São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÕES

Dados enviados pelo Coaf à Procuradoria e à CPI dos Correios mostram transferências feitas de conta do BankBoston em 2003

Procurador recebeu R$ 902 mil de Valério

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes recebeu pelo menos R$ 902 mil do empresário mineiro Marcos Valério de Souza, apontado como um dos operadores do suposto pagamento de mesada a parlamentares.
O dado consta do conjunto de dados enviados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) à Procuradoria Geral da República e à CPI dos Correios.
São duas transferências eletrônicas de dinheiro, registradas em relatório encaminhado pelo BankBoston ao Coaf -uma de R$ 782 mil e outra de R$ 120 mil, ambas no final de 2003.
Guedes é citado na agenda e no depoimento de Fernanda Karina Somaggio à Polícia Federal. Secretária de Marcos Valério entre abril de 2003 e janeiro de 2004, ela disse aos policiais que a conta de um celular usado por Guedes -que acreditava ser funcionário do Banco Central, mas na verdade é servidor da Fazenda Nacional- seria paga pela SMPB.
Em depoimento à CPI dos Correios ontem, Marcos Valério disse que seu relacionamento com Guedes tinha caráter "esportivo", pois o servidor, lotado no Rio de Janeiro, freqüentaria o centro de equitação do empresário em Belo Horizonte.
Marcos Valério também confirmou aos parlamentares da CPI que, mediante reembolso, comprava passagens aéreas para o servidor. A intermediação da transação, segundo o empresário, era feita porque ele dispunha da facilidade de contar com os serviços de uma secretária para comprar os bilhetes.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) perguntou se as empresas de Valério fizeram pagamentos para Guedes. Ele negou. Ao perguntar se nos saques havia dinheiro para o procurador, ele disse "que não há nenhum saque das empresas DNA e SMBP para o senhor Glênio Guedes."
A Folha tentou encontrar Guedes em seu apartamento no condomínio Saint Tropez, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio). O porteiro do prédio de luxo, situado em frente à praia, informou que o procurador vendeu o apartamento havia menos de um mês.
Uma vizinha, que não quis se identificar, disse que a informação não seria verdadeira e que Guedes estaria em casa na hora em que foi procurado. O pai de Guedes, o advogado Ramon Guedes, afirmou que seu filho está em Brasília e que ligaria de volta para a Folha, o que não havia acontecido até a conclusão desta edição.
Guedes, que desde 1998 fazia parte do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, foi afastado do cargo quando se tornou público seu relacionamento com o publicitário Marcos Valério. Hoje é alvo de uma sindicância interna e será chamado para prestar depoimento à Polícia Federal para esclarecer suas relações com Valério.
Como integrante do conselho, Guedes fazia pareceres sobre recursos administrativos apresentados por instituições financeiras multadas pela Comissão de Valores Mobiliários, pelo Banco Central ou pela Secretaria de Comércio Exterior.
Sobre os poderes que Guedes teria para defender interesses no âmbito do Conselho, Marcos Valério disse à CPI dos Correios que o procurador não tinha direito a voto naquele foro.

Investigação
O afastamento de Guedes ocorreu no dia 30 de junho, determinado pelo procurador-geral da Fazenda Nacional, Manoel Felipe Brandão. Na época, o procurador foi chamado a Brasília e notificado a prestar esclarecimentos.
A Polícia Federal também apreendeu juntamente com a agenda da ex-secretária de Valério comprovante de reserva em hotel feita pela Flytour Viagens e Turismo em nome do procurador. Pelo comprovante, Guedes teria se hospedado por dois dias no hotel Mercure em Brasília de 10 a 11 de setembro de 2003 ao custo de R$ 146 a diária.


Colaborou a Sucursal do Rio


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