São Paulo, quinta, 7 de agosto de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCURSO 'Os piores cegos são os que não querem ver'


Leia trechos do pronunciamento do presidente FHC:
Eu queria, em primeiro lugar, dizer que hoje é um dia de boas notícias. Há uma notícia que convém rememorar. Foi constatada a mais baixa taxa de inflação desde 1951. Isso significa que, provavelmente, 80% dos brasileiros vivos nunca tinham assistido uma taxa de inflação tão baixa. Todos os que tem menos de 40 e poucos anos, não assistiram taxas de inflação desse nível. E isso é importante, porque não é apenas que a inflação se aproximou de zero, e que há muito tempo, desde que nós começamos o Plano Real, que o Brasil percebeu que iríamos controlar a inflação. E embora, naturalmente, os maledicentes de sempre dissessem, no início do Plano Real, quando ainda era presidente, o presidente Itamar Franco, que era, simplesmente para um período eleitoral, já perceberam que vai ser para muitos períodos eleitorais, porque não se fez isso com mira a eleição nenhuma, senão como um imperativo da recuperação da crença do Brasil nele próprio e na nossa capacidade de projetarmos o futuro.
Hoje, por sorte, os brasileiros sabem que a inflação e o maior inimigo do povo, mas que o governo está atento a isso e não há de ser porque qualquer motivo, muito menos eleitoreiro, que esta luta contínua contra a inflação deixará de ser travada. E ela vai ser vitoriosa porque o país todo está consciente disso. Mas há mais dados importantes, há mais fatos importantes a serem registrados, antes de eu me referir aos contratos que nós estamos assistindo aqui a assinatura. O IBGE publicou, o que eles chamaram da contagem feita em 1996. Eu acho que lá existem elementos para reforçar a confiança no Brasil. Em primeiro lugar a taxa de crescimento demográfico é de 1,38. Eu me recordo, quando eu estava no Senado, debates que tive com o senador Roberto Campos e que se discutia a questão demográfica. O senador Roberto Campos chamava a atenção para esse fato, que é um fato importante, de que nós tínhamos, na época, uma taxa demográfica explosiva. Ninguém imaginava que a transição demográfica fosse dar-se com a velocidade, como se deu no Brasil.
E mais ainda: o aumento das crianças que estão na escola pré-primária. Isso é muito importante também. E isso tem, também, um outro dado que aí é gritante e favorável, o ingresso das mulheres na força de trabalho. Que é enorme.
Mas ainda temos no Brasil um outro dado que é positivo para nós, é que nós temos 2 milhões e meio a mais de mulheres a mais do que de homens na nossa população. Então, eu acho que há muitos dados favoráveis, muito positivos. E a escolaridade das mulheres é mais alta do que a escolaridade dos homens. Então eu acho que nós estamos assistindo a uma mudança social profunda. É por isso que eu mencionei a inflação, o controle da inflação, porque é ilusório pensar que sem o controle da inflação teria sido possível haver a mudança social que está ocorrendo.
Só os piores cegos que são os que não querem ver, e que imaginam que o governo não esteja dando atenção ao social. É o contrário. Então, efetivamente nós estamos construindo um novo país. E nesse novo país, há uma parte que corresponde ao governo. E há uma parte que corresponde à sociedade. E não são partes distantes. Elas estão inter-relacionadas, e esse ato de hoje é um exemplo disso.
Corresponde ao governo, além das políticas sociais gerais, que são as mais importantes educação, de saúde, de atendimento às populações mais idosas, sobretudo a garantia do salário, portanto o combate à inflação, também a uma ação decidida na reestruturação econômica do nosso país.
É uma ilusão imaginar que seja possível, primeiro ter um crescimento nacional sem que haja uma integração num processo global.
No conceito clássico, quando forem ler Aristóteles ou os clássicos gregos que falavam em política, verão que incluia-se na definição da política, a felicidade. Saiu de moda, mas é preciso entender que não pode haver um projeto político que não seja um processo, também capaz de tornar mais feliz a população.
E eu vejo com agrado, os resultados dessas pesquisas continuadas que mostram que há um otimismo maior na população brasileira, quando comparada a situação de hoje com a do passado, e sobretudo quando se compara a expectativa para como futuro. Esse ingrediente de felicidade, que significa bem-estar, na verdade, tem que ser reintroduzido das nossas preocupações constantes.
Sabe também que o Estado não está sendo demolido pelo governo. Pelo contrário, está sendo reformulado para atender melhor a possibilidade de nós termos capacidade de competir e para que nós possamos ter políticas públicas que melhorem as condições de vida de nossa população.
De novo só não vê quem quer ser cego, que imagina que nós queremos a prevalência cega do mercado. É o contrário: nós estamos assistindo aqui a passagem de um capitalismo selvagem para um capitalismo com a consciência social. É um capitalismo com consciência social precisa de um governo que seja capaz de cobrar, de ter regras, de ter regulamentos e de expor ao país o que está sendo feito. É cobrar, não na burocracia fechada, mas cobrar na competição aberta e na prestação de contas contínuas ao Congresso e a sociedade.
Essa é a nova filosofia que inspira este governo. E ela será continuada porque ela é inspirada na necessidade do país. E está dando resultados. Não vou cansá-los, mas nós estamos refazendo toda a estrutura fundamental da vida brasileira.
E o papel do governo é, precisamente, o de fazer as articulações necessárias para que as coisas possam avançar com mais firmeza. Ainda ontem passei uma parte da noite discutindo com colaboradores nossos, com o professor Luciano Martins, a respeito do desempenho dos 33 principais grupos privados nacionais. Todos cresceram, todos estão em um processo de industrialização avançando. E, ao mesmo tempo, nunca houve tanto investimento direto, estrangeiro, como nesse momento no Brasil. As coisas não se excluem. E quem imaginar hoje que existe um mercado interno e mercado externo que são separados é que não está entendendo o que acontece no mundo. Nós precisamos que as empresas venham para o Brasil para competir aqui pelo mercado interno. E nós vamos fazer substituição com produção nossa, aqui, de um mercado interno crescente. E nós vamos crescer ao mesmo tempo as exportações e o mercado interno, porque esse é um país de dimensões continentais no qual o mercado interno será sempre fundamental, e os que estão investindo agora sabem que estão investindo porque nós temos um mercado interno, se não tivéssemos, não seria possível esses bilhões que, parece que com essas assinaturas, estão chegando.
É em função, não é de uma crença só num rumo, é na realidade material de um país que tem um mercado interno poderoso e, por consequência, essa oposição entre indústrias para exportar e indústria para o mercado interno é antiga, como se uma pudesse ser feita em detrimento da outra. As duas têm que ser feitas simultaneamente.
E agora entro, para não me alongar demais, na questão relativa às transformações que se estão operando no país, diretamente para a questão das telecomunicações. Já, mais de uma vez, pude externar aqui o meu entusiasmo pelo que está sendo feito pelo ministro e pelo Ministério das Comunicações nessa revolução branca nessa área. E é verdadeiro.
Estamos assistindo hoje, mais um passo. Haverá muitos outros mais, muitos outros mais. E este passo não é só a concessão que se faz, não se trata apenas da instalação de mais um serviço competitivo que vai baixar tarifas e vai beneficiar o consumidor, porque vai, e de ponto, de imediato.
Portanto, já falei até demais, simplesmente para reafirmar o meu entusiasmo pelo Brasil. (...) Quem aposta no Brasil aposta bem porque aposta num país que tem futuro.
Com uma diferença, é que o futuro do Brasil é agora. Nós levamos muitos anos sendo o país do futuro. Chegou o futuro, o futuro é hoje, o futuro é agora. E o que nós estamos assistindo aqui são assinaturas para dar, para crismar aquilo que já foi batizado, que era, que o nosso é hoje.
Muito obrigado.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.