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São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

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PRIVATIZAÇÃO

João Bosco Madeiro prestou depoimento à PF

Ex-diretor sugere ingerência de Ricardo Sérgio em ações da Previ

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Em depoimento de quase seis horas na sexta-feira à Polícia Federal do Rio de Janeiro, o ex-diretor da Previ (o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) João Bosco Madeiro da Costa admitiu a ingerência de Ricardo Sérgio de Oliveira, então diretor da área internacional do Banco do Brasil, nas decisões do fundo na privatização da Telebrás, em julho de 1998, ao confirmar diálogo que ambos teriam travado antes desta data.
Segundo a Folha apurou, Bosco confirma no depoimento a veracidade de diálogo que foi reproduzido pela revista "Veja" em março de 2001- pouco antes do leilão da Telebrás. A conversa evidencia a influência do ex-diretor do BB sobre a Previ na privatização tanto da Telebrás como da Vale do Rio Doce. O diálogo publicado na revista é o seguinte:
Ricardo Sérgio: "Alô. Onde você está, boneca?"
Bosco: "Estou aqui começando a reunião com os fundos..."
Ricardo Sérgio: "Tá."
Bosco: "E se tudo ocorrer como imagino, estamos abrindo com o Opportunity pra Telemar, viu?"
Ricardo Sérgio: "Escuta, Bosco, é o seguinte: a gente está ficando, a cada dia, mais experiente, né? Mas ainda continuo muito preocupado com a grana porque, senão, daqui a pouco você vai pôr uns 2 bi..."
Bosco: "É, na Vale eu tive de botar 360 milhões a mais. Depois, peguei eles, dez dias depois."
Ricardo Sérgio: "Não sei, de fato, a montagem da grana. Outra coisa: não podemos criar um novo monstro. Não podemos criar um novo Benjamin [Benjamin Steinbruch, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, que liderou o consórcio de empresas que compraram a Vale]."
Procurado pela Folha, Ricardo Sérgio afirmou, por meio de sua assessoria, que, no período que ocupou a diretoria da área internacional do BB, ele travou vários diálogos com Bosco, assim como com outros diretores da Previ, mas não tinha como lembrar o teor deles. A reportagem da Folha não localizou Bosco, que está licenciado do BB.
A privatização da Telebrás é um capítulo rumoroso da história recente do país: há escutas clandestinas de telefones, como o grampo do BNDES, e acusação de pagamento de propinas.
Há cerca de quatro meses à frente do inquérito que apura essas acusações, o delegado Fábio Scliar, da Delegacia do Crime Organizado e Inquéritos Especiais, indiciou quatro ex-dirigentes do fundo de pensão do BB sob a acusação de terem infringido os artigos 4º (gestão fraudulenta) e 16º (atuação indevida do fundo como instituição financeira) da Lei do Colarinho Branco. Os indiciados são os ex-diretores da Previ João Bosco Madeiro da Costa, Vítor Paulo Camargo Gonçalves, Arlindo Magno e o ex-gerente da área de capitais Marco Antônio Horta.
O inquérito já tem cerca de cinco mil páginas. Um dos depoimentos mais importantes até agora foi o de João Bosco.
Nesta primeira fase do inquérito, que acaba amanhã, não haverá mais indiciamentos. Scliar irá encaminhar pedido à Justiça Federal de mais 90 dias de prazo para continuar as apurações. Nessa nova fase, Scliar deverá chamar novamente para depor os outros dirigentes da Previ na época da privatização, entre eles Jair Bilachi (presidente), Cláudio Munhoz e Henrique Pizzolato, atual diretor de marketing do Banco do Brasil e presidente do conselho deliberativo da Previ.


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