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PÚBLICO X PRIVADO
Prestação de contas do Viva Rio sobre programa desenvolvido pela Fundação Roberto Marinho teria irregularidades
Auditoria contesta convênio de telecurso
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Auditoria especial da Prefeitura
do Rio de Janeiro apontou ""impropriedades" nas prestações de
contas da organização não-governamental Viva Rio em convênios
firmados com o município para
aplicar o programa Telecurso
2000, desenvolvido pela Fundação Roberto Marinho.
De 1997 a 2000, a Secretaria Municipal do Trabalho e o Viva Rio
assinaram cinco convênios, estipulando o repasse de R$ 10,8 milhões dos cofres municipais para a
ONG. Da previsão, R$ 9,9 milhões
foram efetivamente entregues.
O Relatório da Auditoria Geral
094/2001-E constatou:
1) falta de comprovação de algumas despesas (não teriam sido
apresentadas notas fiscais);
2) gastos em desacordo com os
objetivos do programa -verbas
teriam sido consumidas em alimentação, o que não estava previsto no convênio;
3) contradição entre prestação
de contas e extrato bancário (há
uma conta corrente exclusiva para o projeto, e cada gasto tem de
estar registrado no banco);
4) e realização de despesas de
março a maio de 1999, depois da
vigência de um convênio encerrado em fevereiro daquele ano.
No total, as supostas falhas
apontadas pelo levantamento, incluindo outros problemas, chegariam a R$ 157 mil. Sem poder de
decisão, a auditoria aberta em janeiro e divulgada na semana passada recomenda a devolução de
parte -variável conforme eventuais explicações da ONG- dessa
quantia ao Tesouro Municipal.
Foi analisada parcela minoritária dos demonstrativos contábeis.
O documento diz que podem não
ter sido identificados "todos os
problemas e ajustes aplicáveis aos
processos de despesa".
Os auditores descobriram que o
diretor-executivo do Viva Rio,
Rubem César Fernandes, contratou para prestar serviços no convênio 002/97 uma empresa privada da qual ele é dono, a Antinomias Empreendimentos Ltda.
O procedimento não foi qualificado de ilegal, mas definido como
""conflito de interesses", porque o
dirigente de uma entidade sem
fins lucrativos teria aproveitado
uma iniciativa da ONG para que
sua firma lucrasse. Conforme nota arquivada pela auditoria, a Antinomias recebeu R$ 5.750.
O Viva Rio, uma das mais influentes ONGs cariocas, nega irregularidade no emprego das verbas e na prestação de contas, mas
confirma a contratação da empresa de seu líder como consultora.
O primeiro convênio, de 1997,
montou 144 telessalas (salas de
aula com TV e vídeo onde a lição é
apresentada num programa exibido na tela) em favelas do Rio.
O objetivo era formar cerca de
3.900 alunos no ensino fundamental (primeiro grau) com base
na metodologia do Telecurso
2000 -espécie de supletivo. Cada
turma recebeu 52 vídeos e, cada
aluno, 16 livros didáticos.
Sem licitação, todos os vídeos e
livros foram comprados da Editora Globo, empresa das Organizações Globo, cujos proprietários,
em 1977, criaram a Fundação Roberto Marinho, instituição privada sem fins lucrativos.
A assessoria de imprensa da
editora informou que a área de
publicações da empresa não sabe
de quanto foi o faturamento com
os convênios alvo da auditoria,
nem mesmo a quantidade de livros e vídeos vendidos. Segundo a
Globo, a informação poderia ser
dada pela Fundação Roberto Marinho, que negou ter os dados.
Segundo o Viva Rio, o material
didático é responsável por 12%
das despesas, o segundo item
mais dispendioso, atrás da remuneração dos orientadores pedagógicos (42%). Considerando a
soma entregue à ONG pela prefeitura, projeta-se a receita da editora em R$ 1,2 milhão, levando em
conta os cinco convênios.
O Viva Rio afirma não ter havido licitação porque a compra não
foi feita por órgão público e porque a Editora Globo é fornecedora exclusiva de livros e vídeos para
o telecurso. A auditoria não analisou os termos do convênio, apenas as prestações de contas.
Os outros quatro programas
montaram em média 100 salas do
telecurso. O último convênio, que
iria de outubro de 2000 a setembro de 2001, foi interrompido em
janeiro pelo prefeito Cesar Maia
(hoje no PFL). Todos os convênios haviam sido assinados na
gestão do seu antecessor e adversário, Luiz Paulo Conde (atualmente sem partido).
O controlador-geral do município, Lino Martins da Silva, diz que
ONGs têm feito contratos com órgãos públicos representando,
muitas vezes, interesses de empresas privadas. Não disse se o Viva Rio se enquadraria na avaliação. Em janeiro, decreto da prefeitura mudou o critério de seleção de ONGs para convênios. "O
objetivo é haver um processo
maior de abertura."
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