São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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TODA MÍDIA

O momento de Kerry

NELSON DE SÁ

Até o fim da tarde, o destaque no site do "New York Times" eram os ataques de George W. Bush a John Kerry, mas sublinhando tratar-se de esforço do presidente americano para responder à notícia que estava por vir.
E ela chegou a seguir, em manchete não só no site do "NYT", mas "Washington Post", "Wall Street Journal", "Financial Times" e muitos mais, pelo mundo. Do "WP":
- Hussein havia destruído as armas, diz inspetor.
Do "FT":
- Saddam "não tinha armas de destruição em massa".
Segundo o "WSJ", "o inspetor dos EUA não viu evidência de que o Iraque tenha produzido qualquer arma de destruição em massa após 1991".
E mais, "a capacidade de armas de Saddam se enfraqueceu durante os mais de dez anos de sanções da ONU".
A CNN foi na mesma linha, bem como a BBC. Mas não a Fox News: o canal pró-Bush seguiu martelando os ataques a Kerry, ontem mais pessoais e histéricos do que nunca.
 
A mesma Fox News passou o dia no esforço de destacar o desempenho do republicano Dick Cheney no debate dos candidatos a vice, anteontem.
O "NYT" ajuda a entender, com uma reportagem que reproduziu o e-mail do chefe da campanha republicana aos militantes, com instruções:
- Imediatamente depois do debate, visite pesquisas on line, salas de bate-papo e faça sua voz ser ouvida. As percepções das pessoas são formadas tanto nas conversas posteriores quanto pelos próprios debates.
Os democratas não ficaram atrás, aliás, com suas próprias equipes de "spin", voltadas a espalhar opiniões.
Segundo pesquisa divulgada anteontem na CNN, o número de pessoas que julgam que Kerry derrotou Bush, semana passada, no primeiro debate presidencial, cresceu muito ao longo dos dias. É o "spin", hoje parte vital das estruturas de campanha nos EUA.
Para amanhã, novo debate presidencial -e mais "spin".
 
Ainda sobre o debate de vices, o que mais ecoou não foi uma eventual vitória ou derrota. Foi que Cheney, no ar, sugeriu à audiência que checasse num site as suas afirmações.
Mas deu o endereço errado e o site indicado se viu inundado por cem acessos por segundo -e acabou encaminhando todos, por vingança, diretamente ao site do bilionário George Soros, que é antiBush.
Na página de Soros, liam-se mensagens como:
- Nós não podemos reeleger Bush... Bush põe em perigo a nossa segurança...
 
Tudo dá errado para Bush, em várias frentes. Até a Fox News anda apanhando.
Segundo notícia no "NYT", o canal errou feio na semana passada, após o debate presidencial, citando declarações atribuídas falsamente a Kerry, tipo "eu sou metrossexual, ele é um caubói". Do porta-voz da Fox:
- Foi um erro estúpido.

SEM CENSURA

howardstern.com/Reprodução


Em campanha aberta contra George W, Bush, o radialista Howard Stern, um dos principais dos EUA, anunciou ontem que vai para o espaço. Seu programa vem sendo multado seguidamente pelo governo Bush, supostamente por usar palavrões, no que Stern qualifica de perseguição política (na ilustração acima, de seu site, ele proclama "eu quero minha liberdade"). A notícia foi destaque na home do "NYT", do "WP" e até do "WSJ":
- Stern vai mudar seu programa para a rádio por satélite, num negócio que vai liberar o polêmico âncora das normas federais sobre indecência.
De quebra, o "exílio" espacial vai render US$ 100 milhões por ano a Stern, durante cinco anos.

Sem intenção
E Colin Powell, secretário de Estado dos EUA, "falou com exclusividade" à Globo. Não foi além do que disse publicamente, mas uma nova declaração mais enfática acabou no "NYT":
- Os EUA entendem que o Brasil não tem nenhum interesse em uma arma nuclear; não tem o desejo e não tem planos, nem programas, nem intenção de se mover na direção de uma arma nuclear.

Voz global
O jornal "Christian Science Monitor", de Boston, deu editorial louvando as palavras de Powell -e saudando a "nova voz global do Brasil".

Inspeções, afinal
Os sites do "NYT" e do "WSJ", mais o "Miami Herald", traziam ontem a informação, dada por "diplomatas que falaram em condição de anonimato", de que o "Brasil concordou com a inspeção de suas instalações nucleares pela ONU".
E ainda tem quem diga que a viagem de Powell não foi para tratar de nada disso.

O grande prêmio
O "El País" deu editorial sobre as eleições. Disse que, "se ampliar os resultados no segundo turno, 2005 pode ser o ano de Lula". De todo modo, "é certo que não conseguiu o grande prêmio", ou seja, São Paulo.


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