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CAMPO MINADO
Fazenda é para reforma agrária; sem-terra protestam contra o Incra
MST invade área comprada por R$ 165 mi pelo governo
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Cerca de 500 famílias ligadas ao
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem a fazenda Itamarati 2,
comprada por R$ 165,3 milhões
em maio deste ano pelo governo
federal, em Ponta Porã (MS).
Segundo o MST, a invasão ocorreu em protesto contra o novo
modelo de assentamento proposto pelo Incra (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária). Conforme a proposta, anunciada pelo Incra em Mato Grosso
do Sul, em vez de entregar lotes de
até 23 hectares a cada uma das
2.048 famílias que serão assentadas na Itamarati 2, o governo distribuirá "sítios familiares" de, no
máximo, três hectares. A propriedade tem 24,9 mil hectares.
O Incra pretende reservar uma
área de 18,4 mil hectares para o
projeto. Dentro dela, cada assentado terá direito a nove hectares.
A exploração econômica da terra,
porém, deverá ser feita em sociedade com as outras famílias, ou
seja, ninguém pode ter um projeto individual. O modelo é chamado pelo Incra de "sistema sócio-proprietário de assentamento".
"Não concordamos que sejam
só três hectares. Não terá espaço
para toda a família. Quando o filho do assentado completar 15
anos, terá que voltar para o acampamento na beira da estrada?",
questiona o coordenador estadual do MST, Márcio Bissoli. Segundo ele, as famílias que entraram na fazenda já começaram a
plantar ontem.
O superintendente do Incra em
Mato Grosso do Sul, Luiz Carlos
Bonelli, afirmou que o modelo está sendo implantado também em
um assentamento do Rio Grande
do Norte e em outro no Paraná.
Segundo o superintendente, o
MST é o maior defensor da proposta. "Isso é mentira", rebateu o
coordenador do MST.
Bonelli disse que a produção
agrícola feita em sociedade entre
os assentados é o modo de viabilizar a reforma agrária no Brasil.
Ele afirmou que o projeto da Itamarati 2 é considerado modelo
para o Brasil pelo MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário).
A Agência Folha procurou o
MDA para que confirmasse essa
informação, mas a assessoria do
ministério, porém, pediu que a reportagem procurasse o Incra em
Mato Grosso de Sul. Em maio,
quando compraram a fazenda, o
Incra e o MDA divulgaram que as
famílias receberiam "sítios de 2,5
hectares". Ontem, pela assessoria,
Bonelli disse que não considera
invasão a entrada dos sem-terra
na fazenda porque eles vão ser assentados na área.
O MST também criticou a compra da fazenda Itamarati 2. "É
muito dinheiro [gasto na aquisição da propriedade] para pouca
utilidade na reforma agrária",
afirmou Bissoli.
Na Itamarati 2 deverão ser assentadas 720 famílias do MST, 720
da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), 328 da
CUT (Central Única dos Trabalhadores), 180 da FAF (Federação
da Agricultura Familiar) e cem
ex-trabalhadores da fazenda.
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