São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Com cronograma de pagamento atrasado, equipe que faz programa de TV de Marta tira folga; no Rio, também há problemas

PT admite problema financeiro na campanha

CATIA SEABRA
CHICO DE GOIS
REPORTAGEM LOCAL

A vantagem de quase oito pontos de José Serra (PSDB) sobre a prefeita Marta Suplicy (PT) no primeiro turno trouxe à tona problemas do comitê petista.
Além da preocupação quanto aos rumos da campanha, materializada na reunião organizada terça-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o próprio PT admite dificuldades de honrar dívidas acumuladas até agora.
Por causa de um atraso no cronograma de pagamento à produtora, o escritório do marqueteiro Duda Mendonça, responsável pelo programa de Marta no rádio e na TV, praticamente fechou. Além do próprio Duda, membros de sua equipe tiraram folga em pleno calor da disputa. Ainda ontem, parte da equipe estava de folga. O PT corre sério risco de encerrar sua maior campanha no vermelho, não só em São Paulo, mas em várias cidades do país.
Secretário de Relações Institucionais do PT, Paulo Ferreira reconhece que há dificuldades em São Paulo, mas faz questão de frisar que não são restritas à campanha da cidade, muito menos ao PT. "Essa é uma campanha grande. Todos os partidos vão sair delas endividados", disse Ferreira.
O próprio presidente do PT, José Genoino, admite que o partido está com dificuldades para honrar os compromissos da disputa.
Esse cenário contrasta com a exuberância da campanha no primeiro turno, quando, num único jantar, na Casa Fasano, foram arrecadados R$ 3 milhões.
Pelos números do Datafolha, 20% das casas da cidade receberam a visita de profissionais contratados pelo comitê de Marta. Segundo cálculos conservadores, foram gastos R$ 8 milhões com os cerca de 4.000 visitadores.
No início da disputa, o comando de campanha de Marta previu um gasto de R$ 15 milhões. O coordenador-geral da campanha e presidente municipal do PT, Ítalo Cardoso, disse na última segunda-feira que um pedido de suplementação estava em estudo.
A cogitação mostra que a campanha teria consumido, no primeiro turno, todo o orçamento planejado para a eleição. Ontem, a assessoria da campanha petista disse que, "por enquanto", o pedido não será feito.
No Rio, o candidato do PT em Nova Iguaçu, Lindberg Farias, também reconhece que não conseguiu cumprir o cronograma de pagamentos do primeiro turno. Para o PT, a candidatura do deputado é tão importante que, ontem mesmo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou participação no programa de Lindberg.
Apesar disso, a produtora do programa não tem recebido em dia. Segundo Lindberg, esse problema será discutido com a equipe ainda nesta semana.
Para hoje, o PT convocou os 24 candidatos do partido que concorrem no segundo turno. Entre os participantes do encontro, estarão o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e o coordenador do Comitê de Empresários, José Carlos de Almeida.
A Executiva Nacional do partido conversará com os candidatos sobre a estratégia no segundo turno. A expectativa é que Delúbio e Almeida reforcem a estrutura de arrecadação. Para os que chegam com o pires na mão, Genoino avisa: "Nós estamos com dificuldade. É natural que o pessoal peça e é natural que a gente diga que, se tiver condições, vai ajudar. Se não, vamos ganhar na política mesmo assim". E completa: "Se a gente tivesse [dinheiro], ninguém ficaria com o pires".
Na coordenação da campanha petista, há quem aponte que foi um erro a prefeita reconhecer, desde o início da campanha, que há muita coisa a ser feita na saúde. Para uma pessoa próxima ao comando petista, a tática da humildade de admitir um erro gerou munição aos adversários.
Sobre a participação mais ativa de dirigentes nacionais na campanha de Marta, essa mesma fonte avaliou que eles "demoraram" a vir ajudar e só o fazem agora porque "a água atingiu os joelhos deles também". Traduzindo: os petistas de Brasília perceberam que vão ter de trabalhar mais intensamente por Marta para não dificultar a vida de Lula em 2006.
Um outro integrante da campanha de Marta disse que a coordenação não aceitará ingerência de petistas de Brasília.


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