São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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BALANÇO

PT tem votação expressiva na eleição para dez governos estaduais, no melhor desempenho da história da sigla

Centro-direita perde espaço nos Estados

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As disputas pelos governos dos 26 Estados e do Distrito Federal revelam dois fatos relevantes. A centro-direita continua tendo seu espaço reduzido, e a esquerda segue lentamente avançando nas administrações do país inteiro.
O exemplo mais forte da fragilização da centro-direita é o seu maior representante no Sudeste, Paulo Maluf (PPB), ter ficado de fora da disputa final pelo governo de São Paulo.
No caso da esquerda, os números do PT são expressivos. O partido entrou nesta eleição governando cinco Estados (Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul).
Até a conclusão desta edição, os números parciais da apuração mostravam que os petistas haviam garantido a manutenção de um governo e disputavam mais nove -ainda no primeiro turno ou de passar para o segundo.
No caso da centro-direita, os votos já vinham definhando há algum tempo por causa da ocupação do centro por parte do PSDB e do PMDB.
Os tradicionais representantes da política mais conservadora no Brasil são o PPB e o PFL. As duas siglas derivam diretamente da Arena, partido que deu sustentação ao regime militar no Brasil (1964-1985). No momento, essas agremiações têm seis governos.
Em termos numéricos, podem sair mais ou menos como entraram. Garantiram a manutenção de dois Estados no primeiro turno -Bahia e Tocantins, com os pefelistas Paulo Souto e Marcelo Miranda, respectivamente.
PFL e PPB têm chances ainda em outros cinco Estados: Maranhão, Piauí, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe. Mas a surpresa ocorre porque alguns de seus nomes favoritos não tiveram o desempenho esperado nas urnas.
Além de Paulo Maluf, até um mês atrás dado como presença certa no segundo turno paulista, o PPB assiste outro de seus líderes importantes, o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, passar por dificuldades.
Pesquisas mostravam que Amin venceria com folga a reeleição catarinense. Ontem, quando as urnas começaram a ser apuradas, ficou claro que haverá segundo turno em Santa Catarina. Mesmo que vença depois, o poder da dupla PPB-PFL (essencialmente a antiga Arena) já não domina mais tão facilmente esse Estado.
Uma dessas evidências ficou mais aparente ainda na disputa pelas vagas do Senado em Santa Catarina. Uma delas era dada como certa para Paulinho Bornhausen, filho e herdeiro político do presidente nacional do PFL, o senador Jorge Bornhausen. Até a conclusão desta edição, era incerto se Paulinho conseguiria a vaga.
Mesmo em Estados em que o PFL teve um desempenho satisfatório, como a Bahia, o PT teve também uma votação surpreendente. Com mais de 50% dos votos apurados para o governo baiano, o candidato petista, Jacques Wagner, tinha 40% dos votos válidos. Mesmo que perca, terá sido uma votação histórica para o PT no Estado dominado pelo maior cacique pefelista, o agora senador eleito Antonio Carlos Magalhães.
A centro-direita também contava com uma vitória fácil no Piauí, um dos Estados mais pobres do país, governado atualmente por Hugo Napoleão, um dos dirigentes mais importantes do PFL. Até a conclusão desta edição, era incerto se Napoleão conseguiria se reeleger ou se o Piauí ficaria nas mãos do petista Wellington Dias.

PSDB
Enquanto a centro-direita fica desidratada e o PT cresce em todo o país, o PSDB consegue manter uma posição forte no Sudeste. Em Minas Gerais, conquistou o governo estadual no primeiro turno, com Aécio Neves.
Em São Paulo, depois de um início de campanha tímido, o governador Geraldo Alckmin conseguiu passar para o segundo turno e entra com chances de manter o Estado com o maior número de eleitores do país para os tucanos.

PMDB
Cada vez mais um partido do interior, o PMDB entrou nesta eleição com seis governos. Ontem, até a conclusão desta edição, o partido havia garantido com segurança apenas um Estado (Pernambuco) no primeiro turno.
Os candidatos peemedebistas ainda têm chances em pelo menos outros quatro Estados, onde disputam de forma competitiva.
Mas o partido segue fracionado, pois há políticos que poderão eventualmente apoiar um governo Lula -embora o PMDB tenha se coligado oficialmente a Serra.
Jarbas Vasconcelos, governador reeleito de Pernambuco, é o mais serrista dos governadores do PMDB. Já Roberto Requião, que disputa o segundo turno no Paraná, tem um canal de diálogo aberto com o PT.

Perdas do PT
Apesar do bom desempenho em dez Estados com seus candidatos ao governo, o PT ainda corre o risco de sofrer alguns revezes graves. É o caso da disputa no Rio Grande do Sul, onde a sigla não permitiu ao atual governador, Olívio Dutra, disputar a reeleição.
Para o lugar de Dutra na disputa o PT elegeu Tarso Genro, que irá disputar o segundo turno contra Germano Rigotto, do PMDB.
O Rio Grande do Sul é o maior Estado atualmente governado pelo PT. Se o partido perder exatamente esse governo, terá sido reprovado onde mais precisaria de aprovação.
A esperança de petistas é que num eventual segundo turno entre Lula e Serra o presidenciável do PT ajude nas disputas estaduais -como já ocorreu no primeiro turno.
Em três Estados importantes em que o PT poderá disputar o segundo turno (Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro), Lula terá participação importante para alavancar os candidatos da sigla. A tese dos petistas é que ficará mais fácil estar ao lado de Lula do que ter o apoio de Serra, que terminou com muito menos votos.
Essa lógica, entretanto, é contestada pelos candidatos adversários do PT. Acham que o tempo de TV será igual durante a propaganda eleitoral do segundo turno e o prestígio de Lula poderá se erodir durante a campanha.


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