São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOCORRO A BANCOS
Para Ministério Público, mudança em depoimento reforça tese de que diretora pode influenciar subordinados
Procuradoria insiste em afastar Grossi

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério Público vai insistir no afastamento da diretora de Fiscalização do Banco Central, Tereza Grossi Togni, por causa de seu envolvimento no socorro ao Banco Marka.
O socorro aos bancos Marka e FonteCindam, em janeiro de 99, causou um prejuízo aos cofres público de R$ 1,6 bilhão. Grossi era chefe interina do Departamento de Fiscalização do BC.
O principal argumento dos procuradores da República é a mudança do depoimento sobre o socorro feito pelo chefe do Departamento de Fiscalização Indireta do BC, Vânio Aguiar.
No ano passado, o funcionário do BC havia dado um depoimento à Polícia Federal em que contava poucos detalhes.
Dias atrás, Vânio Aguiar contou uma história diferente à Justiça Federal, num depoimento feito de surpresa no Rio de Janeiro.
Para os procuradores que pretendem afastar Tereza Grossi da diretoria de Fiscalização do Banco Central, a mudança de versão do funcionário do BC reforça a tese de que a diretora poderá coagir funcionários sob seu comando para omitir informações em depoimentos à Justiça.

Processos anteriores
Na semana passada, o juiz Amilcar Machado, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, decidiu derrubar a liminar que afastava Tereza Grossi sustentando que os funcionários do BC já depuseram em processos anteriores -e, portanto, iriam repetir tudo novamente em uma nova ação de improbidade administrativa.
Para os procuradores, a mudança no depoimento de Aguiar é um sinal de que os funcionários do BC têm ainda muita coisa a contar e que, por isso, é necessário tirá-los da influência da diretora do Banco Central.
Na época, o Ministério Público chegou a cogitar a hipótese de processar Vânio Aguiar por omissão de informações em depoimento.

Ponto obscuro
O ponto obscuro do depoimento do funcionário do Banco Central envolve as garantias da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) que cobririam prejuízos decorrentes da quebra de instituições financeiras.
Em depoimento dado à Justiça Federal em 12 de julho passado, Aguiar contou que um representante da BM&F, Antônio Carlos Mendes Barbosa, disse que as garantias só poderiam ser usadas para cobrir o prejuízo causado pelo Marka caso essa instituição financeira fosse liquidada.
Aguiar contou ainda que, além do Marka, a BM&F seria obrigada a solicitar a liquidação de outras instituições financeiras, pois seria desencadeado um efeito dominó dentro da Bolsa.
Todas essas informações foram omitidas em depoimento anterior dado à Polícia Federal pelo próprio funcionário do BC, em maio de 1999.
Durante o depoimento na Justiça, os procuradores notaram a mudança de versão de Vânio Aguiar e cobraram a omissão de informações.

Situação "mais leve"
Aguiar disse que não contou nada antes porque não conhecia detalhes técnicos e que, "naquela ocasião, a situação era mais leve do que hoje".
Os procuradores pediram mais explicações sobre o que seria essa situação "mais leve".
"É que o processo penal hoje implica uma situação de maiores esclarecimentos de dúvidas que tenham surgido de outros depoimentos", disse Aguiar.
A Folha procurou ontem Vânio Aguiar em seu telefone residencial, mas não conseguiu localizá-lo.



Texto Anterior: Congresso do MST pede CPI sobre obra
Próximo Texto: Memória: Filha de JK é enterrada em Brasília
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.