São Paulo, Terça-feira, 07 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fiesp espera "canal de discussão"

da Reportagem Local

e da Sucursal de Brasília

"A escolha do empresário Alcides Tápias para ministro do Desenvolvimento abrirá para a indústria um grande canal de discussão", disse o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horácio Lafer Piva. Segundo Piva, Tápias sempre foi um bom interlocutor com a indústria e tem uma grande compreensão das dificuldades do setor e pode atuar de forma mais afirmativa.
"Eu respeito muito a capacidade de operação de Tápias", disse Piva. Segundo ele, "muita gente vai procurar ligá-lo ao setor financeiro, mas é um erro ressaltar apenas o perfil de Tápias como banqueiro (ex-presidente da Febraban)".
Ainda segundo Piva, também não procede a visão de que Clóvis Carvalho era um representante do empresariado paulista. "O ex-ministro tinha muitos amigos na indústria paulista, mas já fazia algum tempo que estava fora dessa atividade. Ele ficou enclausurado no governo. O Tápias tem circulado muito entre os industriais, conhece as inquietações do setor", disse.
"Queremos participar da discussão sobre a política econômica e o importante é o governo conseguir coesão. A questão tem que ir além da polêmica sobre desenvolvimento versus estabilidade", afirmou.
Para o presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, "Alcides Tápias entra para dar continuidade à política do (ministro Pedro) Malan". "Clóvis Carvalho, pelo menos, falou a verdade quando fez críticas ao ministro", disse Vicentinho.
Para o presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria), Joseph Couri, Alcides Tápias "reúne todas as qualidades" para ter um bom desempenho no Desenvolvimento.
"Ele (Tápias) conhece o mundo empresarial, foi do sistema financeiro e entende a lógica de Brasília porque foi dirigente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos). Além disso, tem o perfil de um emérito negociador e não deve partir para o confronto com outros ministros", disse.
Lideranças da oposição avaliam que a ida de Alcides Tápias para o ministério do Desenvolvimento é um sinal de que nada mudará na política econômica do governo.
"A escolha significa a continuidade da intocável política do Malan, ou seja, vai representar o aprofundamento do atual modelo econômico que está levando o país para um impasse", disse o líder do PT na Câmara, José Genoino (SP).
Na avaliação do presidente nacional do PT, José Dirceu, a escolha de Tápias "não é uma boa notícia", revela que o governo não obteve acordo em sua base de sustentação para encontrar um nome e mostra que o ministério é "uma pasta esvaziada".
Genoino também criticou o fato de Alcides Tápias ter atuado na área financeira. "Ele vem do setor (o dos bancos) que mais lucrou no governo FHC. Sua nomeação é coerente com os rumos desse governo", disse.
Na opinião de José Dirceu, o ministério do Desenvolvimento "virou um peso para o governo".

Reação no Congresso
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), mandou dizer por meio da assessoria que não comentaria a indicação. Um dia antes, ACM havia dito que o presidente Fernando Henrique Cardoso deveria esperar mais para escolher um nome com o perfil ideal para o cargo.
O presidente do PMDB, senador Jader Barbalho (PA), foi irônico. "Não o conheço, mas desejo boa sorte, para ver se o ministério vinga e diz a que veio, porque até agora não se justificou", disse.
"Não acho nada. Tomara que dê certo. É um nome conceituado", disse o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou que a escolha foi uma "loucura". Requião lembrou que o Bradesco, do qual Tápias foi vice-presidente, apareceu na CPI dos Precatórios como comprador final de títulos emitidos irregularmente. As acusações contra o banco, levantadas na CPI, não foram comprovadas.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), autor de um discurso a favor da demissão de Clóvis Carvalho, na semana passada, afirmou que a indicação de Tápias é uma "brincadeira".
"Ele representa os bancos e as empreiteiras, os dois setores mais odiados do país, além do político", disse Simon.


Texto Anterior: Preferido de Malan era o ministro da Agricultura
Próximo Texto: Janio de Freitas: Cheque sem fundo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.