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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Analistas consideram aprovação da previdenciária "um marco" e aprovam fundo para novos servidores

Wall Street elogia votação, mas vê "perigos"

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Com a ressalva de que o projeto ainda pode ser desfigurado no Congresso, alguns dos principais analistas de Wall Street com interesses no Brasil consideraram a aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência uma vitória do governo e um marco para mudanças estruturais no país.
O ponto que mais agradou ao mercado foi a aprovação do fundo de aposentadoria para os novos servidores. Segundo o projeto, os novos funcionários públicos terão de contribuir com valores definidos previamente e vão receber, ao se aposentar, benefícios que serão calculados de acordo com o rendimento dos fundos -e não determinados por lei.
Para Arturo Porzecanski, diretor-gerente do banco ABN/Amro, em Nova York, a aprovação da reforma tem um "significa simbólico enorme". "A parte mais difícil do meu trabalho sempre foi explicar aos investidores estrangeiros como um país pobre como o Brasil se dá ao luxo de pagar aposentadorias integrais a funcionários públicos", diz Porzecanski, que opera há 26 anos com o Brasil.
O diretor do ABN/Amro afirma, no entanto, que o mercado continua "cético" com as novas votações que devem tratar dos detalhes da reforma. "A emenda não está fora de perigo. O exemplo da Lei de Falências, que iria à votação e acabou saindo da pauta há poucos dias, ainda causa apreensão no mercado", diz Porzecanski.
Ontem, a cotação do dólar subiu 1,13%, fechando a R$ 3,055, e o risco-Brasil teve alta de 6,32%.
Para Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe do banco HSBC, o importante para o mercado é que as reformas coloquem o Brasil "em uma posição de garantir o pagamento, no futuro, de suas dívidas interna e externa". Nesse sentido, saiu "melhor do que o esperado" a decisão de criar o fundo com benefício variável para novos funcionários públicos.
Embora diga que a votação de ontem representa um "marco", o economista do HSBC afirma que o Brasil "ainda tem muitos desafios pela frente", como voltar a crescer e aprovar uma reforma tributária que não signifique apenas um aumento de arrecadação.
Felipe Illanes, diretor-adjunto da corretora Merrill Lynch, também elogiou o fato de o projeto ter determinado a criação do fundo para os novos servidores. "A contribuição definida, e não o benefício, está em linha com as recentes reformas feitas no mundo todo."
Para o economista, o governo Lula também "mostrou um bom esforço de coordenação" ao antecipar em um dia a votação no Congresso com o objetivo de esvaziar os protestos de servidores.
O economista da Merrill Lynch afirma, no entanto, que os indicadores financeiros no Brasil devem continuar em uma fase de turbulência em função de rearranjos na economia americana.
Para Mark Smith, vice-presidente da Câmara de Comércio dos EUA, que representa 75 empresas americanas com negócios no Brasil, a primeira votação da reforma foi "muito positiva e um bom começo". "Mas ainda há uma série de votações pela frente e precisamos ver se o projeto seguirá em frente sem mudanças estruturais importantes", afirma.
"É um bom sinal e gostaria de estar mais entusiasmado com essa decisão", diz Miguel Diaz, diretor para América do Sul do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, de Washington. "A votação em primeiro turno é importante, mas é ainda uma parte do quebra-cabeça das reformas que o Brasil precisa fazer."


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