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REFORMA SOB PRESSÃO
Governo contornou chantagem do PMDB com votos de última hora que obteve no PSDB e no PFL
Oposição compensou defecções dos aliados
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL EM BRASÍLIA
Nos cálculos do ministro José
Dirceu (Casa Civil), o governo federal teria 50 votos da oposição na
reforma da Previdência. Teve 65.
Sem eles, não teria aprovado o
texto ontem. Funcionou a aliança
com os governadores, mas também a promessa e a liberação de
emendas ao Orçamento apresentadas por deputados nos Orçamentos de 2002 e 2003.
Foram sobretudo os 33 votos do
PFL e 29 do PSDB que compensaram as defecções na base de sustentação política do governo, sem
os quais a proposta não seria
aprovada. E que permitiram ao
governo enfrentar uma chantagem de última hora do PMDB,
que ameaçava não votar caso não
tivesse seus pleitos por cargos e
verbas atendidos imediatamente.
Sob pressão, o Planalto jogou
duro: avisou que já dispunha de
312 votos assegurados. Mesmo
que nenhum deputado do PMDB
votasse a favor. Não estava blefando: aberto o painel de votações,
verificou-se que mesmo sem os 45
votos dados pelo partido o projeto de reforma ainda teria 313
"sim", quando eram necessários
308 votos dos deputados.
Verbas
O Planalto insiste que o ritmo
das liberações é normal e que não
usou verbas para convencer deputados, mas desde o dia 4 passado até ontem só o Fundo Nacional
de Saúde pagou R$ 2,4 milhões
para projetos de interesse de 48
congressistas. A maioria do PFL e
do PSDB. Deputados que votaram a favor da proposta de reforma da Previdência Social.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário, do dia 1º até ontem, liberou R$ 9,4 milhões para
os municípios. Nos dois últimos
dias, técnicos da Câmara encarregados de acompanhar a execução
do Orçamento encontraram dificuldades de acesso ao Siafi. Mas
há liberações em várias pastas.
A liberação de verbas do Orçamento foi um instrumento usado
pelo governo para domesticar
oposicionistas e parte da base
aliada, mas a articulação do Planalto foi bem mais ampla e contou com o apoio decisivo dos governadores de Estados. Quatro
deles se destacaram, três tucanos,
Geraldo Alckmin (SP), Aécio Neves (MG) e Lúcio Alcântara (CE),
e um pefelista, Paulo Souto (BA).
O governador do Ceará foi pessoalmente a Brasília anteontem,
dia da votação. Conversou com
deputados tucanos e teve bom resultado: os oito do PSDB votaram
a favor da reforma. Aécio, um dos
melhores interlocutores de Lula
entre os governadores, deu cinco
votos do PSDB mineiro ao projeto. Alckmin conseguiu fazer com
que seis votassem pelas reformas.
A exceção entre os governadores tucanos foi Simão Jatene (PA).
Descontente com a indefinição do
governo sobre a criação do fundo
para compensar a desoneração
das exportações na reforma tributária, instruiu seus parlamentares
aliados a votarem contra.
Entre os governadores pefelistas, quem deu o maior apoio ao
Planalto foi Souto, afilhado político do senador Antonio Carlos
Magalhães. Nada menos que 19
dos 20 pefelistas baianos apoiaram o governo. A exceção foi o líder da bancada, José Carlos Aleluia, em rota de colisão com ACM.
"O governador nos mostrou as
contas do governo e nos convenceu de que a reforma é positiva
para a Bahia. Por isso tínhamos
obrigação de votar a favor", afirmou o deputado ACM Neto.
Outros governadores pefelistas
também orientaram suas bancadas a votar a favor, caso de João
Alves (SE) e José Reinaldo Tavares (MA), ligado ao grupo político
do presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP).
No lado do PMDB, Roberto Requião (PR) conseguiu convencer
seus seis deputados a votarem
com o governo. Germano Rigotto
(RS) e Luiz Henrique (SC) conseguiram virar os votos de parte de
suas bancadas, que prometiam
votar inteiramente contra a reforma. No comando de toda a operação palaciana esteve o ministro
Dirceu. No dia da votação, além
dos telefonemas e reuniões com
governadores e líderes aliados, ele
encontrou tempo para fazer uma
reunião com o líder do PFL, Aleluia, e conversar com o líder do
PSDB, Jutahy Magalhães (BA).
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