São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2000

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MINAS GERAIS
Ex-assessor de Carlos Melles declarou nome de empresa vencedora 73 dias antes de a concorrência pública para a obra de reforma do aeroporto de cidade mineira ter acabado
Empresa é anunciada antes de licitação

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reforma do aeroporto de São Sebastião do Paraíso (sudoeste de Minas Gerais), concluída durante a campanha eleitoral do primeiro turno, teve seu executor anunciado por um homem de confiança do ministro Carlos Melles (Esporte e Turismo) 73 dias antes de a concorrência pública para a obra ter terminado.
O ex-assessor do ministro e assessor da campanha da mulher dele, Marilda Melles, à prefeitura da cidade, Paulo Delfante, anunciou numa entrevista à TV Paraíso, no dia 10 de julho, que a Egesa Engenharia realizaria a obra no aeroporto. A empresa só ganhou a licitação em 21 de setembro.
O PSDB da cidade enviou carta ao presidente Fernando Henrique alertando sobre a possibilidade de haver irregularidades na concorrência realizada pela Aeronáutica. A carta foi enviada em 28 de agosto, quatro dias antes do prazo de vencimento para a entrega das propostas pelas empresas interessadas em participar da licitação. Foi enviada também cópia da fita com a entrevista de Delfante.
No dia da entrevista, o edital para a concorrência nem sequer havia sido publicado. Nela, Delfante afirma não apenas que a Egesa iria realizar a obra, mas também que a empresa já teria estado na cidade e apresentado o projeto da reforma. Sobre a obra, o assessor de Melles declara: "É uma luta, que vocês acompanharam, que a população acompanhou ao longo desses últimos dois anos, uma luta incansável do deputado Carlos Melles, hoje ministro, para que essa obra fosse realizada."
"(Sobre) O aeroporto, eu gostaria de frisar o seguinte: o ministro já esteve com o Comando da Aeronáutica, na semana passada, e, nessa última sexta-feira (7 de julho), os diretores da Egesa, que é a empresa que também vai fazer as obras no aeroporto, estiveram aqui em Paraíso, juntamente com alguns vereadores, com alguns empresários, com representantes do ministro, já apresentando o projeto final do aeroporto", afirmou Delfante.
A concorrência só viria a ser aberta no dia 1º de agosto e a empresa vencedora, definida em 21 de setembro. O contrato para a construção do aeroporto prevê o pagamento de R$ 2,3 milhões. Segundo pesquisa feita pelo gabinete do deputado federal Agnelo Queiróz (PT-DF) no Siafi (o sistema informatizado de acompanhamento de gastos do governo federal), essa verba ainda não foi paga, mas já está comprometida.
Durante a campanha eleitoral, a obra do aeroporto e a construção de uma rodovia até Jacuí, também realizada pela Egesa, foram propagandeadas como conquistas do ministro. A verba para o aeroporto foi incluída no Orçamento de 1999 por Melles, na época relator da comissão orçamentária. Foram R$ 43,3 milhões para a rubrica geral "Reforma e ampliação de aeroportos e aeródromos de interesse nacional".
Na carta enviada a FHC, é afirmado que, na cidade, "ventila-se que a empresa que irá tocar a obra já está escolhida, e que seria a Egesa" e o fato é ligado a uma suposta operação para obtenção de recursos para a campanha de Marilda Melles: "E mais grave, estaria ocorrendo uma articulação que visa "gerar recursos" para a campanha da esposa do ministro". Segundo a assessoria de imprensa do Planalto, a carta não foi recebida pelo presidente. O secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, também nega que tenha tomado conhecimento dela.
Nem a Egesa nem seus sócios aparecem como doadores das duas campanhas de Melles à Câmara dos Deputados.
Na campanha em São Sebastião do Paraíso, Melles prometeu facilitar a liberação de recursos federais para obras caso sua mulher fosse eleita. Marilda teve 53,23% dos votos válidos.


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