São Paulo, Terça-feira, 07 de Setembro de 1999
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GOVERNO
Novo ministro, paulista, é atual presidente da Camargo Corrêa
FHC define Alcides Tápias para o Desenvolvimento

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O novo ministro do Desenvolvimento será o empresário paulista Alcides Tápias, presidente da construtora Camargo Corrêa e ex-vice-presidente do Bradesco. O anúncio foi feito ontem à noite pelo porta-voz da Presidência, George Lamazière.
O presidente Fernando Henrique Cardoso tomou duas providências para reforçar a posição do ministro Pedro Malan (Fazenda) na liderança da política econômica: encarregou Malan de fazer a primeira sondagem a Tápias e se reuniu com ambos antes do anúncio, que foi às 18h50.
No aeroporto de Brasília, antes de embarcar para São Paulo, questionado se era possível fazer o desenvolvimento afinado com a equipe econômica, Tápias respondeu: "Sem dúvida".
Malan telefonou para Tápias no domingo, depois de receber a incumbência de FHC numa longa conversa no Alvorada. Tápias aceitou conversar e marcou a vinda a Brasília ontem mesmo.
A posse, porém, só deverá ser na próxima semana. Até lá, o cargo será ocupado interinamente pelo secretário-executivo do ministério, Milton Seligman -que, inclusive, participará da reunião ministerial de amanhã.
FHC se reuniu ontem, antes do anúncio, com Tápias e Malan, no Palácio da Alvorada. Malan chegou às 17h05, e Tápias, cinco minutos depois. O chefe da Casa Civil, Pedro Parente, se agregou ao grupo pouco depois das 18h30. A reunião prosseguiu mesmo depois do anúncio. Tápias queria detalhes bem claros sobre o papel, as funções e o poder do ministério na sua gestão.

Primeira escolha
O nome do empresário paulista começou a ser cogitado no sábado de manhã, menos de dez horas depois de selada a demissão do ministro Clóvis Carvalho, à 1h. Clóvis caiu por ter feito um discurso considerado uma crítica à política econômica e uma agressão a Malan.
Tápias era o preferido de FHC, mas no governo temia-se que ele não aceitasse o ministério.
Primeiro, porque ele já o recusara na reforma ministerial de julho e não se cansava de repetir que não tinha apetite para o cargo. Segundo, porque o ministério parece cada vez mais um apêndice da Fazenda.
O Ministério do Desenvolvimento foi idealizado pelo então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, para tentar flexibilizar a política econômica e criar mecanismos de estímulo à indústria.
Cresceu, então, a discussão entre os "monetaristas" e os "desenvolvimentistas". Malan liderava o primeiro grupo, enfatizando sempre a supremacia da estabilidade na política econômica. Mendonça representava o segundo, que defendia uma flexibilização.
Criado em janeiro, na posse do segundo mandato de FHC, o Ministério do Desenvolvimento está entrando no seu terceiro ministro em oito meses.
O primeiro foi o ex-embaixador Celso Lafer, e o segundo foi Clóvis Carvalho.
FHC conheceu Tápias quando era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. Desde aquela época, enfatizou sempre a fama de conciliador do agora futuro ministro do Desenvolvimento. Uma das suas tarefas vai ser justamente conciliar o discurso da estabilidade com o do desenvolvimento. Ou seja, trabalhar em sintonia fina com Malan.
Segundo o ministro Paulo Renato Souza (Educação), que almoçou ontem com FHC, "Tápias é um excelente nome, porque é um homem conciliador e ligado à indústria paulista".
No anúncio oficial, o porta-voz Lamazière disse que Alcides Tápias foi convidado ontem à tarde e que foi a única pessoa cogitada para o cargo. Houve, entretanto, outros nomes cotados.
Enquanto confluía para o nome de Tápias, FHC usou uma tática de exclusão: não mexer no BNDES (braço operacional do Desenvolvimento), não provocar uma nova "dança de cadeiras" no ministério reformado em julho, não pinçar um deputado ou senador e assim gerar uma nova crise política entre os partidos aliados ao governo no Congresso.
Um dos nomes cotados desde o início foi o do presidente do BNDES, Andrea Calabi, pouco interessado em trocar um órgão que vai ter R$ 20 bilhões para investir em 2000 por um ministério que, até agora, é uma incógnita.
O PSDB, que sempre se sentiu "dono" da nova pasta, não quis correr o risco de nomear Calabi. Temia ficar com um ministro fraco e perder um órgão rico e politicamente poderoso como o BNDES para o PFL.
Outros cotados foram o atual ministro Pratini de Moraes (Agricultura) -que era o preferido de Malan- e o embaixador José Botafogo Gonçalves, secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior). Ambos são do PPB, o partido do ex-governador de Paulo Maluf (SP).
Contra Pratini, pesou a questão política. FHC temia que os tucanos reivindicassem a Agricultura, uma área que não é o forte deles. O nome do partido seria o do senador Osmar Dias (PR), que poderia gerar problemas com o forte PFL do Paraná, liderado pelo governador Jaime Lerner.
Contra Botafogo, foi decisivo o fato de ser do PPB. O governo não comportaria três ministros desse partido. Os outros são Pratini e Francisco Dornelles (Trabalho).


Colaborou Fernando Godinho, da Sucursal de Brasília

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