MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local

A Polícia Federal vai investigar a Limiar, entidade que intermedeia a adoção de crianças brasileiras nos Estados Unidos.
A Folha revelou no último domingo que a instituição oferece crianças pela Internet e cobra de US$ 5.500, para intermediar a adoção de uma criança, a US$ 8.000, quando se trata de um grupo de irmãos.
Além desse valor, o casal tem de pagar passagens para o Brasil e tradução de documentos, que consomem cerca de US$ 15 mil.
Uma das ofertas na Internet, no site www.limiar.org, diz o seguinte: "Marcelo (12): Se Nelson Mandela tivesse 12 anos, seria parecido com Marcelo. Normal, garoto saudável. Seu sorriso derrete seu coração. Vídeo disponível".
O vídeo, obtido pela reportagem da Folha, é uma espécie de catálogo com 76 crianças. A maioria das crianças é do Paraná.
"Do jeito que a Limiar atua, parece que eles estão vendendo uma criança. Quem tem catálogo faz venda", diz Maria da Graça Nascimento, delegada da PF que atua na área de adoção internacional.
A Limiar pode ser fechada se ficar caracterizada a venda, segundo a delegada. A Convenção de Haia, que regula as adoções internacionais e da qual o Brasil é signatário desde julho deste ano, proíbe as entidades de obter lucro na intermediação de adoções.
Nancy Cameron, presidente da Limiar USA, diz que o pagamento não é obrigatório. A pedido da Folha, um casal norte-americano se inscreveu no programa da Limiar para adotar uma criança. Quando o casal informou que não tinha os US$ 5.500, a entidade parou de enviar informações.
Outras evidências de que a contribuição é compulsória são encontradas num espaço na Internet para conversas sobre adoção, mantido pela Limiar.
Pat Rogan, um ex-representante da Limiar no Estado de Ohio, diz numa conversa: "É verdade que a instituição cobra US$ 5.000 quando a adoção é de uma só criança. O valor que nós pedimos para a adoção de mais de uma criança é de US$ 8.000".
Laurie Swarthout, que adotou uma criança brasileira, confirma: "As taxas cobradas pela Limiar são de US$ 8.000 por irmãos".
Atualmente, a Polícia Federal só acompanha a etapa final da adoção internacional, quando a criança recebe o passaporte para viajar para o país onde irá viver.
Essa situação vai mudar. Decreto que está sendo examinado pelo ministro da Justiça, José Carlos Dias, prevê que a Polícia Federal fará investigações sobre a entidade antes de credenciá-la.


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