|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BALANÇO
PT tem votação expressiva na eleição para dez governos estaduais, no melhor desempenho da história da sigla
Centro-direita perde espaço nos Estados
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As disputas pelos governos dos
26 Estados e do Distrito Federal
revelam dois fatos relevantes. A
centro-direita continua tendo seu
espaço reduzido, e a esquerda segue lentamente avançando nas
administrações do país inteiro.
O exemplo mais forte da fragilização da centro-direita é o seu
maior representante no Sudeste,
Paulo Maluf (PPB), ter ficado de
fora da disputa final pelo governo
de São Paulo.
No caso da esquerda, os números do PT são expressivos. O partido entrou nesta eleição governando cinco Estados (Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul).
Até a conclusão desta edição, os
números parciais da apuração
mostravam que os petistas haviam garantido a manutenção de
um governo e disputavam mais
nove -ainda no primeiro turno
ou de passar para o segundo.
No caso da centro-direita, os votos já vinham definhando há algum tempo por causa da ocupação do centro por parte do PSDB e
do PMDB.
Os tradicionais representantes
da política mais conservadora no
Brasil são o PPB e o PFL. As duas
siglas derivam diretamente da
Arena, partido que deu sustentação ao regime militar no Brasil
(1964-1985). No momento, essas
agremiações têm seis governos.
Em termos numéricos, podem
sair mais ou menos como entraram. Garantiram a manutenção
de dois Estados no primeiro turno -Bahia e Tocantins, com os
pefelistas Paulo Souto e Marcelo
Miranda, respectivamente.
PFL e PPB têm chances ainda
em outros cinco Estados: Maranhão, Piauí, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe. Mas a surpresa
ocorre porque alguns de seus nomes favoritos não tiveram o desempenho esperado nas urnas.
Além de Paulo Maluf, até um
mês atrás dado como presença
certa no segundo turno paulista, o
PPB assiste outro de seus líderes
importantes, o governador de
Santa Catarina, Esperidião Amin,
passar por dificuldades.
Pesquisas mostravam que
Amin venceria com folga a reeleição catarinense. Ontem, quando
as urnas começaram a ser apuradas, ficou claro que haverá segundo turno em Santa Catarina. Mesmo que vença depois, o poder da
dupla PPB-PFL (essencialmente a
antiga Arena) já não domina mais
tão facilmente esse Estado.
Uma dessas evidências ficou
mais aparente ainda na disputa
pelas vagas do Senado em Santa
Catarina. Uma delas era dada como certa para Paulinho Bornhausen, filho e herdeiro político do
presidente nacional do PFL, o senador Jorge Bornhausen. Até a
conclusão desta edição, era incerto se Paulinho conseguiria a vaga.
Mesmo em Estados em que o
PFL teve um desempenho satisfatório, como a Bahia, o PT teve
também uma votação surpreendente. Com mais de 50% dos votos apurados para o governo baiano, o candidato petista, Jacques
Wagner, tinha 40% dos votos válidos. Mesmo que perca, terá sido
uma votação histórica para o PT
no Estado dominado pelo maior
cacique pefelista, o agora senador
eleito Antonio Carlos Magalhães.
A centro-direita também contava com uma vitória fácil no Piauí,
um dos Estados mais pobres do
país, governado atualmente por
Hugo Napoleão, um dos dirigentes mais importantes do PFL. Até
a conclusão desta edição, era incerto se Napoleão conseguiria se
reeleger ou se o Piauí ficaria nas
mãos do petista Wellington Dias.
PSDB
Enquanto a centro-direita fica
desidratada e o PT cresce em todo
o país, o PSDB consegue manter
uma posição forte no Sudeste. Em
Minas Gerais, conquistou o governo estadual no primeiro turno,
com Aécio Neves.
Em São Paulo, depois de um início de campanha tímido, o governador Geraldo Alckmin conseguiu passar para o segundo turno
e entra com chances de manter o
Estado com o maior número de
eleitores do país para os tucanos.
PMDB
Cada vez mais um partido do interior, o PMDB entrou nesta eleição com seis governos. Ontem,
até a conclusão desta edição, o
partido havia garantido com segurança apenas um Estado (Pernambuco) no primeiro turno.
Os candidatos peemedebistas
ainda têm chances em pelo menos outros quatro Estados, onde
disputam de forma competitiva.
Mas o partido segue fracionado,
pois há políticos que poderão
eventualmente apoiar um governo Lula -embora o PMDB tenha
se coligado oficialmente a Serra.
Jarbas Vasconcelos, governador
reeleito de Pernambuco, é o mais
serrista dos governadores do
PMDB. Já Roberto Requião, que
disputa o segundo turno no Paraná, tem um canal de diálogo aberto com o PT.
Perdas do PT
Apesar do bom desempenho
em dez Estados com seus candidatos ao governo, o PT ainda corre o risco de sofrer alguns revezes
graves. É o caso da disputa no Rio
Grande do Sul, onde a sigla não
permitiu ao atual governador,
Olívio Dutra, disputar a reeleição.
Para o lugar de Dutra na disputa
o PT elegeu Tarso Genro, que irá
disputar o segundo turno contra
Germano Rigotto, do PMDB.
O Rio Grande do Sul é o maior
Estado atualmente governado pelo PT. Se o partido perder exatamente esse governo, terá sido reprovado onde mais precisaria de
aprovação.
A esperança de petistas é que
num eventual segundo turno entre Lula e Serra o presidenciável
do PT ajude nas disputas estaduais -como já ocorreu no primeiro turno.
Em três Estados importantes
em que o PT poderá disputar o segundo turno (Rio Grande do Sul,
São Paulo e Rio de Janeiro), Lula
terá participação importante para
alavancar os candidatos da sigla.
A tese dos petistas é que ficará
mais fácil estar ao lado de Lula do
que ter o apoio de Serra, que terminou com muito menos votos.
Essa lógica, entretanto, é contestada pelos candidatos adversários
do PT. Acham que o tempo de TV
será igual durante a propaganda
eleitoral do segundo turno e o
prestígio de Lula poderá se erodir
durante a campanha.
Texto Anterior: Análise: Malufismo enfrenta decadência pós-Pitta Próximo Texto: Mato Grosso do Sul: Rompimento com o vice tira de Zeca do PT a vitória no 1º turno Índice
|