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REFORMA SOB PRESSÃO
Analistas consideram aprovação da previdenciária "um marco" e aprovam fundo para novos servidores
Wall Street elogia votação, mas vê "perigos"
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Com a ressalva de que o projeto
ainda pode ser desfigurado no
Congresso, alguns dos principais
analistas de Wall Street com interesses no Brasil consideraram a
aprovação em primeiro turno da
reforma da Previdência uma vitória do governo e um marco para
mudanças estruturais no país.
O ponto que mais agradou ao
mercado foi a aprovação do fundo de aposentadoria para os novos servidores. Segundo o projeto, os novos funcionários públicos terão de contribuir com valores definidos previamente e vão
receber, ao se aposentar, benefícios que serão calculados de acordo com o rendimento dos fundos
-e não determinados por lei.
Para Arturo Porzecanski, diretor-gerente do banco ABN/Amro,
em Nova York, a aprovação da reforma tem um "significa simbólico enorme". "A parte mais difícil
do meu trabalho sempre foi explicar aos investidores estrangeiros
como um país pobre como o Brasil se dá ao luxo de pagar aposentadorias integrais a funcionários
públicos", diz Porzecanski, que
opera há 26 anos com o Brasil.
O diretor do ABN/Amro afirma,
no entanto, que o mercado continua "cético" com as novas votações que devem tratar dos detalhes da reforma. "A emenda não
está fora de perigo. O exemplo da
Lei de Falências, que iria à votação
e acabou saindo da pauta há poucos dias, ainda causa apreensão
no mercado", diz Porzecanski.
Ontem, a cotação do dólar subiu 1,13%, fechando a R$ 3,055, e o
risco-Brasil teve alta de 6,32%.
Para Paulo Vieira da Cunha,
economista-chefe do banco
HSBC, o importante para o mercado é que as reformas coloquem
o Brasil "em uma posição de garantir o pagamento, no futuro, de
suas dívidas interna e externa".
Nesse sentido, saiu "melhor do
que o esperado" a decisão de criar
o fundo com benefício variável
para novos funcionários públicos.
Embora diga que a votação de
ontem representa um "marco", o
economista do HSBC afirma que
o Brasil "ainda tem muitos desafios pela frente", como voltar a
crescer e aprovar uma reforma
tributária que não signifique apenas um aumento de arrecadação.
Felipe Illanes, diretor-adjunto
da corretora Merrill Lynch, também elogiou o fato de o projeto ter
determinado a criação do fundo
para os novos servidores. "A contribuição definida, e não o benefício, está em linha com as recentes
reformas feitas no mundo todo."
Para o economista, o governo
Lula também "mostrou um bom
esforço de coordenação" ao antecipar em um dia a votação no
Congresso com o objetivo de esvaziar os protestos de servidores.
O economista da Merrill Lynch
afirma, no entanto, que os indicadores financeiros no Brasil devem
continuar em uma fase de turbulência em função de rearranjos na
economia americana.
Para Mark Smith, vice-presidente da Câmara de Comércio
dos EUA, que representa 75 empresas americanas com negócios
no Brasil, a primeira votação da
reforma foi "muito positiva e um
bom começo". "Mas ainda há
uma série de votações pela frente
e precisamos ver se o projeto seguirá em frente sem mudanças estruturais importantes", afirma.
"É um bom sinal e gostaria de
estar mais entusiasmado com essa decisão", diz Miguel Diaz, diretor para América do Sul do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, de Washington. "A votação em primeiro turno é importante, mas é ainda uma parte do
quebra-cabeça das reformas que
o Brasil precisa fazer."
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