São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PARTIDO

Partido decide também não enviar ao conselho de ética nomes de parlamentares suspeitos de envolvimento com o "mensalão"

PT culpa imprensa e direita pela crise; Delúbio se afasta

Jorge Araújo/Folha Imagem
Marta Suplicy, Tarso Genro e Ricardo Berzoini no início da reunião do Diretório Nacional do PT


LILIAN CRISTOFOLLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares antecipou-se ontem à reunião do Diretório Nacional, onde eram discutidas eventuais punições que seriam impostas a ele pelo partido, e pediu seu afastamento da sigla até a conclusão dos trabalhos da comissão de ética, o que deve ocorrer em 60 dias.
A decisão atendeu ao Campo Majoritário, ala dominante no PT e formada, entre outros, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ex-ministro José Dirceu.
Essa corrente conseguiu aprovar, com 29 dos 56 votos, uma resolução em que o partido assume parte da responsabilidade pela crise política, mas joga parte da culpa na imprensa e na "direita".
"O PT defende a apuração rigorosa e as punições inclusive no âmbito partidário para aqueles que colocaram em risco o patrimônio político acumulado pelo PT e pela esquerda brasileira. Mas o PT não aceita e denuncia as estratégias oportunistas da direita que quer usar esse processo para abreviar o mandato popular, legal e legítimo do presidente Lula", diz trecho da resolução. O partido ecoa discurso feito pelo próprio presidente, que atribuía o recrudescimento da crise às "elites" e que reclamou publicamente de a imprensa só publicar notícias negativas ao governo.
"Não somos ingênuos a ponto de pensar que todas as denúncias que circulam pela imprensa visam combater a corrupção. Combinada com essa sadia possibilidade democrática, também está em curso um procedimento difamatório montado contra a totalidade do PT e as suas lideranças e contra o governo e seus representantes, que visa aniquilá-lo", diz o texto. A proposta prega ainda o total apoio a Lula e a seu governo.
A resolução foi um dos pontos mais polêmicos da reunião.
A esquerda esperava um texto mais autocrítico em relação ao PT.
Logo na entrada da reunião, o ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, já dera a tônica dos discursos. Disse que a oposição estava muito agressiva no discurso contra o presidente Lula. "Agressivos têm sido os discursos de uma parte da oposição, tentando de uma maneira completamente descabida, artificial, atingir a pessoa do chefe de Estado, eleito pelo voto popular."
Não foi aprovada durante a reunião a instauração de um procedimento na comissão de ética contra os parlamentares e outros petistas suspeitos de terem sacado dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como o operador do suposto "mensalão".
A proposta era defendida pela esquerda do PT, que queria ainda o afastamento desses petistas de suas atividades parlamentares.
O afastamento do ex-tesoureiro Delúbio Soares foi considerada a alternativa menos traumática para o partido. A proposta de expulsão (que chegou a ser votada, mas foi rejeitada) livraria-o da responsabilidade de dar conta de suas ações à legenda, o que foi considerado um argumento contra a sua desfiliação sumária.
A carta de afastamento de Delúbio chegou ao Diretório no fim da tarde. Na reunião, que começou às 11h, já havia sido proposto o afastamento dele ou mesmo sua expulsão -iniciativa que irritou a mulher de Delúbio, Mônica Valente, presente no encontro.
O afastamento do ex-tesoureiro não suspende o procedimento aberto na comissão de ética do PT para investigar a participação dele no financiamento ilegal de campanha. Seu depoimento à comissão, inicialmente marcado para hoje, foi suspenso.
Causou mal-estar a leitura de uma carta assinada pelo bancada petista no Senado e lida por Aloizio Mercadante como uma forma de reafirmar o apoio a Lula e cobrar uma atitude dura do partido.
A mensagem foi entendida por alguns petistas como uma tentativa de criar uma bancada paralela.

Colaborou Marcelo Salinas, da Reportagem Local

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