São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Deputado que presidiu CPI da Pirataria é acusado de tentar extorquir empresário preso pela Polícia Federal

STF instaura inquérito contra Medeiros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A pedido do procurador-geral da República, Claudio Fonteles, o STF (Supremo Tribunal Federal) instaurou ontem um inquérito para investigar a conduta do deputado federal Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP) e de seus assessores na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pirataria durante o episódio da prisão do empresário Law Kim Chong, efetuada em junho deste ano.
No pedido enviado ao STF, Fonteles se baseia em um depoimento de Pedro Lindolfo Sarlo, apontado pela Polícia Federal como parceiro de Chong em uma tentativa de subornar o deputado para livrar o empresário no relatório final da CPI. Em seu relato, Sarlo rebate a acusação e sustenta que foi Medeiros quem tentou obter dinheiro de Chong.
De início, as investigações estarão focadas em dois assessores: Antonio Fernando de Miranda, policial rodoviário federal que auxiliava a CPI, e Regis Flaquer, do gabinete de Medeiros. Fonteles pede que a PF confirme quais as funções exercidas por eles na época em que Chong foi monitorado pela CPI da Pirataria. Os dois assessores mantiveram contato com Sarlo durante meses.
No pedido, Fonteles deixa a critério da Polícia Federal se o deputado Medeiros deverá ou não prestar depoimento sobre o caso.

Prisão
O empresário Law Kim Chong foi preso no dia 1º de junho momentos depois de supostamente pagar propina ao deputado Medeiros. Os assessores do deputado registraram em vídeo os encontros com Sarlo, antes de repassarem o material para a Polícia Federal, que realizou a prisão.
Segundo a tese de Sarlo, acolhida pelo procurador-geral Claudio Fonteles, as fitas contendo conversas telefônicas e os vídeos dos encontros podem ter tido trechos suprimidos. E esses trechos, segundo Sarlo, comprometeriam o deputado do PL paulista.
Um laudo pericial em poder do Ministério Público Federal descreve a supressão de trechos nos diálogos apresentados pela Comissão Parlamentar de Inquérito.
Ontem, o deputado disse que agiu de acordo com a lei e sugeriu que Chong utilizou de poder financeiro para conseguir a abertura de inquérito pela Procuradoria Geral da República. A assessoria do órgão informou que o procedimento serve para esclarecer os fatos.

Relatório
O relatório da CPI aponta Chong como um dos principais contrabandistas do país. Segundo seu advogado, Luiz Fernando Pacheco, o empresário faz apenas a locação de estandes em dois imóveis no centro de São Paulo.
O objetivo do inquérito é verificar se o deputado cometeu crime nas investigações que fez sobre Chong. Por isso o foco em seus assessores que negociaram diretamente com Pedro Lindolfo Sarlo.
"As degravações das escutas (...) demonstram a extensa negociação estabelecida entre as pessoas aqui já referidas, a fim de resolver o valor a ser pago para diminuir o problema de Law na CPI e obter um relatório final que não o incriminasse em demasia", diz Fonteles no texto enviado ao STF.
Há investigações contra Chong desde 1997, segundo a CPI. Uma delas é feita pela 7ª Vara Criminal Federal, cujo titular foi o juiz Ali Mazloum, acusado na Operação Anaconda. A operação da Polícia Federal prendeu um juiz e integrantes da PF acusados de montar esquema para venda de sentenças judiciais. Na operação, conversas de Chong foram grampeadas.
(IURI DANTAS)


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