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GOVERNO
Novo ministro, paulista, é atual presidente da Camargo Corrêa
FHC define Alcides Tápias
para o Desenvolvimento
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O novo ministro do Desenvolvimento será o empresário paulista
Alcides Tápias, presidente da
construtora Camargo Corrêa e
ex-vice-presidente do Bradesco.
O anúncio foi feito ontem à noite
pelo porta-voz da Presidência,
George Lamazière.
O presidente Fernando Henrique Cardoso tomou duas providências para reforçar a posição do
ministro Pedro Malan (Fazenda)
na liderança da política econômica: encarregou Malan de fazer a
primeira sondagem a Tápias e se
reuniu com ambos antes do
anúncio, que foi às 18h50.
No aeroporto de Brasília, antes
de embarcar para São Paulo,
questionado se era possível fazer
o desenvolvimento afinado com a
equipe econômica, Tápias respondeu: "Sem dúvida".
Malan telefonou para Tápias no
domingo, depois de receber a incumbência de FHC numa longa
conversa no Alvorada. Tápias
aceitou conversar e marcou a vinda a Brasília ontem mesmo.
A posse, porém, só deverá ser na
próxima semana. Até lá, o cargo
será ocupado interinamente pelo
secretário-executivo do ministério, Milton Seligman -que, inclusive, participará da reunião
ministerial de amanhã.
FHC se reuniu ontem, antes do
anúncio, com Tápias e Malan, no
Palácio da Alvorada. Malan chegou às 17h05, e Tápias, cinco minutos depois. O chefe da Casa Civil, Pedro Parente, se agregou ao
grupo pouco depois das 18h30. A
reunião prosseguiu mesmo depois do anúncio. Tápias queria
detalhes bem claros sobre o papel,
as funções e o poder do ministério
na sua gestão.
Primeira escolha
O nome do empresário paulista
começou a ser cogitado no sábado de manhã, menos de dez horas
depois de selada a demissão do
ministro Clóvis Carvalho, à 1h.
Clóvis caiu por ter feito um discurso considerado uma crítica à
política econômica e uma agressão a Malan.
Tápias era o preferido de FHC,
mas no governo temia-se que ele
não aceitasse o ministério.
Primeiro, porque ele já o recusara na reforma ministerial de julho e não se cansava de repetir que
não tinha apetite para o cargo. Segundo, porque o ministério parece cada vez mais um apêndice da
Fazenda.
O Ministério do Desenvolvimento foi idealizado pelo então
ministro das Comunicações, Luiz
Carlos Mendonça de Barros, para
tentar flexibilizar a política econômica e criar mecanismos de estímulo à indústria.
Cresceu, então, a discussão entre os "monetaristas" e os "desenvolvimentistas". Malan liderava o
primeiro grupo, enfatizando sempre a supremacia da estabilidade
na política econômica. Mendonça
representava o segundo, que defendia uma flexibilização.
Criado em janeiro, na posse do
segundo mandato de FHC, o Ministério do Desenvolvimento está
entrando no seu terceiro ministro
em oito meses.
O primeiro foi o ex-embaixador
Celso Lafer, e o segundo foi Clóvis
Carvalho.
FHC conheceu Tápias quando
era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. Desde
aquela época, enfatizou sempre a
fama de conciliador do agora futuro ministro do Desenvolvimento. Uma das suas tarefas vai ser
justamente conciliar o discurso
da estabilidade com o do desenvolvimento. Ou seja, trabalhar em
sintonia fina com Malan.
Segundo o ministro Paulo Renato Souza (Educação), que almoçou ontem com FHC, "Tápias
é um excelente nome, porque é
um homem conciliador e ligado à
indústria paulista".
No anúncio oficial, o porta-voz
Lamazière disse que Alcides Tápias foi convidado ontem à tarde e
que foi a única pessoa cogitada
para o cargo. Houve, entretanto,
outros nomes cotados.
Enquanto confluía para o nome
de Tápias, FHC usou uma tática
de exclusão: não mexer no
BNDES (braço operacional do
Desenvolvimento), não provocar
uma nova "dança de cadeiras" no
ministério reformado em julho,
não pinçar um deputado ou senador e assim gerar uma nova crise
política entre os partidos aliados
ao governo no Congresso.
Um dos nomes cotados desde o
início foi o do presidente do
BNDES, Andrea Calabi, pouco interessado em trocar um órgão que
vai ter R$ 20 bilhões para investir
em 2000 por um ministério que,
até agora, é uma incógnita.
O PSDB, que sempre se sentiu
"dono" da nova pasta, não quis
correr o risco de nomear Calabi.
Temia ficar com um ministro fraco e perder um órgão rico e politicamente poderoso como o
BNDES para o PFL.
Outros cotados foram o atual
ministro Pratini de Moraes (Agricultura) -que era o preferido de
Malan- e o embaixador José Botafogo Gonçalves, secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior). Ambos são do
PPB, o partido do ex-governador
de Paulo Maluf (SP).
Contra Pratini, pesou a questão
política. FHC temia que os tucanos reivindicassem a Agricultura,
uma área que não é o forte deles.
O nome do partido seria o do senador Osmar Dias (PR), que poderia gerar problemas com o forte
PFL do Paraná, liderado pelo governador Jaime Lerner.
Contra Botafogo, foi decisivo o
fato de ser do PPB. O governo não
comportaria três ministros desse
partido. Os outros são Pratini e
Francisco Dornelles (Trabalho).
Colaborou Fernando Godinho, da Sucursal
de Brasília
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