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MERCADO
Consolidação de Serra como o adversário de Lula, que antes gerava euforia, hoje é vista como prorrogação de indefinições
Wall Street vê 2º turno com preocupação
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Há alguns meses, Wall Street teria reagido com euforia à idéia de
o candidato governista José Serra
passar para o segundo turno das
eleições presidenciais. Ontem, o
quadro era diferente. Embora
Serra ainda seja o candidato ideal
da maioria dos investidores estrangeiros, os mercados estão
preocupados com a prorrogação
da indefinição eleitoral e com outro mês de campanha eleitoral.
A Casa Branca - que há meses
planeja uma reação "madura" à
uma eventual vitória do petista
Luiz Inácio Lula da Silva - preferiu não comentar a provável realização de um segundo turno.
"Os mercados estão cansados e
querem acabar logo com isso",
disse ontem à Folha Walther Molano, chefe de pesquisas do BCP
Securities. "Há duas semanas, a
prioridade dos investidores era a
vitória de Serra. Agora, a prioridade passou a ser a nomeação rápida de uma equipe econômica e
o fim da volatilidade."
Com base nessa mesma prioridade, o banco de investimento
norte-americano Merrill Lynch
elevou na sexta-feira a classificação dos bônus brasileiros, acreditando que Lula ganharia no primeiro turno. Segundo o banco, o
melhor cenário para os mercados
seria um "alívio das incertezas"
após uma vitória eleitoral clara.
Essa opinião marcou uma mudança radical na maneira com a
qual os analistas estão enxergando o processo eleitoral brasileiro.
Em abril, a mesma Merrill Lynch
e o Morgan Stanley Dean Witter
haviam rebaixado sua recomendação para negócios com títulos
da dívida brasileira devido ao
crescimento de Lula nas pesquisas de intenção de voto.
Diferentemente dos mercados,
o governo americano prepara-se
há um ano para uma eventual vitória de Lula. A idéia dos americanos é aceitar tal cenário com naturalidade e, ao menos nos primeiros meses de um eventual governo do petista, receber Lula como
um parceiro dos EUA.
Numa entrevista à Folha no dia
5 de setembro de 2001, Curt Struble, vice-subsecretário de Estado
para o Hemisfério Ocidental, deu
a primeira demonstração de que
os EUA não temem uma eventual
vitória do petista nas eleições presidenciais deste ano.
"Os EUA se preocupam em assegurar o compromisso democrático dos governos e de candidatos latino-americanos. No caso
de Lula, embora ele defenda posições das quais discordamos, não
há dúvidas quanto ao fato de ser
um democrata. A democracia no
Brasil está madura."
Em junho passado, a embaixadora dos EUA no Brasil, Donna
Hrinak, surpreendeu ao dizer que
Lula simboliza o sonho americano de ascensão social. "Conheci o
Lula nos anos 80. Ele teve de superar muita coisa para chegar aonde
chegou. O sonho dos EUA é um
pouco o sonho brasileiro."
Segundo observadores em
Washington, os EUA aproveitam-se do fim da Guerra Fria para
interromper sua tradição de conflitos com governos de esquerda
em seu próprio quintal.
Mas isso não significa que a
agenda da Casa Branca seja a
mesma de Lula.
Durante a campanha, Lula disse
que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), da forma com
que é negociada pela Casa Branca,
representa uma simples anexação
do Brasil aos EUA. Essa declaração tem sido divulgada em jornais
e agências de notícias americanos
como indício dos atritos potenciais entre os dois países.
Uma vitória do petista poderia
reduzir o ritmo das negociações
da Alca antes mesmo da posse,
contrariando a vontade dos EUA
de acelerar a integração comercial
após o presidente George W.
Bush ter recebido do Congresso
poderes extras de negociação.
Em novembro, Brasil e EUA assumem a co-presidência das negociações da Alca, ditando juntos
o cronograma da apresentação de
ofertas e a agenda de encontros
ministeriais. As negociações da
Alca estão previstas para acabar
em janeiro de 2005.
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