São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002


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MERCADO

Consolidação de Serra como o adversário de Lula, que antes gerava euforia, hoje é vista como prorrogação de indefinições

Wall Street vê 2º turno com preocupação

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Há alguns meses, Wall Street teria reagido com euforia à idéia de o candidato governista José Serra passar para o segundo turno das eleições presidenciais. Ontem, o quadro era diferente. Embora Serra ainda seja o candidato ideal da maioria dos investidores estrangeiros, os mercados estão preocupados com a prorrogação da indefinição eleitoral e com outro mês de campanha eleitoral.
A Casa Branca - que há meses planeja uma reação "madura" à uma eventual vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva - preferiu não comentar a provável realização de um segundo turno.
"Os mercados estão cansados e querem acabar logo com isso", disse ontem à Folha Walther Molano, chefe de pesquisas do BCP Securities. "Há duas semanas, a prioridade dos investidores era a vitória de Serra. Agora, a prioridade passou a ser a nomeação rápida de uma equipe econômica e o fim da volatilidade."
Com base nessa mesma prioridade, o banco de investimento norte-americano Merrill Lynch elevou na sexta-feira a classificação dos bônus brasileiros, acreditando que Lula ganharia no primeiro turno. Segundo o banco, o melhor cenário para os mercados seria um "alívio das incertezas" após uma vitória eleitoral clara.
Essa opinião marcou uma mudança radical na maneira com a qual os analistas estão enxergando o processo eleitoral brasileiro. Em abril, a mesma Merrill Lynch e o Morgan Stanley Dean Witter haviam rebaixado sua recomendação para negócios com títulos da dívida brasileira devido ao crescimento de Lula nas pesquisas de intenção de voto.
Diferentemente dos mercados, o governo americano prepara-se há um ano para uma eventual vitória de Lula. A idéia dos americanos é aceitar tal cenário com naturalidade e, ao menos nos primeiros meses de um eventual governo do petista, receber Lula como um parceiro dos EUA.
Numa entrevista à Folha no dia 5 de setembro de 2001, Curt Struble, vice-subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, deu a primeira demonstração de que os EUA não temem uma eventual vitória do petista nas eleições presidenciais deste ano.
"Os EUA se preocupam em assegurar o compromisso democrático dos governos e de candidatos latino-americanos. No caso de Lula, embora ele defenda posições das quais discordamos, não há dúvidas quanto ao fato de ser um democrata. A democracia no Brasil está madura."
Em junho passado, a embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak, surpreendeu ao dizer que Lula simboliza o sonho americano de ascensão social. "Conheci o Lula nos anos 80. Ele teve de superar muita coisa para chegar aonde chegou. O sonho dos EUA é um pouco o sonho brasileiro."
Segundo observadores em Washington, os EUA aproveitam-se do fim da Guerra Fria para interromper sua tradição de conflitos com governos de esquerda em seu próprio quintal.
Mas isso não significa que a agenda da Casa Branca seja a mesma de Lula.
Durante a campanha, Lula disse que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), da forma com que é negociada pela Casa Branca, representa uma simples anexação do Brasil aos EUA. Essa declaração tem sido divulgada em jornais e agências de notícias americanos como indício dos atritos potenciais entre os dois países.
Uma vitória do petista poderia reduzir o ritmo das negociações da Alca antes mesmo da posse, contrariando a vontade dos EUA de acelerar a integração comercial após o presidente George W. Bush ter recebido do Congresso poderes extras de negociação.
Em novembro, Brasil e EUA assumem a co-presidência das negociações da Alca, ditando juntos o cronograma da apresentação de ofertas e a agenda de encontros ministeriais. As negociações da Alca estão previstas para acabar em janeiro de 2005.



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