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ELIO GASPARI
Lula é um patrão feroz
Por conta da abulia do governo e da acefalia do Ministério da Previdência, Lula preside
uma greve de servidores do INSS
que amanhã entrará no seu 67º
dia. Como é uma greve que bate
só no andar de baixo, o governo
do companheiro quer matá-la de
inanição. Que se dane a patuléia
que depende da previdência pública e sofre o seu efeito. Pode-se
estimar que já deixaram de ser
atendidos cerca de 4 milhões de
pessoas que vão ao INSS cuidar
de seus interesses. Mais de 100 mil
pedidos de benefícios deixaram
de ser encaminhados. Nenhuma
perícia médica foi marcada.
A greve do INSS começou quando apenas surgiam sinais de que
Roberto Jefferson estouraria a fila
do "mensalão". O governo mostra-se compreensivo diante da lista do Banco Rural e nada oferece
senão intransigência à fila da
choldra. Lula não disse uma só
palavra sobre a greve do INSS.
Nem para denunciá-la.
Quem viu o documentário "Entreatos", de João Moreira Salles,
testemunhou a crueldade com
que o companheiro cravou um
adjetivo ("pelegão") no ex-líder
sindical e ex-presidente polonês
Lech Walesa. Numa hora em que
Lula busca suas bases populares
no Piauí, alguns números sugerem que, no seu lugar, Walesa estaria redecorando a Daslu:
Durante oito anos de tucanato,
os servidores do INSS fizeram 286
dias de greve. Desde que Lula tomou posse, os dias parados já somam 161. Admitindo-se que nesse
período as greves ficaram restritas a 50 mil trabalhadores (pouco
mais que metade da categoria),
as paralisações do INSS já queimaram 8 milhões de jornadas de
trabalho.
Para quem lembra do Lula do
ABC, a grande greve metalúrgica
de 1978 parou 200 mil operários e
torrou perto de meio milhão de
turnos de trabalho. A greve do
INSS deste ano já é seis vezes
maior que a de 1978. Como bate
nas costas do trabalhador, finge-se que ela acontece em Saturno.
No papel de patrão, Lula é um
negociador mais competente e
frio do que o empresariado que
enfrentou ao tempo de sua encarnação sindicalista.
As alegres comadres de Brasília
Assim como Gabriel García
Márquez levou a memória de suas
"Putas Tristes" para as livrarias, o
senador Demóstenes Torres trouxe para a ata da CPI dos Correios
personagens da crônica das moças alegres das noites de Brasília.
Ele perguntou a Simone Vasconcelos, maquinista do trem pagador do "mensalão", se conhecia
alguma senhora de nome Geane.
Nem pensar.
Geane Mary Corner seria uma
cafetina federal e sua escuderia assegura companhia de qualidade
para grandes amigos de bons
amigos.
Corre na noite de Brasília uma
história segundo a qual uma
acompanhante teria cobrado R$
20 mil de cachê (US$ 8.400) ao
propinoduto.
É nessa hora que mais uma vez
o mundo se curva ante o Brasil. A
peça mais famosa (e cara) do circuito de Wall Street cobra metade
disso por quatro horas de atendimento. Ela se chama Natalia e há
poucas semanas esteve na capa da
revista "New York". Tem 25 anos
e medidas banais, mas foi cotada
17 vezes seguidas como 10/10 numa espécie de Michelin da cama.
Natalia conta que ama o trabalho
de sua pessoa jurídica e reconhece
que, como pessoa física, sairia numa boa com oito em cada dez de
seus clientes. Na média, sua carga
passa das cinco horas diárias.
Natalia cobra US$ 2.000 por hora (R$ 4.800), com bandeirada
mínima de quatro horas.
Serviço: a história de Natalia e
de seu cafetão Jason (em cana) está no seguinte endereço, em inglês: http://newyorkmetro.com/
nymetro/nightlife/sex/features/
12193/
Sabedoria
Diálogo de Brasília:
- Que ordinário esse rato. Está abandonando o navio.
- Claro. Ele é rato, não é burro.
O bode brasileiro
No dia 3 de março de 2003 Lula
disse o seguinte: "A responsabilidade (...) não é do presidente da República, não é do governador do Estado, não é dos
prefeitos das cidades. A culpa é,
na verdade, de todos nós, brasileiros. É preciso que a gente pare de culpar o nosso vizinho".
A patuléia agradece se Lula parar de culpar os "brasileiros".
Nesse mesmo dia, a agência de
Brasília do Banco Rural começou a pagar a turma do "mensalão". Nos três meses seguintes distribuiu R$ 10 milhões.
Diplomacia fominha
Balanço de uma política externa de jogador fominha, aquele
que não solta a bola:
Azedou as relações com a Argentina.
O candidato a presidente da
OMC foi desclassificado na
prévia.
O candidato à presidência do
BID perdeu a disputa e o Brasil
ficou sem a vice-presidência.
Durante dois anos Lula cortejou potentados africanos perdoando dívidas e distribuindo
empréstimos. Os africanos detonaram a proposta de reforma
do Conselho de Segurança da
ONU, que daria uma cadeira ao
Brasil.
Lei de Murphy
Com o título "O Guardião da
Economia", o ministro Antonio Palocci está na capa da revista Revide, de Ribeirão Preto.
Na contracapa, há um anúncio
do Banco Rural, assinado pela
agência SMPB, do doutor Valério. Numa página interna,
anuncia-se um jipe Land Rover
da revendedora local Eurobike.
Foi lá que a empreiteira GDK
comprou o mimo que deu ao
então secretário-geral do PT
Silvio Pereira.
PFL na frente
O senador Jorge Bornhausen,
presidente do PFL, tomou a iniciativa. Apresentará um projeto
de faxina para a legislação eleitoral. Propõe, entre outras coisas:
1. O fim dos showmícios. (Eles
nada têm a ver com debate eleitoral. Engordam os caixas-dois,
marqueteiros, produtores de
eventos e artistas que fingem
trabalhar pela causa.)
2. O fim das superproduções no
horário gratuito da TV. (De
maneira geral, as prestações de
contas das grandes eleições majoritárias revelam apenas um
terço, ou metade, do que foi efetivamente gasto nas produções
de TV. Em 2002, Delúbio Soares declarou R$ 7 milhões ao
TSE. Somando-se R$ 5,5 milhões passados por Marcos Valério à empresa de Duda Mendonça, a conta começa a fechar.)
3. Os partidos políticos e seus
candidatos deverão colocar na
internet, em tempo real, a arrecadação e os gastos de seus diretórios e de seus candidatos
nas eleições federais e estaduais.
O PT e o PSDB estão calados.
Por conta do caixa dois, José
Genoino, ex-presidente de um
e Eduardo Azeredo, presidente
do outro, estão forçados a carregar a sombra de Marcos Valério em suas biografias. O PSDB
e o PT são contra o caixa dois
dos outros.
Bola gaúcha
Tem petista querendo amarrar
no tornozelo de Tarso Genro,
candidato a presidente do partido, a bola de ferro do repasse
de R$ 150 mil (ou R$ 1,2 milhão) de Marcos Valério para a
caixa do PT gaúcho. Durante
dois dias o partido negou a
existência dos jabaculês. Tarso
foi candidato a governador do
Rio Grande do Sul em 2002, os
companheiros gaúchos dizem
que esse dinheiro foi usado para quitar dívidas da campanha
de Lula e todo mundo acredita.
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