KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O grupo de Tasso Jereissati sofreu uma derrota política na eleição cearense. O que parecia ser uma vitória fácil no primeiro turno tornou-se uma disputa voto a voto para definir o pleito.
Até o início da madrugada de hoje, com 96,6% dos votos apurados, o tucano Lúcio Alcântara, 59, estava com 50,1% dos votos válidos, próximo de definir a eleição no primeiro turno.
Se não conseguisse ultrapassar a barreira, iria disputar o segundo turno com o petista José Aírton Cirilo, 45, que estava com 27,9% dos votos válidos. De todo modo, a dificuldade para vencer a eleição já no primeiro turno foi uma surpresa para o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), 53, que teve pela primeira vez sua liderança questionada em 16 anos de poder à frente do Estado do Ceará.
Líder absoluto nas pesquisas para o Senado, para o qual se elegeu, Tasso usou todo o seu prestígio para ser o principal cabo eleitoral de Lúcio.
A vitória de Lúcio no primeiro turno, até três semanas atrás, parecia certa, mesmo com os ataques dos adversários ao governo tucano do Estado.
A queda de Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas de intenção de voto e o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) porém, mudaram o jogo. O até então inexpressivo José Aírton, que aparecia nas pesquisas de opinião com pouco mais de 5% dos votos, começou a subir, com uma propaganda que o vinculava diretamente a Lula. "Lula lá e José Aírton cá" foi o slogan usado pelo petista.
Ontem, durante a eleição, militantes do PT eram maioria nas ruas e tentavam conquistar o voto dos indecisos. A votação foi encerrada no Estado com duas horas de atraso, às 19h, por causa das grandes filas.
Nem mesmo o PT acreditava no possível crescimento do partido antes das eleições. José Aírton não é a maior liderança do partido no Estado. Vereador em Fortaleza, ele aproveitou o vácuo deixado pelos políticos mais populares do partido, que preferiram garantir mandatos de deputado federal e estadual.
A probabilidade da eleição ao governo ser decidida no segundo turno assustou os tucanos, acostumados com a vitória no primeiro turno desde a chegada de Tasso ao poder, em 1986.

Consolidação
Desde então, o grupo, formado por Tasso e Ciro, consolidou uma espécie de oligarquia moderna, que conta com o apoio da maioria dos prefeitos e com lideranças até de partidos da oposição.
O termômetro para o susto levado pelos tucanos foram os ataques que começaram a ser desferidos contra o petista. Um vereador do município de Icapuí, administrado por José Aírton duas vezes, foi o autor de denúncias encaminhadas ao Ministério Público e exploradas na imprensa, em especial pela TV Jangadeiro, emissora que pertence a Tasso.
Para não vincular Lúcio às denúncias, as acusações não eram feitas no programa do tucano; candidatos a deputado foram usados para difundi-las.


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