São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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CAMPO MINADO

Fazenda é para reforma agrária; sem-terra protestam contra o Incra

MST invade área comprada por R$ 165 mi pelo governo

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Cerca de 500 famílias ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem a fazenda Itamarati 2, comprada por R$ 165,3 milhões em maio deste ano pelo governo federal, em Ponta Porã (MS).
Segundo o MST, a invasão ocorreu em protesto contra o novo modelo de assentamento proposto pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Conforme a proposta, anunciada pelo Incra em Mato Grosso do Sul, em vez de entregar lotes de até 23 hectares a cada uma das 2.048 famílias que serão assentadas na Itamarati 2, o governo distribuirá "sítios familiares" de, no máximo, três hectares. A propriedade tem 24,9 mil hectares.
O Incra pretende reservar uma área de 18,4 mil hectares para o projeto. Dentro dela, cada assentado terá direito a nove hectares. A exploração econômica da terra, porém, deverá ser feita em sociedade com as outras famílias, ou seja, ninguém pode ter um projeto individual. O modelo é chamado pelo Incra de "sistema sócio-proprietário de assentamento".
"Não concordamos que sejam só três hectares. Não terá espaço para toda a família. Quando o filho do assentado completar 15 anos, terá que voltar para o acampamento na beira da estrada?", questiona o coordenador estadual do MST, Márcio Bissoli. Segundo ele, as famílias que entraram na fazenda já começaram a plantar ontem.
O superintendente do Incra em Mato Grosso do Sul, Luiz Carlos Bonelli, afirmou que o modelo está sendo implantado também em um assentamento do Rio Grande do Norte e em outro no Paraná.
Segundo o superintendente, o MST é o maior defensor da proposta. "Isso é mentira", rebateu o coordenador do MST.
Bonelli disse que a produção agrícola feita em sociedade entre os assentados é o modo de viabilizar a reforma agrária no Brasil. Ele afirmou que o projeto da Itamarati 2 é considerado modelo para o Brasil pelo MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário).
A Agência Folha procurou o MDA para que confirmasse essa informação, mas a assessoria do ministério, porém, pediu que a reportagem procurasse o Incra em Mato Grosso de Sul. Em maio, quando compraram a fazenda, o Incra e o MDA divulgaram que as famílias receberiam "sítios de 2,5 hectares". Ontem, pela assessoria, Bonelli disse que não considera invasão a entrada dos sem-terra na fazenda porque eles vão ser assentados na área.
O MST também criticou a compra da fazenda Itamarati 2. "É muito dinheiro [gasto na aquisição da propriedade] para pouca utilidade na reforma agrária", afirmou Bissoli.
Na Itamarati 2 deverão ser assentadas 720 famílias do MST, 720 da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), 328 da CUT (Central Única dos Trabalhadores), 180 da FAF (Federação da Agricultura Familiar) e cem ex-trabalhadores da fazenda.


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