São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2000

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GOVERNO
Presidente diz que não representa interesses pessoais ou de grupos políticos
Respondo aos interesses do meu país, replica FHC a ACM

Sérgio Lima/Folha Imagem
O presidente FHC durante visita ao Parlamento da Alemanha


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O presidente Fernando Henrique Cardoso usou ontem a tribuna da BDI (a Confederação Alemã da Indústria) para dar uma resposta velada à nova ofensiva social do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Primeiro, FHC admitiu que a política de austeridade que conduz "tem um custo pessoal". Depois, engatou: " Mas eu respondo aos interesses do meu país, não aos interesses eventuais meus ou de grupos políticos a que eu pertenço ou que estejam aliados a mim".
O presidente afirmou também estar convencido de que "o caminho está correto".
Na véspera, o presidente do Senado havia defendido a fixação antecipada do valor do salário mínimo para o próximo ano, criticado a política de reajuste diferenciado para os servidores públicos e reclamado da demora do governo federal em negociar com as centrais sindicais a correção do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Ao chegar a Berlim na quarta-feira, FHC disparara duro contra as críticas de ACM ao comportamento eleitoral de alguns ministros e reagira assim à recomendação do senador para que fizesse uma reforma ministerial: "Ninguém recomenda ao presidente da República nada nem pessoas que se crêem muito poderosas".
ACM deu o troco, chamando FHC de prepotente.
Ontem e anteontem, no entanto, o presidente negou-se a falar aos jornalistas sobre assuntos domésticos. Mas aproveitou o discurso na sede da máxima entidade do empresariado alemão para emitir recados, e não apenas para Antonio Carlos Magalhães.

Inquietações externas
Para os próprios investidores em potencial no Brasil, FHC tratou de afastar eventuais inquietações sobre as contas externas brasileiras e sobre as dívidas interna e externa do país, numa evidente referência ao plebiscito organizado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Sobre a dívida, primeiro lembrou que o poder público só deve US$ 90 bilhões e que a dívida líquida, descontadas reservas de US$ 30 bilhões, fica em 10% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção de um país). "É uma situação muito confortável", afirmou.
Depois, sobre a dívida do setor privado (US$ 120 bilhões), afirmou que ela se deve ao fato de que a taxa de juros no exterior é mais conveniente. "Portanto, não tem sentido imaginar não pagar essas dívidas."
Sobre a dívida interna, afirmou: "Quem empresta ao Estado é o conjunto da população que põe dinheiro nos bancos. Empresas, pessoas, sindicatos, igrejas, todos são credores do governo. A idéia desassisada (de falta de siso) de um calote na dívida seria um calote neles próprios".
Quanto às contas externas, FHC admitiu o óbvio: "Não conseguimos ainda um aumento significativo do saldo da balança comercial" (diferença entre exportações e importações).
Mas festejou o fato de o déficit ter se transformado em pequeno superávit. "É mil vezes melhor ter um pequeno superávit que qualquer déficit, quanto mais um déficit grande", disse.
E lembrou que o buraco externo está sendo mais que coberto só com o investimento direto de estrangeiros, que, segundo ele, entra à razão de US$ 2 bilhões por mês. O curioso na fala presidencial é que ela dramatizou muito mais os acontecimentos de 1999, pós-desvalorização do real, do que o próprio FHC o havia feito na sua estada anterior na BDI, no ano passado, em plena crise da desvalorização do real.
Em 1999, Fernando Henrique vendeu ao empresariado alemão um Brasil que não apenas "evitou a catástrofe" como estaria às portas do paraíso, ao menos nas estatísticas macroeconômicas.
Desta vez, ao contrário, o presidente afirmou coisas como: "O segundo semestre de 1998 foi catastrófico. Perdemos o controle da política cambial vigente. Não foi o governo que decidiu fazer a desvalorização, mas uma imposição dos mercados".


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