a novo despejo

Leopoldo Nunes/"JC Imagem"
Entidades entregam mantimentos a lavradores que voltaram a ocupar o engenho do Prado, em PE


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Os lavradores que retornaram ao engenho Prado, em Tracunhaém (em Pernambuco, a 64 km de Recife), após o despejo de quinta-feira, armaram-se de lanças artesanais e afirmaram ontem que vão resistir a uma eventual nova tentativa de expulsão.
"Se tentarem tirar o pessoal de novo vai ter resistência", disse Plácido Júnior, coordenador estadual da CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço agrário da Igreja Católica, que controla os três acampamentos montados há sete anos na propriedade.
Os sem-terra estão se revezando em turnos para vigiar o local dia e noite. A Polícia Militar deslocou a tropa de choque para o lugar. O clima na região é de tensão.
Os policiais aguardam decisão judicial para agir. O Tribunal de Justiça do Estado determinou a suspensão da operação de reintegração de posse, mas um despacho do juiz de Nazaré da Mata, Carlos Alberto Maranhão de Oliveira, proibiu o retorno dos lavradores ao engenho.
Mesmo assim, muitos deles conseguiram voltar à área antes da chegada dos policiais. Outros driblaram o policiamento e retornaram ao engenho no fim de semana, caminhando por picadas abertas no canavial.
Divididos em grupos, os sem-terra iniciaram a reconstrução dos barracos, que haviam sido derrubados por tratores. Pedaços de madeira serviram para a confecção de lanças artesanais.
Temendo um confronto, o ouvidor agrário nacional, Gersino José da Silva Filho, tentou durante o fim de semana obter a revogação do despacho que impede a volta dos sem-terra, mas nenhuma decisão havia sido tomada até o final da tarde de ontem.
O julgamento do recurso movido pela usina Santa Tereza, controladora do engenho, contra a suspensão da ação de reintegração de posse está marcado para amanhã. Entretanto, a reunião dos três desembargadores da câmara de férias que decidirão a questão pode ser antecipada para hoje em virtude do clima de tensão nos acampamentos.
Ontem, uma caravana formada por cerca de 150 pessoas saiu de Recife para levar agasalhos, colchonetes e utensílios domésticos aos acampados. A PM não impediu a entrada do grupo.
O engenho Prado, onde viviam cerca de 300 famílias (1.500 pessoas), é uma das mais antigas áreas invadidas em Pernambuco. O local foi palco de uma das ações mais violentas do MST neste ano.
No dia 19 de maio, cerca de mil lavradores invadiram a sede da propriedade, de 800 ha, depredaram e incendiaram casas, galpões e tratores. O movimento classificou o ataque como "um ato de solidariedade aos acampados".


Texto Anterior: Conflito agrário: MST quer verba federal para obra no Pontal
Próximo Texto: Privatização: Ex-diretor sugere ingerência de Ricardo Sérgio em ações da Previ
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.