São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Presidenciável acompanha governador de São Paulo durante a votação para aproveitar sua popularidade
Serra cola em Alckmin na última hora

FÁBIO VICTOR
JULIA DUAILIBI

DA REPORTAGEM LOCAL

Colar sua imagem à do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, virtual líder do primeiro turno no Estado com maior peso eleitoral no país, foi a última cartada do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, na tentativa de passar para o segundo turno das eleições.
Ontem de manhã, a partir de uma decisão do comando nacional da campanha tucana, Alckmin acompanhou Serra nos 48 minutos em que o presidenciável esteve no seu local de votação, o colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros (zona oeste de São Paulo).
A todo instante, os assessores de Serra chamavam Alckmin para ficar colado ao candidato tucano à sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
"Cadê o governador? Governador!", gritavam os assessores de Serra cada vez que Alckmin, por causa do tumulto no local, se distanciava do colega e das câmeras.
O próprio presidenciável, ao chegar à fila de sua seção eleitoral e não avistar o governador, perguntou: "Cadê o Alckmin?".
Os dois -e mais a mulher de Serra, Mônica- entraram juntos na sala de votação.
Lá dentro, posaram para votos fazendo o "V" da vitória, e o candidato ao Planalto, na autopropaganda que fez antes de votar, citou o nome do governador ("Agora vou votar em mim e no Geraldo"). Foi repreendido pelo presidente da seção (a 69ª da 251ª zona) -instantes depois, voltaria a ser advertido, ao insistir na campanha na sala de votação, proibida pela lei eleitoral.
Na entrevista coletiva que deu do lado de fora do colégio, Serra voltar a citar Alckmin: "São dois 45 [o número de ambos". Para governador, Alckmin, e para presidente, Serra".
Ao deixar o local, Serra chamou o governador num canto e cochichou, sem concluir a frase: "Desculpe ter te...". Alckmin minimizou o peso da ajuda: "Não, o que é isso. Tranquilo. Não foi nada".
Antes de irem juntos ao colégio, Alckmin visitou Serra na casa do presidenciável. A ânsia de aproximação, porém, foi detonada anteontem, quando o governador alterou sua agenda a pedido do comando de campanha do presidenciável para incluir três atividades com a presença dos dois.
Juntos, eles fizeram uma caminhada no Horto Florestal, foram ao bairro da Mooca e visitaram o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes.
A situação é inversa à vivida pelo PT, cujo candidato ao governo de São Paulo, José Genoino, é quem se apóia no candidato à Presidência do partido, Luiz Inácio Lula da Silva.
O forte crescimento de Genoino na reta final do segundo turno se deveu, em grande parte, à "carona" que ele pegou no alto índice eleitoral de Lula.

Gripe e febre
Acometido por uma forte gripe, Serra passou a maior parte do dia em casa. Saiu duas vezes, ambas de manhã e rapidamente.
Notívago incorrigível -costuma acordar ao meio-dia-, levantou-se bem mais cedo que o normal, às 8h55.
O resfriado causou uma ligeira rouquidão no candidato, que chamou a fonoaudióloga Marta de Andrada e Silva para ir à sua casa logo cedo, às 9h50. A fisioterapeuta Mônica Tilly também esteve no local -teria ido fazer uma massagem no presidenciável.
Na primeira vez que saiu de casa, às 10h30, o tucano abortou uma caminhada até o colégio onde vota, próximo à sua residência, por causa do assédio de cerca de 50 repórteres. Foi de carro.
Voltou para casa às 11h25 e tornou a sair ao meio-dia, para acompanhar os filhos, Verônica e Luciano, que saíram para votar.
Ao meio-dia, questionado sobre seu resfriado, disse: "A gripe continua, mas o ânimo e a alegria são maiores". Ele negou que estivesse com febre. Mas, segundo a Folha apurou, a gripe piorou durante a tarde, e o candidato ficou febril.
A fonoaudióloga voltou à casa de Serra à tarde com um aparelho de inalação, provavelmente para introduzir algum medicamento por via respiratória.
O fato de estar adoentado também fez com que ele falasse pouco. "Hoje não é dia de candidato falar. Quem fala hoje é o povo, que vai dizer nas urnas qual é a sua escolha", repetiu o tucano nas poucas entrevistas que deu.
Serra procurou mostrar confiança no seu desempenho nas urnas. "Vamos para o segundo turno. Serão 20 dias de debate, não apenas sobre os problemas brasileiros, mas sobre como resolver esses problemas. O segundo turno é fundamental para isso."
O candidato se disse emocionado com as eleições. "Toda eleição me toca de perto, porque lutei contra a ditadura militar para que tivéssemos eleições livres no Brasil. E nunca houve uma eleição livre como esta e como a eleição passada. O Brasil está caminhando para o aperfeiçoamento de sua democracia", declarou.



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