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PRIVATIZAÇÃO
João Bosco Madeiro prestou depoimento à PF
Ex-diretor sugere ingerência de Ricardo Sérgio em ações da Previ
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Em depoimento de quase seis
horas na sexta-feira à Polícia Federal do Rio de Janeiro, o ex-diretor da Previ (o fundo de pensão
dos funcionários do Banco do
Brasil) João Bosco Madeiro da
Costa admitiu a ingerência de Ricardo Sérgio de Oliveira, então diretor da área internacional do
Banco do Brasil, nas decisões do
fundo na privatização da Telebrás, em julho de 1998, ao confirmar diálogo que ambos teriam
travado antes desta data.
Segundo a Folha apurou, Bosco
confirma no depoimento a veracidade de diálogo que foi reproduzido pela revista "Veja" em
março de 2001- pouco antes do
leilão da Telebrás. A conversa evidencia a influência do ex-diretor
do BB sobre a Previ na privatização tanto da Telebrás como da
Vale do Rio Doce. O diálogo publicado na revista é o seguinte:
Ricardo Sérgio: "Alô. Onde você
está, boneca?"
Bosco: "Estou aqui começando
a reunião com os fundos..."
Ricardo Sérgio: "Tá."
Bosco: "E se tudo ocorrer como
imagino, estamos abrindo com o
Opportunity pra Telemar, viu?"
Ricardo Sérgio: "Escuta, Bosco,
é o seguinte: a gente está ficando,
a cada dia, mais experiente, né?
Mas ainda continuo muito preocupado com a grana porque, senão, daqui a pouco você vai pôr
uns 2 bi..."
Bosco: "É, na Vale eu tive de botar 360 milhões a mais. Depois,
peguei eles, dez dias depois."
Ricardo Sérgio: "Não sei, de fato, a montagem da grana. Outra
coisa: não podemos criar um novo monstro. Não podemos criar
um novo Benjamin [Benjamin
Steinbruch, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, que
liderou o consórcio de empresas
que compraram a Vale]."
Procurado pela Folha, Ricardo
Sérgio afirmou, por meio de sua
assessoria, que, no período que
ocupou a diretoria da área internacional do BB, ele travou vários
diálogos com Bosco, assim como
com outros diretores da Previ,
mas não tinha como lembrar o
teor deles. A reportagem da Folha
não localizou Bosco, que está licenciado do BB.
A privatização da Telebrás é um
capítulo rumoroso da história recente do país: há escutas clandestinas de telefones, como o grampo
do BNDES, e acusação de pagamento de propinas.
Há cerca de quatro meses à
frente do inquérito que apura essas acusações, o delegado Fábio
Scliar, da Delegacia do Crime Organizado e Inquéritos Especiais,
indiciou quatro ex-dirigentes do
fundo de pensão do BB sob a acusação de terem infringido os artigos 4º (gestão fraudulenta) e 16º
(atuação indevida do fundo como
instituição financeira) da Lei do
Colarinho Branco. Os indiciados
são os ex-diretores da Previ João
Bosco Madeiro da Costa, Vítor
Paulo Camargo Gonçalves, Arlindo Magno e o ex-gerente da área
de capitais Marco Antônio Horta.
O inquérito já tem cerca de cinco mil páginas. Um dos depoimentos mais importantes até agora foi o de João Bosco.
Nesta primeira fase do inquérito, que acaba amanhã, não haverá
mais indiciamentos. Scliar irá encaminhar pedido à Justiça Federal
de mais 90 dias de prazo para continuar as apurações. Nessa nova
fase, Scliar deverá chamar novamente para depor os outros dirigentes da Previ na época da privatização, entre eles Jair Bilachi
(presidente), Cláudio Munhoz e
Henrique Pizzolato, atual diretor
de marketing do Banco do Brasil e
presidente do conselho deliberativo da Previ.
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