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ELEIÇÕES 2004/GEOGRAFIA DO VOTO
Segundo estudo sobre as eleições de 1996 a 2002, PT, PSDB e o malufismo são sempre bem votados em certas regiões da cidade
Voto paulistano tem redutos partidários
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
O voto paulistano tem geografia
social. Longe de ser errático, obedece a um padrão partidário que
desenha no mapa da cidade o reduto tucano, o petista e o malufista. Encurralada entre eles, uma
zona cuja principal característica
é a intensa disputa do eleitor.
De 1996 para cá, em qualquer
pleito disputado em São Paulo, os
petistas tiveram desempenho melhor em seu reduto -34 distritos- do que na média obtida no
município. Do eleitorado de dez
distritos, o PSDB obtém, eleição
após eleição, seu melhor percentual de votos comparativamente.
Paulo Maluf (PP), ou candidatos
apoiados por ele, repetem a performance em 35 outras áreas.
O panorama recortou anéis de
território na cidade: o mais central, fica com o PSDB -onde estão os melhores indicadores sociais. Ao redor dele, uma área disputada principalmente entre tucanos e petistas, região que separa
o primeiro anel da zona malufista
-aí os índices de renda e escolaridade são mais próximos da média do município. Nas bordas de
São Paulo, zonas leste e sul: o PT
-onde estão os paulistanos mais
pobres.
O mapa das eleições de São Paulo é resultado de uma pesquisa do
Centro de Estudos da Metrópole
do Cebrap (Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento). Os estudiosos, cruzando dados eleitorais
de 2000 e informações do IBGE,
utilizaram uma técnica estatística
para encontrar os padrões de disputa da esquerda, da direita e do
centro nas regiões da cidade.
O modelo de comportamento
das três forças se repetiu, nas mesmas regiões, nas eleições de 96, 98
e 2002 -o que mostra que o padrão persiste, quer eleições para o
executivo ou legislativas, municipais, estaduais e federais.
Coordenadores do estudo, que
teve os primeiros resultados publicados em 2002, os cientistas
políticos Fernando Limongi e Argelina Figueiredo resumem o
achado: em rebate às teorias que
sustentam a matriz personalista
do sistema político brasileiro, os
partidos estruturam, sim, o voto
na cidade. São eles que restringem
as opções do eleitor de São Paulo.
Um fenômeno paulistano? Embora sem dados comparáveis em
outros locais, a divisão tão clara
entre as três forças dá indicativos
de ser mais forte em São Paulo. A
atual geografia social já se sinalizava em estudos décadas atrás
-direita e centro no miolo mais
rico, e a esquerda nas periferias.
Os pesquisadores afirmam que,
embora longe de garantir vitória
nas urnas, os redutos são "um capital de votos" -base de apoio
sólida que dá às siglas "viabilidade em qualquer disputa eleitoral".
Os redutos tem tamanho e peso
eleitoral diferentes. O eleitorado
mais petista se espalha por uma
região que corresponde a 41% dos
votos da cidade (eleição de 2000).
Inclui Sapopemba (leste) e Parelheiros (sul). Mais que petista, esse é o cinturão do melhor desempenho da esquerda.
Em 2000, 45% dos votos que levaram Marta Suplicy ao segundo
turno na disputa pela prefeitura
paulistana vieram do reduto. Ela
teve o apoio de 41,37% dos eleitores da região, enquanto na cidade
sua média foi 38%. O dado mostra
quão dependentes são os petistas
do desempenho em seu reduto.
A mancha tucana é menor e
mais concentrada que a petista
(10% do eleitorado) e fiel na polarização entre PT e PSDB. De 96
para cá, os tucanos jamais perderam para petistas na região, a pior
para a esquerda. Nela, José Serra
teve 50,1% dos votos para presidente em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu na cidade.
Até pela redução de reduto, que
inclui bairros como Pinheiros, é
na disputa nos redutos rivais que
está o êxito ou não do PSDB.
A zona em que trava disputa
mais acirrada é o anel em torno
do centro expandido -a segunda
mais rica da cidade, onde estão
bairros como Santa Cecília e Barra Funda. Ali, Serra ganhou com
folga de Lula em 2002. Mas Marta
ganhou de Alckmin em 2000. São
15 distritos e 12% do eleitorado.
O reduto malufista, com bairros
como Tatuapé e Vila Maria, é extenso: 37% dos votos. Nele, Maluf
teve 20% no primeiro turno de
2000, o equivalente a 41% de seus
votos na cidade. A votação para a
direita foi de 35% nessa região.
Razões do endereço
Desenhado o mapa do voto, à
pergunta seguinte: quais as razões
do endereço? Embora esse tema
não seja explorado pelo Cebrap,
Argelina Figueiredo apresenta
dados da formação petista: o extremo da zona leste, uma das
áreas da sigla, faz fronteira com a
região do ABC, berço do PT. "Há
movimentos de moradia, de saúde. São dados conhecidos."
Sobre o mapa, o autor de "Os
Partidos Políticos no Brasil", Rogério Schmitt (USP), diz que o PT
terminou seu processo de expansão em 2000: "Se houver acréscimo, é muito pequeno". Já no candidato tucano, Schmitt enxerga
possibilidade de alargar sua distribuição de votos. "Em 2002, Serra se tornou mais conhecido."
O sociólogo Flávio Pierucci, estudioso do malufismo, diz do mapa de 2000: se a formação da região mais classe social se relacionavam com a afinidade conservadora do eleitorado, as razões já
não são suficientes agora. "O Tatuapé que pesquisei era muito diferente, não era esse "morumbizinho". O Tatuapé não é mais um
bairro de classe média baixa. E
ainda assim é malufista". O que
no início era fator a ser explicado
-a localização- passa a ser um
fator explicador, diz ele.
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