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Procurador-geral pede que Supremo investigue Renan
Presidente do Senado, que tem foro privilegiado, agora pode ser alvo de inquérito penal
Antonio Fernando de Souza mudou de opinião sobre o caso; em junho, disse que era melhor aguardar pelo julgamento no Senado
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na principal derrota política
de Renan Calheiros (PMDB-AL) desde o início das investigações de que teria usado um
lobista para pagar contas pessoais, o procurador-geral da
República, Antonio Fernando
de Souza, pediu ontem ao STF
(Supremo Tribunal Federal) a
abertura de inquérito penal
contra o presidente do Senado.
O pedido de investigação,
que decorre do fato de Renan
ter foro privilegiado, vem dois
meses após o Conselho de Ética
do Senado abrir processo disciplinar para apurar se a conduta
do senador resultou em quebra
de decoro parlamentar.
Antonio Fernando disse que
serão apurados no inquérito todos os fatos que já motivaram
representações contra Renan
no Senado. Ao receber o pedido
do procurador-geral, o Supremo o registrou como inquérito
e designou o ministro Ricardo
Lewandowski como relator.
O ministro ainda não tomou
decisão, mas deve abrir efetivamente o inquérito e requisitar
ao Senado os documentos solicitados pelo procurador-geral.
A abertura do inquérito pressupõe decisão do relator.
"Vou examinar o pedido do
procurador-geral quanto aos
aspectos formais e legais para
em seguida decidir sobre a
abertura do inquérito e sobre
as providências solicitadas por
ele", afirmou Lewandowski.
O principal alvo do procurador é identificar a origem do dinheiro usado para pagar despesas de Renan. A suspeita é que a
pensão da filha que o senador
teve fora do casamento com a
jornalista Mônica Veloso, de
R$ 12 mil, era paga por lobista
da construtora Mendes Júnior.
Antonio Fernando quer ainda
apurar relações do senador
com a empreiteira Gautama.
A investigação no STF também deverá esclarecer as suspeita de grilagem de terras em
Alagoas e de concessão de benefícios à cervejaria Schincariol em troca de vantagens pessoais, que são objeto de uma
nova representação do PSOL
contra Renan, ainda não analisada pela Mesa do Senado.
"Eu pedi todo o material que
está no Conselho de Ética e
aquele procedimento solicitado à PF [perícia] para avaliar
determinados documentos",
disse o procurador. "Se tiver alguma outra representação, virá
junto para compor os autos." Se
entender que há indícios de
prática de crimes, ele irá oferecer ao STF a denúncia -pedido
de abertura da ação penal.
O procurador-geral disse que
o inquérito poderá incluir apuração sobre a suspeita de que
Renan usou "laranjas" para
comprar duas emissoras de rádio durante o mandato parlamentar, conforme reportagem
da revista "Veja" desta semana.
Ainda que uma possível investigação no STF inclua denúncias de grilagem, Antonio
Fernando explicou que por ora
não deve ser anexado o material enviado pelo Ministério
Público de Alagoas sobre eventual apropriação irregular de
terras e ameaças a Antonio Gomes de Vasconcelos, autor de
acusações contra Renan e seu
irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL).
"Eu recebi o material de Alagoas. À primeira vista, não há
elementos a partir dos quais eu
possa fazer afirmações seguras", disse Antonio Fernando.
Até ontem, o procurador-geral descartava a possibilidade
de investigar Renan. Em junho,
disse que era contra medidas
judiciais enquanto um caso estivesse sob juízo político.
Em julho, o presidente do Senado pediu formalmente a Antonio Fernando que tomasse a
iniciativa de investigá-lo. Indagado sobre a razão que o levou a
mudar de idéia e tomar a medida judicial -pedir a abertura do
inquérito criminal no STF-
antes do desfecho do processo
no conselho, Antonio Fernando disse que não há impedimento para que as apurações
tramitem simultaneamente e
de forma independente.
"A iniciativa que tomei tem o
objetivo de esclarecer a questão
sob a perspectiva penal, sem interferência no que vai ser decidido no Senado." Antonio Fernando disse que recebeu do Ministério Público do DF investigações contra o senador Gim
Argello (PTB-DF), que substituiu Joaquim Roriz (PMDB-DF) após a renúncia. Os documentos serão analisados.
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