São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/GEOGRAFIA DO VOTO

Segundo estudo sobre as eleições de 1996 a 2002, PT, PSDB e o malufismo são sempre bem votados em certas regiões da cidade

Voto paulistano tem redutos partidários

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

O voto paulistano tem geografia social. Longe de ser errático, obedece a um padrão partidário que desenha no mapa da cidade o reduto tucano, o petista e o malufista. Encurralada entre eles, uma zona cuja principal característica é a intensa disputa do eleitor.
De 1996 para cá, em qualquer pleito disputado em São Paulo, os petistas tiveram desempenho melhor em seu reduto -34 distritos- do que na média obtida no município. Do eleitorado de dez distritos, o PSDB obtém, eleição após eleição, seu melhor percentual de votos comparativamente. Paulo Maluf (PP), ou candidatos apoiados por ele, repetem a performance em 35 outras áreas.
O panorama recortou anéis de território na cidade: o mais central, fica com o PSDB -onde estão os melhores indicadores sociais. Ao redor dele, uma área disputada principalmente entre tucanos e petistas, região que separa o primeiro anel da zona malufista -aí os índices de renda e escolaridade são mais próximos da média do município. Nas bordas de São Paulo, zonas leste e sul: o PT -onde estão os paulistanos mais pobres.
O mapa das eleições de São Paulo é resultado de uma pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Os estudiosos, cruzando dados eleitorais de 2000 e informações do IBGE, utilizaram uma técnica estatística para encontrar os padrões de disputa da esquerda, da direita e do centro nas regiões da cidade.
O modelo de comportamento das três forças se repetiu, nas mesmas regiões, nas eleições de 96, 98 e 2002 -o que mostra que o padrão persiste, quer eleições para o executivo ou legislativas, municipais, estaduais e federais.
Coordenadores do estudo, que teve os primeiros resultados publicados em 2002, os cientistas políticos Fernando Limongi e Argelina Figueiredo resumem o achado: em rebate às teorias que sustentam a matriz personalista do sistema político brasileiro, os partidos estruturam, sim, o voto na cidade. São eles que restringem as opções do eleitor de São Paulo.
Um fenômeno paulistano? Embora sem dados comparáveis em outros locais, a divisão tão clara entre as três forças dá indicativos de ser mais forte em São Paulo. A atual geografia social já se sinalizava em estudos décadas atrás -direita e centro no miolo mais rico, e a esquerda nas periferias.
Os pesquisadores afirmam que, embora longe de garantir vitória nas urnas, os redutos são "um capital de votos" -base de apoio sólida que dá às siglas "viabilidade em qualquer disputa eleitoral".
Os redutos tem tamanho e peso eleitoral diferentes. O eleitorado mais petista se espalha por uma região que corresponde a 41% dos votos da cidade (eleição de 2000). Inclui Sapopemba (leste) e Parelheiros (sul). Mais que petista, esse é o cinturão do melhor desempenho da esquerda.
Em 2000, 45% dos votos que levaram Marta Suplicy ao segundo turno na disputa pela prefeitura paulistana vieram do reduto. Ela teve o apoio de 41,37% dos eleitores da região, enquanto na cidade sua média foi 38%. O dado mostra quão dependentes são os petistas do desempenho em seu reduto.
A mancha tucana é menor e mais concentrada que a petista (10% do eleitorado) e fiel na polarização entre PT e PSDB. De 96 para cá, os tucanos jamais perderam para petistas na região, a pior para a esquerda. Nela, José Serra teve 50,1% dos votos para presidente em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu na cidade. Até pela redução de reduto, que inclui bairros como Pinheiros, é na disputa nos redutos rivais que está o êxito ou não do PSDB.
A zona em que trava disputa mais acirrada é o anel em torno do centro expandido -a segunda mais rica da cidade, onde estão bairros como Santa Cecília e Barra Funda. Ali, Serra ganhou com folga de Lula em 2002. Mas Marta ganhou de Alckmin em 2000. São 15 distritos e 12% do eleitorado.
O reduto malufista, com bairros como Tatuapé e Vila Maria, é extenso: 37% dos votos. Nele, Maluf teve 20% no primeiro turno de 2000, o equivalente a 41% de seus votos na cidade. A votação para a direita foi de 35% nessa região.

Razões do endereço
Desenhado o mapa do voto, à pergunta seguinte: quais as razões do endereço? Embora esse tema não seja explorado pelo Cebrap, Argelina Figueiredo apresenta dados da formação petista: o extremo da zona leste, uma das áreas da sigla, faz fronteira com a região do ABC, berço do PT. "Há movimentos de moradia, de saúde. São dados conhecidos."
Sobre o mapa, o autor de "Os Partidos Políticos no Brasil", Rogério Schmitt (USP), diz que o PT terminou seu processo de expansão em 2000: "Se houver acréscimo, é muito pequeno". Já no candidato tucano, Schmitt enxerga possibilidade de alargar sua distribuição de votos. "Em 2002, Serra se tornou mais conhecido."
O sociólogo Flávio Pierucci, estudioso do malufismo, diz do mapa de 2000: se a formação da região mais classe social se relacionavam com a afinidade conservadora do eleitorado, as razões já não são suficientes agora. "O Tatuapé que pesquisei era muito diferente, não era esse "morumbizinho". O Tatuapé não é mais um bairro de classe média baixa. E ainda assim é malufista". O que no início era fator a ser explicado -a localização- passa a ser um fator explicador, diz ele.


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