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MINAS GERAIS
Ex-assessor de Carlos Melles declarou nome de empresa vencedora 73 dias antes
de a concorrência pública para a obra de reforma do aeroporto de cidade mineira ter acabado
Empresa é anunciada antes de licitação
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A reforma do aeroporto de São
Sebastião do Paraíso (sudoeste de
Minas Gerais), concluída durante
a campanha eleitoral do primeiro
turno, teve seu executor anunciado por um homem de confiança
do ministro Carlos Melles (Esporte e Turismo) 73 dias antes de a
concorrência pública para a obra
ter terminado.
O ex-assessor do ministro e assessor da campanha da mulher
dele, Marilda Melles, à prefeitura
da cidade, Paulo Delfante, anunciou numa entrevista à TV Paraíso, no dia 10 de julho, que a Egesa
Engenharia realizaria a obra no
aeroporto. A empresa só ganhou
a licitação em 21 de setembro.
O PSDB da cidade enviou carta
ao presidente Fernando Henrique
alertando sobre a possibilidade de
haver irregularidades na concorrência realizada pela Aeronáutica.
A carta foi enviada em 28 de agosto, quatro dias antes do prazo de
vencimento para a entrega das
propostas pelas empresas interessadas em participar da licitação.
Foi enviada também cópia da fita
com a entrevista de Delfante.
No dia da entrevista, o edital para a concorrência nem sequer havia sido publicado. Nela, Delfante
afirma não apenas que a Egesa iria
realizar a obra, mas também que a
empresa já teria estado na cidade
e apresentado o projeto da reforma. Sobre a obra, o assessor de
Melles declara: "É uma luta, que
vocês acompanharam, que a população acompanhou ao longo
desses últimos dois anos, uma luta incansável do deputado Carlos
Melles, hoje ministro, para que essa obra fosse realizada."
"(Sobre) O aeroporto, eu gostaria de frisar o seguinte: o ministro
já esteve com o Comando da Aeronáutica, na semana passada, e,
nessa última sexta-feira (7 de julho), os diretores da Egesa, que é a
empresa que também vai fazer as
obras no aeroporto, estiveram
aqui em Paraíso, juntamente com
alguns vereadores, com alguns
empresários, com representantes
do ministro, já apresentando o
projeto final do aeroporto", afirmou Delfante.
A concorrência só viria a ser
aberta no dia 1º de agosto e a empresa vencedora, definida em 21
de setembro. O contrato para a
construção do aeroporto prevê o
pagamento de R$ 2,3 milhões. Segundo pesquisa feita pelo gabinete do deputado federal Agnelo
Queiróz (PT-DF) no Siafi (o sistema informatizado de acompanhamento de gastos do governo
federal), essa verba ainda não foi
paga, mas já está comprometida.
Durante a campanha eleitoral, a
obra do aeroporto e a construção
de uma rodovia até Jacuí, também
realizada pela Egesa, foram propagandeadas como conquistas do
ministro. A verba para o aeroporto foi incluída no Orçamento de
1999 por Melles, na época relator
da comissão orçamentária. Foram R$ 43,3 milhões para a rubrica geral "Reforma e ampliação de
aeroportos e aeródromos de interesse nacional".
Na carta enviada a FHC, é afirmado que, na cidade, "ventila-se
que a empresa que irá tocar a obra
já está escolhida, e que seria a Egesa" e o fato é ligado a uma suposta
operação para obtenção de recursos para a campanha de Marilda
Melles: "E mais grave, estaria
ocorrendo uma articulação que
visa "gerar recursos" para a campanha da esposa do ministro". Segundo a assessoria de imprensa
do Planalto, a carta não foi recebida pelo presidente. O secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, também nega que tenha tomado conhecimento dela.
Nem a Egesa nem seus sócios
aparecem como doadores das
duas campanhas de Melles à Câmara dos Deputados.
Na campanha em São Sebastião
do Paraíso, Melles prometeu facilitar a liberação de recursos federais para obras caso sua mulher
fosse eleita. Marilda teve 53,23%
dos votos válidos.
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