São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Tucano quer reunificar base de apoio de FHC e aposta na força dos candidatos do PSDB aos governos estaduais

Serra vai mudar comando de campanha

RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO

O desafio do tucano José Serra no segundo turno é restaurar, em apenas três semanas, a credibilidade de uma candidatura -que passou muito tempo desacreditada no meio político desde sua oficialização, em junho- entre os próprios aliados políticos do presidenciável do PSDB.
Para ganhar mais musculatura política, Serra deve fazer mudanças no comando da campanha, sem tirar ninguém do lugar que ocupa -o que tem sido uma rotina no comitê do candidato. O presidente nacional do PSDB, deputado federal José Anibal (PSDB), livre da campanha para o Senado, terá participação mais ativa.
Com as mudanças, perde poder sobretudo o núcleo de Brasília da campanha, comandado pelo deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG) e pelo coordenador-executivo Milton Seligman. Pimenta, segundo a avaliação no comitê do candidato, nunca chegou a entrar propriamente na campanha.
A ele caberia a articulação de bastidor e assumir a linha de frente da campanha. Mas nem sempre era encontrado quando o comando da campanha precisava dele e em algumas oportunidades recusou-se a dar entrevistas a emissoras de rádio, mandando os jornalistas "procurar o Zé Aníbal".
Pimenta e Seligman tiveram atritos com a equipe de marketing do candidato. Em um desabafo, o publicitário Nizan Guanaes chegou a dizer a Serra que ele estava sozinho, abandonado politicamente. Em geral, o comitê avalia que os políticos só sabem atrapalhar -caso de Alberto Goldman (PSDB-SP), um dos críticos do programa de TV quando Serra não conseguia superar a faixa dos 19 pontos nas pesquisas.
Nesse quadro, ganha mais força ainda o núcleo paulista da campanha, integrado por João Roberto Vieira da Costa, secretário de Comunicação de Governo licenciado, os publicitários Nizan Guanaes e Nelson Biondi, o cientista político Antônio Lavareda e o economista José Roberto Afonso, diretor licenciado do BNDES.
A esse grupo coube traçar a estratégia da campanha -sobretudo do marketing político, considerado o principal fator da passagem de Serra para o segundo turno, de vez que a contribuição política é considerada quase nula.
Brincadeira recorrente no comitê tucano: não fossem os programas de TV, Serra chegaria ao final da eleição com índices de intenção de voto próximos aos de José Maria, o candidato do PSTU.
A aposta de Serra para agora dar musculatura política à campanha são os governadores eleitos no primeiro turno e os candidatos considerados fortes para o segundo -entre eles, Geraldo Alckmin (SP), Jarbas Vasconcelos (PE), Marconi Perillo (GO) e, sobretudo, Aécio Neves (MG).
Ao longo da campanha, Aécio desenvolveu uma tática tortuosa, chegando a acenar para as candidaturas adversárias de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS). Causou a impressão, no comitê de Serra, de que Aécio não estava interessado na eleição do candidato de seu partido.
Serra pensava encerrar a campanha num grande comício em Belo Horizonte, na quarta passada. Cancelou porque Aécio iria a um debate na TV entre os candidatos a governador de Minas. Aécio não foi ao debate, e Serra teve de improvisar um comício de encerramento em Campinas (SP).
Depois de apostar todas as fichas na TV, Serra precisa agora reunificar a base de apoio político destroçada ao longo da construção da candidatura. Tem como certo a volta de praticamente todo o PFL, com uma exceção: o senador eleito Antonio Carlos Magalhães (BA), que, no entanto, deve liberar os pefelistas baianos.
Além disso, torcia ontem para que o PT passasse para o segundo turno da eleição no Rio de Janeiro. Isso, segundo avaliação da campanha, praticamente jogará Anthony Garotinho no colo da candidatura do tucano.



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