|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÕES
Dados enviados pelo Coaf à Procuradoria e à CPI dos Correios mostram transferências feitas de conta do BankBoston em 2003
Procurador recebeu R$ 902 mil de Valério
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes recebeu pelo menos R$ 902 mil do empresário mineiro Marcos Valério de
Souza, apontado como um dos
operadores do suposto pagamento de mesada a parlamentares.
O dado consta do conjunto de
dados enviados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) à Procuradoria Geral
da República e à CPI dos Correios.
São duas transferências eletrônicas de dinheiro, registradas em
relatório encaminhado pelo
BankBoston ao Coaf -uma de
R$ 782 mil e outra de R$ 120 mil,
ambas no final de 2003.
Guedes é citado na agenda e no
depoimento de Fernanda Karina
Somaggio à Polícia Federal. Secretária de Marcos Valério entre abril
de 2003 e janeiro de 2004, ela disse
aos policiais que a conta de um celular usado por Guedes -que
acreditava ser funcionário do
Banco Central, mas na verdade é
servidor da Fazenda Nacional-
seria paga pela SMPB.
Em depoimento à CPI dos Correios ontem, Marcos Valério disse
que seu relacionamento com
Guedes tinha caráter "esportivo",
pois o servidor, lotado no Rio de
Janeiro, freqüentaria o centro de
equitação do empresário em Belo
Horizonte.
Marcos Valério também confirmou aos parlamentares da CPI
que, mediante reembolso, comprava passagens aéreas para o servidor. A intermediação da transação, segundo o empresário, era
feita porque ele dispunha da facilidade de contar com os serviços
de uma secretária para comprar
os bilhetes.
O deputado Gustavo Fruet
(PSDB-PR) perguntou se as empresas de Valério fizeram pagamentos para Guedes. Ele negou.
Ao perguntar se nos saques havia
dinheiro para o procurador, ele
disse "que não há nenhum saque
das empresas DNA e SMBP para o
senhor Glênio Guedes."
A Folha tentou encontrar Guedes em seu apartamento no condomínio Saint Tropez, na Barra
da Tijuca (zona oeste do Rio). O
porteiro do prédio de luxo, situado em frente à praia, informou
que o procurador vendeu o apartamento havia menos de um mês.
Uma vizinha, que não quis se
identificar, disse que a informação não seria verdadeira e que
Guedes estaria em casa na hora
em que foi procurado. O pai de
Guedes, o advogado Ramon Guedes, afirmou que seu filho está em
Brasília e que ligaria de volta para
a Folha, o que não havia acontecido até a conclusão desta edição.
Guedes, que desde 1998 fazia
parte do Conselho de Recursos do
Sistema Financeiro Nacional, foi
afastado do cargo quando se tornou público seu relacionamento
com o publicitário Marcos Valério. Hoje é alvo de uma sindicância interna e será chamado para
prestar depoimento à Polícia Federal para esclarecer suas relações
com Valério.
Como integrante do conselho,
Guedes fazia pareceres sobre recursos administrativos apresentados por instituições financeiras
multadas pela Comissão de Valores Mobiliários, pelo Banco Central ou pela Secretaria de Comércio Exterior.
Sobre os poderes que Guedes teria para defender interesses no
âmbito do Conselho, Marcos Valério disse à CPI dos Correios que
o procurador não tinha direito a
voto naquele foro.
Investigação
O afastamento de Guedes ocorreu no dia 30 de junho, determinado pelo procurador-geral da
Fazenda Nacional, Manoel Felipe
Brandão. Na época, o procurador
foi chamado a Brasília e notificado a prestar esclarecimentos.
A Polícia Federal também
apreendeu juntamente com a
agenda da ex-secretária de Valério comprovante de reserva em
hotel feita pela Flytour Viagens e
Turismo em nome do procurador. Pelo comprovante, Guedes
teria se hospedado por dois dias
no hotel Mercure em Brasília de
10 a 11 de setembro de 2003 ao
custo de R$ 146 a diária.
Colaborou a Sucursal do Rio
Texto Anterior: Procurador-geral diz que notifica Lula se necessário Próximo Texto: Glênio pediu rejeição de processo contra Rural Índice
|